Enquanto milhares de televisores estão ligados nas emoções que rolam na África do Sul, em Santo André, quatro torcedores (Maurício, Mariana, Guilherme e Gabriel) dedicam boa parte do tempo para imortalizar vibrações que acontecem no mais obscuro lado do futebol: as divisões intermediárias. Caçadores de aventura, eles viajam para desvendar as histórias mais esdrúxulas de clubes inexpressivos e registram tudo no site www.asmilcamisas.com.br.
Tudo começou em 2008, quando Maurício Penessor, publicitário, passou a catalogar as camisas que colecionava. "Minha mãe jogava fora porque não serviam mais. Depois que descobri, criei o site", conta o torcedor do Santo André.
Mau, como é conhecido, foge à regra e se encanta pelos pequenos clubes. "Para nós, o importante é torcer pelo time da sua cidade, seja lá qual for o tamanho dele. É atrás disso que vamos. Para contar histórias de clubes e de seus torcedores. Compramos ou ganhamos as camisas e publicamos o histórico no site", explica.
Hoje, já são 80 peças catalogadas, mas o grupo conta com mais de 200 uniformes. A missão é chegar em 1.000 camisas, como indica o nome do projeto. "Cada semana vamos a um ou dois clubes. Não temos pressa", conta Mariana, que é designer de moda.
A iniciativa, que era quase uma brincadeira, está cada vez mais profissional. Mesmo divulgado apenas nas páginas de relacionamento, o site conta com 30 mil visitas por mês. "Têm torcedores que nos procuram pedindo para visitarmos a cidade deles. Isso é motivo de orgulho", ressalta Mau.
Nem sempre o grupo viaja completo, mas quando isso acontece, Guilherme Uchida,que é fotógrafo, e Gabriel Pibe, que é editor do programa CQC, da Band, produzem clip sobre a viagem. "Fica um trabalho profissional e com qualidade. O vídeo também é publicado", afirma Mau.
O site não tem fins lucrativos e é um hobby do grupo, que tem paixão pelo futebol, independentemente de tamanho e conquistas. "É questão de identificação. Somos apaixonados por clubes que representam cidades e não por aqueles que viram uma simples marca seguida por milhares de pessoas sem uma razão aparente", finaliza Mau.
Relíquias valem mais do que dinheiro
Entre as mais de 200 camisas que compõem a coleção, avaliada em R$ 20 mil, os torcedores destacam duas com valor inestimável: a da Ferroviária de Assis e uma das primeiras camisas do Rio Branco de Americana, feita de algodão.
"São relíquias que temos e não vendemos por dinheiro nenhum. Elas simbolizam nossa luta", ressalta Mauricio Penessor, que ainda tem uma enorme coleção do Santo André, o clube do coração. "Do Ramalhão temos dezenas, uma mais importante que a outra", conta.
Além dos times brasileiros, principal alvo, o grupo também conta no repertório com estrangeiros, em especial os argentinos, outra paixão dos torcedores. "Eles são muito diferentes, gostam de futebol e por menor que seja o time, a cidade inteira apoia", explica Mauricio.
Entre os clubes estrangeiros estão os (quase) desconhecidos All Boys e Nueva Chicago (Argentina), The Strongest (Bolívia), Cienciano (Peru) e Wellington Phoenix (Nova Zelândia). (Anderson Fattori)
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