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'Não dá para resolver problema das enchentes', diz Tortorello
Maurício Klai
Do Diário do Grande ABC
13/01/2001 | 20:22
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O prefeito de São Caetano, Luiz Tortorello (PTB), afirma que, quando deixar a Prefeitura, em 2004, “a cidade estará mais urbanizada, mais solidária e mais consciente de sua posição de menor território geográfico do país, dentro de uma região com problemas de toda a natureza”. Durante mais de três horas de entrevista, a primeira depois de ter reassumido o cargo, Tortorello diz por que não pode resolver o problema das enchentes. Revela ter poucas chances de disputar o governo do Estado em 2002 por causa do PTB, que tem dificuldade de expandir-se e ter mais tempo na televisão. O prefeito também fala de seu sucessor para 2004, analisa a gestão anterior e afirma estar disposto a discutir com a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e os outros 37 municípios da região metropolitana a questão dos incentivos fiscais.

DIÁRIO – O que muda nesta administração em relação à anterior?
LUIZ TORTORELLO – Pouco. Na última gestão nossa preocupação foi colocar o desenvolvimento econômico e o erário público dentro da normalidade. Nosso projeto maior de governo foi desenvolver a educação, a saúde e a segurança. Considero essas metas cumpridas. Agora, o que muda de 2001 a 2004? Nada. O desenvolvimento econômico e o sistema tributário ainda são a grande prioridade para esta gestão. Manterei os investimentos na educação, na saúde e na segurança e quero proporcionar crescimento na habitação. Gostaria de encerrar este governo com o mesmo índice de aprovação do anterior.

DIÁRIO – Quais problemas o sr. não vai conseguir resolver, mas pretende ao menos deixar encaminhados?
TORTORELLO – Eu não vou conseguir resolver, em hipótese alguma, o problema das enchentes. Primeiro, o trecho do Ribeirão dos Meninos tem 14 quilômetros, sendo que só correm em São Caetano 6 quilômetros e 200 metros. O Tamanduateí tem 26 quilômetros de extensão, correndo no trecho de São Caetano, apenas 4 quilômetros e 600 metros. Tanto a Bacia do Tamanduateí como as bacias e sub-bacias do Ribeirão dos Couros e dos Meninos recebem todas as águas de algumas cidades da região e um volume maior de São Paulo. Há quem diga que o Ribeirão dos Meninos e dos Couros recebem somente águas de Diadema e São Bernardo, um erro. Eles recebem as águas de São Paulo também. É impossível para a Prefeitura solucionar com recursos próprios o problema das enchentes. Acredito que, a curto prazo, nem o Estado tem condições. Mas farei todos os esforços possíveis na Câmara Regional do ABC, na Secretaria dos Recursos Hídricos, no Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e na Prefeitura de São Paulo para que o projeto de construção dos 42 reservatórios programados pelo governo siga adiante, que não fique somente nesses seis reservatórios – quatro já prontos e dois em fase de execução. Quando tivermos 42 piscinões, digo que reduziremos o problema das enchentes. Todos os esforços de minha equipe estarão voltados para fazer com que o governo construa de quatro a seis piscinões. Calculo que, dentro de dez anos, teremos uma minimização total e completa das enchentes.

DIÁRIO – Não seria possível um entendimento com os proprietários das áreas da Cerâmica e do Matarazzo para a cessão de área e construção de piscinões?
TORTORELLO – Considerando-se Diadema, São Bernardo, Santo André, São Caetano e Mauá, por onde passa a bacia dos Couros e Meninos e a bacia do Tamanduateí, São Caetano foi o único município que investiu dinheiro próprio na construção de reservatórios. Foram construídos dois pequenos, além de terem sido feitas obras de ampliação no leito dos rios. Um dos reservatórios está na ponte da Presidente Wilson com a Delamare e o outro no trecho entre a Ponte Preta e a ponte da Rua São Paulo. Os dois duplicaram a capacidade de armazenamento de águas. Somos o único município que fez galerias em toda a região. Dos dois piscinões programados para São Caetano na planta genérica do DAEE, um envolve a área do Matarazzo, que eu acho normal. Faltam apenas alguns acertos para a desapropriação, parte que cabe à Prefeitura de São Paulo. O segundo piscinão está programado na antiga Cerâmica São Caetano, compreendendo parte em São Caetano e parte em São Paulo. Ao lado desse terreno da Cerâmica, em São Paulo, existe uma área muito grande, de propriedade do Estado. Digo que no lado de São Caetano será impossível essa construção, porque a desapropriação custará não R$ 60 milhões, mas R$ 100 milhões. Enquanto eu for prefeito, não permitirei que ali seja feito qualquer tipo de reservatório, porque para a área está programado o desenvolvimento de um Pólo Tecnológico, que a região necessita para proporcionar crescimento econômico e a conseqüente visualização de um novo perfil. O processo, inclusive, já está em fase bem adiantada, sendo que os protocolos de intenção já foram todos assinados, incluindo a Magnesita. Paralisar esse projeto, agora, iria muito além dos R$ 100 milhões do terreno. A melhor saída é construí-lo do lado de São Paulo, na área da própria Magnesita, cujo valor de desapropriação inclusive é até um pouco mais barato do que o do lado de São Caetano, porque a área está rodeada por favelas, sem contar que lá não há custo, porque a área pertence ao Estado.

