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Escultura de Nuno Ramos passa ao acervo do MAM
Do Diário do Grande ABC
05/05/1999 | 16:43
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Quando chegou à Bienal de Veneza de 1996, a "Craca" de Nuno Ramos sofreu sua primeira retaliaçao. A grande peça, que comporia a idéia de meteorito com um orifício que seria cavado no chao externo do prédio da mostra, ficou sem seu buraco e ganhou um significado diferente da primeira proposta do autor, que depois julgou a modificaçao apropriada. De lá pra cá, a grande obra passou por uma série de desafios, que parecem encerrar-se nesta quinta-feira (06), com a formalizaçao de sua permanência no Jardim das Esculturas do Museu de Arte Moderna (MAM).

Antes de virar patrimônio público, entretanto, a grande estrutura de alumínio teve de sobreviver a uma jornada de três anos sem local de exposiçao definido. Seus 5 mil quilos foram empurrados de um lugar para outro por falta de vontade política e resistiram a verdadeiras provas de força como a onda de quase 5 metros que destruiu o píer carioca onde a peça esteve exposta em 1997.

"Meu primeiro desejo era expor a Craca próxima ao mar, porque isso propoe uma imagem muito mais forte", lembra Nuno Ramos. Ele esclarece que a peça que ganha sua casa definitiva nesta quarta-feira nao é a mesma, mas uma versao da primeira mostrada na Bienal. "E que ficou muito bem localizada no Jardim do MAM", arremata.

"O projeto da Bienal previa essa outra versao, que nao pude realizar na época por falta de dinheiro". O artista conta que a montagem do trabalho, sobretudo a fundiçao necessária para a formaçao do grande corpo metálico, custa o equivalente ao preço de uma pequena casa em Sao Paulo. "Mas, na volta, tive a sorte de contar com o apoio da Bia Bracher, que nao só apostou no trabalho antes de ele existir, como doou a peça para o MAM".

A escultura de Ramos, que já pode ser vista no gramado na frente do museu, foi construída por uma espécie de fossilizaçao artificial de coisas naturais. Assim, a estrutura tem impressas a memória de conchas, peixes e flores que, de fato um dia estiveram ali. O artista misturou à massa metálica os objetos orgânicos, que tinham seus vestígios reais eliminados pela alta temperatura da fundiçao. "Gastava R$ 1 mil por dia em peixaria e de madrugada passava nas floriculturas da Avenida Doutor Arnaldo antes dos hare krisnas", lembra Ramos.

Nascida de uma experiência literalmente pesada, a "Craca" ganhou o aspecto arqueológico das marcas ancestrais. Mas o processo de fossilizaçao direta, criando os relevos inversos, também apresenta o significado oposto de futuros abrigos, como úteros maternos.




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