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Pintura tira jovem do caminho da criminalidade
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
26/06/2004 | 17:22
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Moisés Patrício, 19 anos, preferiu os pincéis aos revólveres. Morador da Vila Industrial, em São Paulo, divisa com Santo André, ele esteve próximo à criminalidade e, sem exagero, não lhe faltaram estímulos para se tornar um marginal. Por conta da falta de oportunidades (problema comum), ele quase “afundou na bandidagem”. No entanto, Moisés não cedeu e encontrou na arte um caminho digno.

Freqüentou por vários anos as extintas oficinas de pintura e grafite Meninos de Arte, tanto na capital quanto em Santo André. Assim descobriu seu talento e investiu na idéia de se tornar artista plástico.

Atualmente Moisés trabalha em pinturas decorativas para a casa noturna Palladium, em São Bernardo, a ser inaugurada no próximo mês e que fica onde era a Tutti Frutti. O estabelecimento aproveita a realização da Olimpíada de Atenas (a partir de agosto) e explora o tema mitologia grega. É uma de suas primeiras atividades profissionais na condição de artista.

“Nem sabia o que é mitologia grega. Estou aprendendo sobre o assunto com esse trabalho”, afirma Moisés, que concluiu o ensino médio e agora batalha para se tornar universitário.

Sobre o reboco das paredes da Palladium ele retratou uma série de deuses e deusas, obras inspiradas em imagens de livros emprestados. Primeiro esboçou com pincel atômico sobre fundos monocromáticos. Depois pintou com tinta látex.

São obras que demonstram a intimidade com a linguagem pictórica: boa exploração dos volumes, perspectiva, movimento, luz e sombra. Para o observador, a impressão é de que a pintura é uma escultura.

Em casa – Humilde, Moisés mora em uma casa de alvenaria no Conjunto Habitacional São Nicolau junto com o pai (Manoel), a mãe (Madalena), o irmão (Wanderson), a cunhada (Helen), dois sobrinhos (Daniel e Daniela) e a irmã (Raquel). A mãe, 50, revende cosméticos, e o irmão, 26, é padeiro.

O pai de Moisés, 54, que foi metalúrgico em São Bernardo, perdeu o emprego em 1991 e não conseguiu mais voltar ao mercado formal de trabalho.

A crise do setor industrial do Grande ABC, no início dos anos 1990, afetou a vida de Manoel assim como a de milhares de outros trabalhadores. Pesquisa do Imes (Centro Universitário Municipal de São Caetano) realizada à época informa que os índice de emprego na indústria da região havia sofrido queda considerável a cada ano: em setembro de 1990, 51,2% da população economicamente ativa trabalhava no setor; em março do ano seguinte, 44,2%; e, em março de 1992, 42,9%. A década passou nesse embalo e, como a família de Moisés, muitas outras que formam essa estatística medonha sofreram grave desestruturação social.




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