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Ilusão olímpica
Beto Silva
04/08/2016 | 07:00
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Com todos os nossos problemas, e são muitos, o Brasil sedia pela primeira vez os Jogos Olímpicos. A festa está armada. E deve ser um grande sucesso, dentro e fora das arenas, para atletas, turistas e para o povo brasileiro. Mas o que esperar dos competidores tupiniquins? Pouco. E digo isso pelo retrospecto do País em Olimpíada. A primeira participação do Brasil foi na Antuérpia (Bélgica), em 1920. De lá para cá foram 22 edições. Ganhamos ao todo 108 medalhas, sendo 23 de ouro, 30 de prata e 55 de bronze. Para se ter ideia da pouca expressividade desse resultado, se colocássemos todas as medalhas de nossa história no quadro final dos Jogos de Londres, em 2012, ficaríamos na quinta posição, atrás dos Estados Unidos (1º), China (2º), Reino Unido (3º) e Rússia (4º). Outro dado comparativo para refletir: o nadador norte americano Michael Phelps tem sozinho 22 medalhas, sendo 18 de ouro. O melhor desempenho verde-amarelo foi em Atenas (Grécia), em 2004, quando ficamos na 16ª colocação geral, com cinco ouros, duas pratas e três bronzes. O que pode fazer a diferença é a torcida. Veja, outro fator fora da alçada do poder público.

Somos a quinta maior nação do mundo em população, com quase 210 milhões de habitantes. Temos um ótimo clima e recursos naturais em abundância. Estamos em desenvolvimento. O que falta, então, para sermos uma potência esportiva? A resposta é simples: vontade política. Investir em Esporte não dá voto e, portanto, não interessa a nossos governantes. Mais do que isso, parte das verbas encaminhadas para a preparação dos atletas é frequentemente desviada. Uma vergonha!

A maioria das medalhas dos atletas brasileiros foi conquistada no esforço e no talento próprios. Sem muito apoio do governo, que se isenta da responsabilidade de investir nessa área. Não há, por exemplo, um programa intensivo de formação de atletas nas escolas. São 35 milhões de estudantes, da creche ao Ensino Médio, matriculados em instituições públicas. Sem um projeto de incentivo à prática de atividade física e de garimpagem, fica difícil evoluir no setor. Essa função tem sido exercida pelas escolas particulares, que dão bolsa de estudos para quem se destaca. E os governos municipais, estaduais e federal observam de longe, com ínfimos incentivos. É o privado fazendo o papel do público. Quantos desses 35 milhões de alunos brasileiros viram de perto ou pegaram nas mãos uma medalha olímpica? Quantos abraçaram um campeão olímpico? Aqui vai uma projeção, sem medo de errar: nem 1%.

Os bons exemplos, que disseminam força de vontade, superação, equilíbrio, confiança, concentração, disciplina, dentre outras inúmeras qualidades, ficam escondidos, à margem do processo de formação. E se a criança for desprovida de aptidão, não se interessar pelo Esporte e não virar um atleta, haverá ao menos o espelho para crescimento de um cidadão de bem. Mas os homens públicos mostram que não estão interessados nisso também. Para muitos deles, quanto maior a balbúrdia urbana, melhor.

Em tempo: Arthur Zanetti, ginasta campeão olímpico nas argolas, é ponto fora da curva. Nasceu e cresceu em São Caetano, e continua treinando na cidade – ressalte-se que só continuou no município após reclamar da falta de estrutura, que foi melhorada, e, portanto, foi mais uma vítima do descaso governamental. Crianças de 10 anos, em iniciação, usam os mesmos aparelhos que ele. Elas olham nos olhos de um vencedor todos os dias. Admiradas. Sabendo que é possível chegar ao topo. O exemplo está ali, na frente delas. Se não der certo no Esporte, os ensinamentos dele tirados serão levados para o resto de suas vidas. O Esporte transforma.

Fé e razão
Em 22 de agosto de 2014, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), afirmou que só Deus poderia acabar definitivamente com as enchentes na cidade. Ontem, o petista convidou o bispo diocesano dom Pedro Cipolini para visitar as obras do Projeto Drenar. Estaria Marinho tentando um canal com o Todo-poderoso? Cipolini foi mais realista e menos crente em milagres divinos sobre as intervenções de macrodrenagem na cidade. “Para tudo há solução, basta vontade política.”

Em família
Luiz Carlos Pinheiro, o Pinheirinho (PPS), se colocou como candidato a deputado federal em 2014, mas renunciou no meio da campanha. Segundo a Justiça eleitoral, ele precisava enviar as contas dos gastos dos dias em que esteve no páreo, mas não o fez. Por isso, não poderá ser candidato a vereador neste ano. Mas lançará a mulher, Miriam Pinheiro (PHS). 




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