Os monstros sempre estiveram no nosso imaginário como figuras capazes das mais aterrorizantes fatalidades. Jamais poderíamos esperar sensibilidades deles, até Spike Jonze ("Quero Ser John Malkovich") nos presentear com o belíssimo "Onde Vivem os Monstros". O longa estreia hoje nos cinemas brasileiros, mas apenas algumas salas da Capital apostaram em seu potencial.

O protagonista da produção é o jovem Max, garoto que abusa da criatividade para se divertir. Uma noite, ele tem uma discussão com a mãe e foge de casa. O menino sobe em um barco e parte sem rumo até chegar a misterioso reino habitado por monstros selvagens e falantes. Entre eles está Carol, que não se conforma que sua companheira KW está deixando o bando.

O menino se torna o novo rei local e tenta fazer com que todos redescubram a diversão como maneira de permanecerem unidos. Entre uma brincadeira e outra, há espaço para conversas um tanto quanto profundas - que levam a compreensões variadas a depender da idade do espectador.

Esse estranho universo visitado por Max é repleto de referências à sua própria personalidade. Com sutileza, o diretor faz com que cada um dos monstros tenha um pouco do garoto e o ajude compreender que o mundo vai além da bagunça. Questionamentos sobre a dificuldade dos relacionamentos e as diferenças entre os indivíduos se misturam as engraçadas cenas, caso de uma guerra de lama com proporções monstruosas.

O enredo se passa em meio a soberbos cenários e a curiosos figurinos. A roupa de lobo utilizada por Max desperta curiosidade e deve iniciar um inusitado culto por parte dos fãs.

Além de sua beleza cinematográfica, o longa chama a atenção pela criação dos personagens bestiais. Ao contrário do que esperamos do cinema do século 21, optou-se pelo método de atores vestirem as gigantes fantasias de mais de 2,5 metros. A técnica lembra muito os filmes com seres fantásticos da década de 1980. Computadores foram utilizados ao mínimo na criação das expressões.

Jonze traz aos cinemas texto baseado em livro homônimo do escritor norte-americano Maurice Sendak. A publicação conta com pouquíssimo texto, elevando ainda mais o esplêndido trabalho do diretor e Dave Eggers, que assinam o roteiro.

A sinopse da união entre um menino e seus amigos monstros pode soar como clichê para produções infantis, mas "Onde Vivem os Monstros" está longe disso. Ele fala da infância e relembra essa fase para o público adulto. Pode ser que não seja popular hoje, mas o certo é de que trata-se de uma obra-prima.