Economia Titulo Crise
Região empresta 18% menos do BNDES

Recessão na economia explica diminuição; empresa
pública concedeu R$ 244,9 milhões de janeiro a junho

Vinícius Claro
Especial para o Diário
15/08/2016 | 07:06
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Marcos Santos/USP Imagens


As companhias do Grande ABC diminuíram em 18% o volume de recursos emprestados do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) no primeiro semestre. De janeiro a junho foram financiados R$ 244,9 milhões. Nos primeiros seis meses de 2015, a quantia somava R$ 298,1 milhões, ou seja, R$ 53,1 milhões a mais. O número de contratos assinados por empresas da região também recuou, em 20%, totalizando 3.042 empréstimos. Foram 782 a menos que no primeiro semestre do ano passado.

Isso é o que aponta levantamento feito pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema e cedido com exclusividade ao Diário.

A maior retração nas quantias emprestadas se deu para as pequenas empresas das sete cidades. O volume caiu quase que pela metade. Com recuo de 45%, foram financiados R$ 27,1 milhões. Em quantidade de operações, houve queda de 23%, somando 721 acordos.

Para o segundo vice-diretor do Ciesp de Diadema, Donisete Duarte da Silva, o encolhimento se deve ao fato de a crise econômica impactar mais fortemente as companhias menores. “As pequenas firmas estão sem mercado. Elas não estão vendendo. Para que vão pegar o empréstimo, então?”, questiona.

O BNDES privilegia contratos que incentivem a inovação e o desenvolvimento regional e socioambiental. Como as finalidades são diferentes das de um banco comercial, que geralmente empresta recursos para que a companhia cubra dívidas ou tenha capital de giro, os juros são mais baixos mas, os critérios de avaliação, mais rígidos. Além disso, em tempos de crise, poucas são as empresas que estão na contramão do atual cenário econômico e buscam recursos para ampliar a produção, por exemplo.

O volume financiado às grandes companhias do Grande ABC, no entanto, também diminuiu. Foi a segunda maior redução, de 36%, somando R$ 59,3 milhões. O número de contratos, por outro lado, cresceu 114%, somando 304 acordos. A média por empréstimo passou de R$ 650 mil de janeiro a junho de 2015 para R$ 195 mil em 2016.

Silva avalia que o aumento das transações para os grandes empreendimentos se deve ao fato de, mesmo com a recessão da economia, essas empresas disponibilizarem de capital e buscarem empréstimos com juros mais baixos do que obteriam em bancos comerciais.

O gerente regional do Ciesp de Diadema, Dario Sanchez, destaca que a crise trouxe, ainda, mudanças para as companhias de grande porte, que deixaram de utilizar serviços terceirizados de médias e pequenas empresas. “Na busca por nova equação de composição de custos para atender o mercado restritivo, algumas atividades realizadas fora da organização retornaram para a própria empresa original”, afirma. Isso pode explicar, ao mesmo tempo, a redução dos pedidos das pequenas e o aumento da demanda das grandes, embora em quantias menores.

Outro dado que chama atenção é que, apesar de o total de contratos assinados por microempresas ter recuado 37% no semestre, para 1.496, a soma concedida é 7% maior do que no mesmo período no ano passado, e chega a R$ 125,7 milhões. A média, portanto, que em 2015 era de R$ 49,6 mil por empréstimo, passou a R$ 84 mil. Segundo Silva, fator que pode ter influenciado é o aumento do câmbio. “O dólar praticamente dobrou no último ano, o que gera investimento maior para a compra de equipamentos que, muitas vezes, são importados.”

Entre os setores, a indústria foi o que registrou a maior redução, de 24%, passando de 2.380 operações para 1.800. Em valores, a queda foi de 17%, para 93,3 milhões.

LÍDER - Dentre as modalidades de empréstimo, o Cartão BNDES era o serviço mais utilizado na região em 2015, por 3.388 empresas. Em 2016, teve recuo de 25%, para 2.452 firmas. O serviço também correspondia a 88% dos contratos e, agora, 83%.

De acordo com Sanchez, isso se deve ao fato de os maiores usuários do Cartão BNDES serem os micro e pequenos empreendedores. “A necessidade de aquisições ou investimentos não existiu. Difícil alguém pensar em investimento de recursos sem perspectiva de negócios.” 




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