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Ray Conniff faz sucesso com músicas sertanejas
Do Diário do Grande ABC
08/10/1999 | 16:54
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É possível que seu avô tenha conhecido sua avó num baile conduzido por Ray Conniff e que seus pais também tenham dançado "Besame Mucho" de rostinho colado embalado pelo som do trombone do maestro e mesmo você, ao menos numa festa de formatura, depois da quarta dose que seja, já se flagrou rodopiando o salao de olhos fechados abraçado à prima de alguém ao som de "New York, New York" (para depois se perguntar o que estava fazendo ali).

Goste ou nao, dê de ombros, diga que conhece por alto, mas confesse que algum dia você já se rendeu aos arranjos desse simpático senhor nascido em Massachusetts, nos Estados Unidos, e que no mês que vem completa 84 anos. "Nao sei a razao, mas gosto muito de saber que no Brasil três geraçoes dançam com minhas músicas", diz Conniff . "Vejo jovens de 16, 17 anos, vejo casais de 25 a 35 e também senhores de 70 anos dançando quando toco e realmente gosto disso".

Nesse dia, estréia da turnê brasileira, no Rio, Conniff ensaiou das 9 horas às 18 horas e teve apenas 20 minutos para almoçar. O show começou às 22 horas e terminou quase meia-noite.

Nesta semana, Conniff passou pelo Rio e Sao Paulo iniciando a turnê brasileira que repete ano após ano depois de conhecer o país no início dos anos 60. De Sao Paulo, o maestro segue, sábado, para Punta del Este, no Uruguai, onde se apresenta com sua orquestra de 18 músicos e o coral de oito vocalistas e, em seguida, retorna ao Brasil para mais uma série de shows em Porto Alegre (segunda-feira), Curitiba (quarta), Goiânia (sexta), Campinas (sábado) e no domingo, 17, numa cidade a ser definida no interior de Sao Paulo.

Conniff ainda se lembra da primeira visita ao Brasil. "Fui convidado para participar de uma apresentaçao ao lado de Henry Mancini", conta. "Toquei Aquarela do Brasil, Besame Mucho e Somewhere my Love para um público de 30 mil pessoas", continua. "Foi fantástico".

Motéis - A música de Conniff está mais perto dos ouvidos do que se imagina. Fora os bailes e os discos, seus arranjos para "Smoke Gets in Your Eyes", "Strangers in The Night", "Pretty Woman", entre outras centenas, sao campeoes de execuçao em elevadores, salas de espera de dentistas (incluem-se otorrinos, oftalmos, etc.), motéis, e os bons e velhos bailes de formatura. Ele nao liga e, na verdade, diz que desconhece comentários maldosos como esse acima. "Nao tenho controle sobre o que escrevem", diz, bem-humorado.

Sua trajetória impoe respeito. Ao longo de 66 anos de carreira, Conniff já vendeu mais de 85 milhoes de cópias dos seus 102 discos, desde "Ray Conniff's Wonderful", de 1956, ao mais recente lançamento, "Ray Conniff's Country" (Abril Music) com arranjos de música sertaneja brasileira.

O texto de divulgaçao ressalta seus prêmios: três indicaçoes para o Grammy e uma conquista com "Somewhere My Love", mais de dez discos de ouro, prêmio de melhor artista em vendas em 1962 pela CBS Records, além do Chrystal Globe, pela vendagem de discos fora dos Estados Unidos. Diz o texto: "Sua participaçao na venda de discos supera nomes como Jimi Hendrix e Led Zeppelin".

Antes de investir no Brasil, o maestro gravou discos, digamos, étnicos, como "Ray Conniff in Great Britain" (1973), "Ray Conniff in Moscow" (1974), "Ray Conniff Live in Japan" (1975), "Ray Conniff en Venezuela" (1979). Depois vieram os brasileiros "Amor, Amor" (1982), "Fantástico" (1983), "Ray Conniff Live in Rio" (1996) e finalmente o sertanejo.

Em "Ray Conniff's Country" (1999), gravado na Califórnia, o maestro coloca seus novos arranjos em "Pense em Mim", "É o Amor", "Festa de Rodeio", "Luar do Sertao", "Bem te Vi", "No Rancho Fundo", "Entre Tapas e Beijos", "Bailao de Peao" e outras cançoes de Chitaozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano e mais alguns.

Conniff diz nao sabe explicar o segredo para manter-se ativo por tanto tempo: lança dois discos por ano há 43 anos, toca em rádios e se apresenta em todos os cantos do mundo. "Sou filho de músicos (pai, trombonista e mae, pianista), toco desde a high school, em 1933 e nunca fiz outra coisa senao me dedicar à música", diz.

Conhecido colecionador de carros, Conniff diz ter-se afastado do hobby nos últimos anos. "Tenho uns sete carros na garagem, mas já nao dirijo mais", conta. "Meu prazer é viajar para o campo num trailer com minha família meus dois gatos e dois cachorros".

Trabalha com prazer e garante que nao leva uma vida de estrela. "Vivo de maneira simples, como as pessoas que compram os meus discos". Mais para o fim do ano sai no Brasil outro disco do maestro: "Ray Conniff's Christmas", com arranjos natalinos.

Pela disposiçao do músico, é bem provável que seu filho caçula ainda dê o primeiro beijo numa festinha da escola ao som de uma versao de Conniff para algum sucesso dos Raimundos.




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