DIÁRIO – Portanto, a princípio, São Caetano não terá piscinões em 2001?
TORTORELLO – Depende do Estado e não de nós prefeitos da região. Os piscinões estarão nos municípios, mas o grande princípio do direito administrativo, a conveniência e a oportunidade, esse quem vai analisar é o governador do Estado e o secretário de Recursos Hídricos, não os prefeitos. Se dependesse do prefeito, a área do Matarazzo seria a primeira para a construção.

DIÁRIO – Com base nas pesquisas realizadas durante as eleições, qual a principal reivindicação da população?
TORTORELLO – A população pede duas coisas. Apesar de a segurança ter melhorado muito em razão dos projetos executados, ainda é o motivo de maior pressão sobre o governo. Em seguida, vem a saúde. Investimos 14% do erário no segmento, mas o SUS acarreta a triplicação de nossa população. Somos 142 mil habitantes, mas para efeito de atendimento chegamos a pelo menos 300 mil. Apesar dos investimentos no SUS, saúde e segurança ainda são as principais reivindicações. Quanto à educação, ela é perfeita em São Caetano.

DIÁRIO – O sr. manifestou-se preocupado com a inauguração do Hospital Municipal. Como estão as obras?
TORTORELLO – Ainda continuo preocupado. A construção acompanha a evolução da licitação para aquisição de instrumentos e materiais. Por tratar-se de um processo internacional, o gerenciamento é feito pelo Ministério da Saúde, que destinou a São Caetano R$ 2,8 milhões. Creio que a conclusão da licitação ocorrerá na mesma época em que terminar a construção civil, entre maio e junho. Quando isso ocorrer estaremos colocando o hospital em operação. Preocupa-me o fato de suas dimensões contemplarem o atendimento de uma população relativa. São Caetano é a cidade que, no mundo, disponibiliza o maior número de leitos, segundo estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde). O Hospital Municipal tem por meta atender à população mais pobre, mais carente, mas se estendermos o atendimento à região teremos problemas.

DIÁRIO – O que muda no Segurança 199 nesta gestão?
TORTORELLO – O sistema será aprimorado, apesar de seu funcionamento hoje ser espetacular. Estamos em fase final de estudos para que o Segurança 199 se custeie sozinho. Propomos um gerenciamento, uma parceria envolvendo a administração, empresas privadas e até mesmo casas particulares. A Prefeitura venderia o serviço 199 à iniciativa privada, obtendo recursos por meio de uma tarifa, até o momento em que o sistema estaria tão aprimorado que teria seus próprios recursos.

DIÁRIO – O sr. vai se candidatar ao governo do Estado?
TORTORELLO – Se o meu partido (PTB) me aceitasse, o que é muito difícil, até porque o PTB não tem visualizado para estabelecer lideranças e crescer em nível estadual e nacional. Infelizmente, o PTB é terrível nesse aspecto. Já existe uma composição do partido com o PSDB, pela qual o PTB lançaria candidato a vice-governador. Se o partido me desse uma legenda com sete minutos de televisão, eu até concorreria ao governo do Estado, mas essa é uma tese hipotética para a qual não vejo qualquer tipo de possibilidade. Em 2002, acompanharei a evolução do que acontecerá no Estado e no país.

DIÁRIO – Há rumores de que o sr. migraria para o PFL ou PPS, é verdade?
TORTORELLO – A mesma situação do PTB acontece no PFL. São partidos que não “jogam” as convenções em nível municipal, estadual, regional e nacional. São legendas não constituídas com o objetivo de dar uma representatividade, dinamizar programas. São partidos que se colocam nas eleições de acordo com a conveniência de meia dúzia de pessoas. Mudar para o PFL, eu acredito que em hipótese nenhuma. Quanto ao PPS, fui convidado pelo Ciro Gomes e pelo João Herman, além do próprio Maurício Soares em uma oportunidade. Meu filho (Marquinhos Tortorello) é deputado pelo PPS, cuja bancada tem me consultado. Não é hora de tomar posição. Se eu sentir que o PTB não dará qualquer sinal de reestruturação ou crescimento, devo mudar de partido, para uma legenda de centro-esquerda.

DIÁRIO – Quais as diretorias que mais erraram e acertaram na última gestão?
TORTORELLO – Errar cometendo irregularidades, propiciando condições para o comprometimento da Administração, nenhuma. Educação foi o setor que mais acertou enquanto a área de transportes e vias públicas ficou a dever. Eu avaliaria o desempenho de médio a sofrível. Isso ocorreu porque nosso sistema de semáforos não está totalmente conjugado. Ele é arcaico, antigo e precisaria sofrer uma revisão completa. Educação foi nota dez. Transportes e vias públicas, por falta de mais investimentos, ficou a dever para o município.

