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Rede mundial une torcida do Sto.André
Luiz Henrique Gurgel
Especial para o Diário
31/01/2010 | 07:33
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Na estreia do Santo André no Campeonato Paulista, contra a Ponte Preta dia 16, o torcedor Hugo Cazeri estava angustiado por não poder acompanhar o jogo ao vivo nem conseguir notícia alguma sobre o andamento da partida. Hugo mora em Los Angeles, nos Estados Unidos, e suas únicas alternativas eram navegar em sites brasileiros da internet ou ficar mandando e-mails para outros torcedores no Brasil, pedindo informação.

Mesmo longe do Grande ABC, torcedores do Ramalhão fazem questão de manter acesa a paixão pelo time. Não se sabe quantos são, mas estão espalhados por várias partes do Brasil e do Exterior. A internet é o principal meio de comunicação entre esses apaixonados. Só um grupo de discussão chamado Ramalhonautas tem 212 participantes, trocando diariamente informações e opiniões pela rede mundial de computadores. Foi criado em 1999 pelo web-designer Alexandre Bachega e reúne pessoas de Norte a Sul do País, além de torcedores na Europa, Estados Unidos e até no Japão.

"Tem gente do mundo todo. Mas nem sei dizer ao certo de onde são todos, pois muitos não abrem seus dados", afirma Bachega. Nesse tipo de grupo na net, qualquer membro manda mensagem que será recebida por todos os outros. Assim iniciam as discussões.

Hugo Cazeri faz parte dos Ramalhonautas e vive há 11 anos na Califórnia. Tem agência que aluga limosines e já transportou várias personalidades do cinema. Só não conseguiu realizar um sonho desde que se mudou para Los Angeles: fazer com que algum astro ou estrela de Hollywood vestisse o manto sagrado da equipe. "Já transportei o ator Morgan Freeman, o jogador de basquete Shaquille O'Neal, a cantora Anita Baker e a atriz Vanessa Hudgens, do High School Musical. Mas ainda não deu para fazer alguém vestir a camisa", conta.

Também nos Estados Unidos, o oceanógrafo da Universidade de Miami, Carlos Fonseca, apelou para canal a cabo em espanhol para ver os jogos do Ramalhão no Brasileirão do ano passado. "É um canal aqui de Miami, a Gol TV. Vi alguns jogos e até gravei. Vou levar para o meu pai ver o Santo André jogando em espanhol", diz Fonseca.

Criado no Principado da Vila Luzita, como faz questão de frisar, o cientista está na Flórida há oito anos e já aumentou o tamanho da torcida por lá. "Fiz muito torcedor do Santo André por aqui". Dois deles - um norte-americano da Virgínia e um argentino torcedor do Vélez Sársfield, que fez do Ramalhão seu segundo time - ficaram apaixonados.

Gustavo, o argentino, ficou deprimido com a queda do Ramalhão para a Segundona e se consolava com o amigo brasileiro. "Ele olhava para mim e repetia: ‘Estou mal, Carlos, nosso time está indo para a Segunda Divisão'".

Já o norte-americano Jonathan teve outro tipo de frustração. Como a equipe de Fonseca investiga correntes marítimas, frequentemente viaja em um navio de pesquisas da universidade.

"Uma vez atracamos em Fortaleza, no Ceará, meu amigo desembarcou e foi a várias lojas de artigos esportivos para comprar camisa do Santo André. Ninguém tinha. Tive de explicar a ele que o Santo André não era um Flamengo, como eu dizia", ri Carlos.

Provas de amor ao clube rondam planeta
Nem tão longe do Grande ABC como Hugo e Fonseca, o professor de agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo César do Nascimento, já viveu as angústias de um torcedor com poucas oportunidades de ver o time do coração ao vivo. Em dezembro do ano passado pode matar a saudade - apesar da decepção -, quando foi ao Estádio Beira Rio, em Porto Alegre, assistir a Internacional x Santo André, jogo que rebaixou o Ramalhão para a Série B do Brasileiro.

Encontrou nove torcedores da Fúria Andreense no local e viu a partida no meio da torcida colorada, cercado por policiais. O professor não ficou preocupado e até encontrou alunos entre a torcida adversária. Há 14 anos vivendo em Porto Alegre, casado com torcedora do Inter e pai de um bebê de cinco meses nascido naquela cidade, PC, como é conhecido, fez questão de homenagear o time de maneira especial: deu ao filho o nome de André.

"Claro que o time, além da cidade, influenciou, sim. É uma maneira de resgatar minhas raízes. E é lógico que a mãe tinha de estar de acordo, senão não tinha jeito", explica o professor.

Todos citam provas de amor ao clube. Carlos Fonseca já chegou de Miami e foi diretamente do aeroporto para o Bruno Daniel ver um jogo. Deixou o carro em um estacionamento com as malas e foi trocar de roupa em um bar próximo ao estádio. "Parei no bar, pedi licença, coloquei o short, a camisa do Santo André e fui ver a partida."

O médico Ivan Savioli, que vive desde 1987 em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, coleciona dezenas de fotos vestindo a camisa do time em lugares exóticos. Participando de congressos ou fazendo turismo, Ivan vestiu a camisa em praias do Nordeste, no deserto de Atacama, no Chile, em Cuzco, no Peru e no Estádio Defensores Del Chaco, no Paraguai, entre outros lugares.

"Seja a serviço, seja a passeio, as quatro primeiras coisas que entram na minha mala de viagem são os comprimidos para baixar o colesterol, o remédio para pressão, a bombinha para a eventual crise de asma e a camisa do Ramalhão", revela o médico.

‘Batalha' com flamenguistas em Miami na final da Copa do Brasil
Entre as aventuras vividas por Carlos Fonseca, em Miami, está o encontro com torcedores do Flamengo para assistir à final da Copa do Brasil, em 2004. "Foi sem querer. Eu e um amigo, que torcia pelo Botafogo do Rio, combinamos de assistir juntos à final. Dei uma das minhas camisas do Ramalhão para ele e fomos para um restaurante de brasileiros aqui em Miami", conta Carlos. No local, a surpresa: "Se no Maracanã tinham 70 mil flamenguistas contra 500 do Santo André, aqui no restaurante, havia 98 torcedores do Flamengo, incluindo o dono."

No primeiro gol do Santo André, o silêncio foi quebrado pelos gritos dos dois únicos torcedores do time. No momento do segundo gol, o clima esquentou e torcedores do Flamengo chutaram cadeiras. "Eles começaram a reclamar com o dono, dizendo que ele não devia ter nos deixado entrar. Tínhamos dado azar ao Flamengo", relembra.

No final, enquanto a torcida rubro-negra debandava, Carlos e o amigo comemoravam o título. "Quando fui fechar a conta, o dono do restaurante, contrariado, não quis cobrar nada: ‘Vocês não me devem nada, podem ir embora'. Foi emocionante para mim."




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