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Dubladores de personagens famosos vivem no ABC
Alessandro Soares
da Redaçao
26/08/2000 | 16:13
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As vozes mais conhecidas dos programas dublados na TV ou no vídeo podem ser de alguém que freqüenta os mesmos shoppings, cinemas e restaurantes da regiao que você, ou mesmo de seu vizinho. Sandra Bullock e Arnold Schwarzenegger estao em Santo André; Wilma Flintstone e Brutus em Sao Caetano. Os donos dessas vozes sao atores que vivem na regiao e dublam profissionalmente em alguns dos 18 estúdios existentes em Sao Paulo.

Em Sao Caetano, mora um dos pioneiros da dublagem, Mário Jorge, de 73 anos, que um dia ouviu um padre italiano recomendar no final dos anos 50: "Insista na dublagem. Na Itália, os dubladores ganham mais do que os atores". Hoje, Mário Jorge reconhece: "Imagina se eu ganhasse mais do que Clark Gable?".

Filmes, séries, documentários e novelas dublados estao chegando cada vez mais ao mercado, tanto na TV como em vídeo, um crescimento notado pelos profissionais do ramo, especialmente nestes últimos 12 meses. Conseqüentemente, aumenta o trabalho do dublador, que nao raras vezes passa manhas, tardes e noites dublando, em até cinco estúdios diferentes por dia, correria que nao permite que ele veja, ou melhor, ouça, o seu trabalho.

A atual luta da categoria, formada por atores profissionais, é por melhorias no pagamento da hora dublada, congelada desde 1997, e também pelo direito conexo, pelo qual o dublador passaria a receber um percentual do faturamento bruto da emissora sobre cada exibiçao do programa dublado. Hoje, o ator só recebe pela dublagem.

Dublagem é um trabalho de recriaçao vocal do ator sobre um personagem, que exige técnica de sincronismo e muita concentraçao. O sucesso é o reconhecimento do público. Um caso famoso aconteceu nos anos 70 com o seriado de TV Kojak, exibido pela Rede Globo. O ator que dublava o papel principal pediu aumento e a Herbert Richers, estúdio de dublagem, nao concedeu, substituindo-o. Na mesma semana, choveram cartas e telefonemas na Globo do Rio e o estúdio recontratou o dublador.

Esse profissional nao está imune às emoçoes. Dublando Amazing Stories, Guilherme Lopes, 40 anos, de Santo André, chorava e dublava o episódio sobre cientista que transferiu a mente para um computador e continuou amando sua mulher. "Temos de ter uma voz adequada e sensibilidade para interpretar", diz.

O ator César Marchetti, 31 anos, em cartaz em Mauá no papel título da peça Barao de Mauá, está se especializando em narraçao de documentários do canal Discovery e Infinito. "Narro de temas como medicina e animais até OVNIs e esoterismo", conta.

Os dubladores casados e com filhos têm fas especiais em casa. Caso de Denise Popitz, 36 anos, que atua no grupo Teco, faz teatro desde criança em Santo André e gosta de trabalhar com a voz. "Meu filho de 8 anos nao perde os episódios da Mulher-Aranha e se refere ao desenho dizendo: `Olha lá você, mae'.", diz. Mesmo caso da filha de 5 anos de Elza Gonçalves, 42 anos, a voz da Magali desde 1984. "Ela fala para todo mundo que a Magali é a mae dela", conta.

Já a tímida Márcia Gomes, 52 anos, solta a voz em estúdio. Mas em casa, onde vive há 49 anos em Sao Caetano, nao consegue falar como Wilma, Gato Félix ou Gasparzinho. "Minhas sobrinhas comentam na escola, levam amigas em casa e eu nao faço nada. Fico inibida", explica.




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