DIÁRIO – Quantas empresas se instalaram na última gestão, o senhor tem algum estudo que aponte quantas podem se instalar nesta?
TORTORELLO – Entre micro e pequenas empresas, autônomos, empresas de serviços e de porte médio a grande, de 1997 a 2000, chegamos a 7 mil, inclusive autônomos. Mas se quisermos nos restringir às que proporcionaram arrecadação e têm reflexo no sistema tributário, teríamos 300 empresas, entre médias, de serviços, tecnologia de ponta, informática e comércio. Eu acredito que foram essas 300 empresas que passaram a subsidiar nosso sistema tributário. Em termos de ISS, crescemos de R$ 14 milhões para R$ 28 milhões. Quanto ao ICMS, perdemos 30% e recuperamos entre 6% e 7%.

DIÁRIO – O sr. tem a intenção de buscar investimentos no exterior, tomando parte em viagens para divulgar a cidade?
TORTORELLO – Sou contra viagens sem uma programação. Acho que a cidade que menos pessoas viajaram nesses últimos quatro anos foi São Caetano. Fomos à Argentina, ao Uruguai, Paraguai, à Itália, França e Espanha, com fins culturais e de negócios. Também participamos de algumas viagens para estudos nos Estados Unidos. Temos agora um grande interesse no Mercosul. Se não dermos condições a nossas empresas de venderem nossos produtos fora, não aproveitaremos um caminho que o Mercosul abriu. O mercado europeu é bom, tanto que a Espanha hoje é a maior investidora no Brasil, com participação no setor de privatizações, ao ter comprado a Telefonica e o Banespa. Não nego que hoje nós temos aqui uma grande empresa na área de comércio que é o Sé Supermercados. Também fizemos contato com empresários em uma visita cultural a Portugal. Se houver necessidade de novas viagens nesse sentido a Alemanha, Espanha e Itália, certamente as faremos.

DIÁRIO – O sr. acha que o fato de alguns vereadores de sua base não terem se reelegido e o PT ter aumentado seu quadro demonstra perda de forças?
TORTORELLO –Não, essa colocação é inversa. Das eleições de 1996 para as de 2000 nós crescemos e o PT, aliás, a oposição, caiu. Em 1996, só consegui eleger 14 vereadores, conseqüentemente a oposição naquela época fez sete. Agora, nós crescemos, elegemos 18 e a oposição só 3. Meu grupo cresceu de 14 para 18, e a oposição ficou reduzida a três. Não vi crescimento algum do PT em São Caetano, pelo contrário, na eleição passada tiveram mais votos do que nessa. A oposição na época contabilizou 32% dos votos, porque eu tive somente 68% em 1996. Na última, fui para 80% e eles foram reduzidos a 20%, conseqüentemente eu cresci.

DIÁRIO – O sr. pretende mudar a política de incentivos no município? Como será o relacionamento com a prefeita Marta?
TORTORELLO – O que tínhamos de fazer em termos de tributos, já fizemos e vamos manter isso nos quatro anos. Pode ser que algum caso especial apareça e tenhamos de rever, mas não é nosso objetivo. Se a prefeita Marta quiser reunir os 37 municípios da região metropolitana e fazer algum estudo em cima da questão, São Caetano estará presente. Acho a Marta uma pessoa muito bem-intensionada e corajosa. Ela vai passar um aperto muito grande, pois a cruz que tem de carregar é muito maior que a de todos os outros municípios. Creio que ela não vai conseguir cumprir quase nenhum projeto de campanha, porque não tem recursos. Mas eu gosto do estilo dela, do jeito dela, é uma moça muito simpática e acima de tudo corajosa.

DIÁRIO – Quem irá sucedê-lo depois de 2004? Paulo Botura ou Silvio Torres?
TORTORELLO – É muito cedo para isso, mas dos dois nomes apontados, eu não sei, se o Silvio tiver vocação e quiser, seria um grande sucessor, pois é um médico preparado. Mas o Paulo Botura, em hipótese alguma. Primeiro, porque ele não gosta, segundo porque não quer, então está completamente descartado. Agora se o Silvio me disser amanhã que quer ser prefeito ele é o meu candidato nessa campanha, hoje.

DIÁRIO – E o seu relacionamento com o ex-prefeito Walter Braido?
TORTORELLO – O Braido é um cara espetacular. No primeiro governo, eu não deixava de me aconselhar com ele. No segundo, quando a gente teve de tomar algumas medidas, sempre pedia conselhos a ele. Fazemos parte do mesmo grupo político. Tenho convidado ele, inclusive, para participar de conselhos, mas ele sempre diz: “Ah, como político já fui prefeito três vezes, não quero mais saber, agora só acompanho de longe”. Mas, se eventualmente algum dia ele quisesse participar de novo da vida pública, seria meu diretor para a pasta que indicasse e se quiser vir a ser o prefeito na minha sucessão é o meu candidato.




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