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Lucinha fecha trilogia sobre Cazuza
Luciane Mediato
Especial para o Diário
07/06/2011 | 07:10
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Divulgação


Lucinha Araújo inicia "O Tempo não Para - Viva Cazuza" (Editora Globo, R$ 39,90, 256 págs), o último livro da trilogia sobre o filho, com a descrição do dia de sua morte. Mas a obra, que chega às livrarias esse mês, se debruça mesmo é sobre o trabalho da fundação que empresta o nome ao subtítulo, criada justamente para apoiar vítimas da Aids, doença que o matou há quase 24 anos.

A ONG dá suporte, há 20 anos, a crianças e adolescentes portadores do HIV. "Me sentia como se estivesse participando de cruzada. Reuniões, manifestações na porta de hospitais públicos que recusavam pacientes soropositivos, entrevistas, denúncias, passeatas exigindo verbas do governo."

Lucinha diz que sempre quis ter muitos filhos, e a convivência com as crianças da ONG, depois da morte do cantor, a trouxe de volta à vida. "Pequenos, grandinhos, pretos, brancos, eram as minhas crianças! Piolho, sarnas, infecções, antirretrovirais, febre, dor de garganta, dor de ouvido. Achava que poderíamos superar tudo".

A casa chegou a ter 34 crianças, a maioria bebês, com um histórico bastante parecido - internações em hospitais públicos decorrentes de infecções provocadas pelo HIV.

Hoje, quando Lucinha olha para essas crianças, que brincam, estudam e cantam, resgata o passado. "Lembro-me da infância de Cazuza, quando muitos artistas iam visitar o meu marido (CF51o executivo de gravadoras João Araújo/CF), ele ficava no meio das reuniões desenhando mapa de cidades fictícias. Acho que tudo isso influenciou para que a música fosse parte da vida dele. Tentamos criar nossos filhos baseados em nossas experiências, mas também nas que não tivemos. Se não pude vislumbrar na infância do meu filho quem ele seria, que árvores, flores, folhas ou frutos darão as sementes que estamos cultivando?", questiona.

Outra dúvida que ronda Lucinha é quem - e como - seria Cazuza hoje. Talvez "ácido e questionador" como sempre foi, talvez melhor compositor.

Ela assegura que o filho morreu em decorrência do prazer. Não se refere, com isso, ao modo como ele lidava com a sexualidade - "certamente ele fez sexo desprotegido" -, mas à forma como se planejava. "Estou falando do desejo de viver intensamente, da lucidez de preferir viver dez anos a 1.000 que viver 100 anos a dez. Ele era uma pessoa consciente e sabia que sua produção dependia dessa vivência."

O "Tempo não Para - Viva Cazuza" também traz alguns depoimentos de pessoas que cruzaram e deixaram impressões na vida do cantor, como Ney Matogrosso, que aposta que Cazuza, hoje, "seria exatamente igual na essência: irreverente, debochado, com alto senso crítico". Lucinha diz que sentiu receio de dividir o livro com os amigos do filho, até porque "relações amorosas e de amizade são muito diferentes", mas resolveu dar voz a alguns deles.

Foi além de Frejat, parceiro no Barão Vermelho, Ezequiel Neves - que, segundo Lucinha, foi o "instigador intelectual de Cazuza" -, e George Israel. Conseguiu também depoimento de Serginho, único com quem Cazuza teve relacionamento duradouro. Na última vez que Serginho viu o namorado, já muito doente, ouviu a seguinte pergunta: "Vamos começar tudo outra vez?". Serginho confessa que não sabia o que fazer e fugiu sem dizer palavra. Agora, resume: "O que aconteceu, valeu."/CW

Apesar de encerrar o ciclo de contar, ela mesma, parte da história do filho, Lucinha convida: "Deixo estes livros como herança para o mundo. Não tenho filhos para quem deixar meus bens. Nas páginas que escrevi ficaram meus maiores tesouros, as memórias de toda uma vida. Deixo aberto para quem quiser escrever outra obra sobre Cazuza, pois eu sou mãe e como qualquer outra não consigo estar longe o suficiente para descrevê-lo sem o olhar maternal.




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