Economia Titulo Poder de compra
Renda média do trabalhador da região cai 15% em 3 anos

Queda no nível de emprego e aumento
da inflação provocam redução dos salários

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
31/07/2016 | 07:21
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Divulgação


Em três anos, o rendimento médio dos trabalhadores do Grande ABC teve queda real (descontada a inflação) de 15%, segundo dados da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) divulgados na semana passada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). A elevação no custo de vida e a redução no nível de ocupação explicam a diminuição na remuneração.

Em maio deste ano, conforme o dado mais recente, o rendimento médio era de R$ 2.111. No mesmo mês de 2013, quando atingiu seu pico na região, o montante – já atualizado em valores de 2016 – era de R$ 2.484. Naquela época, portanto, o trabalhador dispunha de R$ 373 a mais para se manter.

Para se ter ideia da grandeza, com essa diferença é possível comprar carne bovina de primeira, arroz, feijão-carioca, frango, batata, cebola e tomate, sendo três quilos de cada alimento, o que demandaria R$ 174,09, considerando os preços médios apurados pela pesquisa semanal da cesta básica feita pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) em seis cidades da região. Com os R$ 198,91 restantes, dá para pegar ônibus municipal por 22 dias, ida e volta, nos locais onde a tarifa é de R$ 3,80. Ainda sobraria R$ 31,71, suficiente para aproximadamente 15 cafezinhos em uma padaria de porte médio.

O economista do Dieese César Andaku explica que a aceleração da inflação nos últimos meses contribuiu para corroer a renda dos empregados. De maio de 2013 a maio deste ano, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), indicador utilizado para correção dos salários de diversas categorias, acumulou 27,14%.

A pressão inflacionária faz com que muitos dos acordos coletivos entre sindicatos e patrões não contemplem aumentos reais, ou seja, quando os índices de reajuste salarial ficam abaixo da inflação. Levantamento do Dieese mostra que, no primeiro trimestre, 49% dos dissídios no País tiveram correção abaixo do acumulado pelo INPC em 12 meses.

Exemplo disso ocorreu na Mercedes-Benz: em setembro do ano passado, os funcionários da montadora em São Bernardo aprovaram acordo que previa que o reajuste deste ano, aplicado em maio, fosse equivalente a 50% do INPC.

Andaku acrescenta que o aumento dos níveis de desemprego também provoca redução na remuneração. Em maio de 2013, 149 mil pessoas estavam sem trabalho na região, ainda de acordo com a PED. No quinto mês deste ano, o contingente subiu para 243 mil indivíduos, elevação de 63,1%.

“Quando o desemprego está em alta, o candidato a uma vaga de trabalho enfrenta concorrência muito maior, fazendo com que ele tenha mais dificuldade ao tentar negociar um salário mais alto”, explica o economista do Dieese. Outra situação comum em épocas de crise, acrescenta, é a troca de funcionários com vencimentos mais altos por outros que executarão a mesma função, mas ganhando menos.

Também entre 2013 e 2016, a massa de rendimentos reais – que é a soma de todos os salários pagos aos trabalhadores – registrou decréscimo de 19,85%. Os valores absolutos não são informados. “Essa redução gera efeito em cadeia, já que, com menos receita em circulação, todos os setores da economia acabam tendo dificuldade para retomar o crescimento”, comenta Andaku.

O especialista avalia que, considerando a desaceleração da inflação e do ritmo de demissões nos últimos meses, a tendência é de que os indicadores referentes à renda dos ocupados no Grande ABC passem a ter estabilidade ao longo do segundo semestre. 




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