Política Titulo Universo machista
Conservador, Grande ABC segue barreira para as mulheres

Só seis nomes femininos estão anunciados,
até o momento, para a eleição às Prefeituras

Vitória Rocha
Especial para o Diário
03/07/2016 | 07:00
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Divulgação


Em cenário pouco favorável, apenas seis mulheres são pré-candidatas até o momento às Prefeituras do Grande ABC, sendo que São Bernardo, Mauá, Rio Grande da Serra e Diadema ainda não projetam nome feminino ao pleito de outubro. Para especialistas consultadas pelo Diário, o conservadorismo da política no Brasil e na região, além da falta de apoio financeiro, são os principais motivos que dificultam a ascensão de mulheres no debate público.

Apesar de Dilma Rousseff (PT) ter sido a primeira mulher eleita presidente da República, quebrando uma das barreiras brasileiras às candidatas femininas, na região apenas três mulheres comandaram Paços até hoje, sendo que a última foi Maria Inês Soares (PT), que venceu eleição em Ribeirão Pires há 16 anos. A pequena lista tem ainda Tereza Delta (prefeita de São Bernardo entre abril e dezembro de 1947) e Irinéia José Midolli (gestora de Rio Grande da Serra de 1973 a 1977).

Os nomes que se apresentam atualmente na eleição são Aurilucia Leite (Rede-Santo André), Sara Jane Zanetti (Rede-São Caetano), Lucia Da’Mas (PRTB-São Caetano), Leo da Apraespi (PMB-Ribeirão Pires), Rosi de Marco (PSDB-Ribeirão Pires) e Rosana Figueiredo (Rede-Ribeirão).

Para a socióloga doutoranda da Unicamp e militante da Marcha Mundial das Mulheres Thaís Lapa, há pouco estímulo para que as mulheres entrem e permaneçam na política. “Muitas vezes há presença até majoritária de mulheres nas organizações, mas elas não estão nos espaços de poder e de representação. Uma das razões centrais é o pouco estímulo dessas organizações às candidaturas que, mesmo com as cotas, não tem um estímulo monetário”, disse ela, que aponta existência de cultura machista e conservadora no Grande ABC. “Se a população é machista, acabam escolhendo candidaturas machistas para que seja mais aceita pela sociedade.”

Última prefeita da região, Maria Inês avalia que “há crescimento devagar, mas que poderia estar melhor” sobre o espaço da mulher. “Dificuldade maior é disputar com os homens. Querem que a gente seja candidata a vereadora, mas não aos cargos executivos. A mulher só será candidata se tiver condições para isso, tiver votos e chances muito fortes de ganhar.”

Vice-prefeita de São Caetano, Lucia Dal’Mas diz sentir a desigualdade de forma explícita. “São Caetano vem de cultura pouco machista. Vejo dificuldade porque a política acaba tomando muito tempo e normalmente as mulheres, principalmente aquelas com filhos, acabam tendo tempo limitado.”

“A política local é a expressão da desigualdade de gênero que as mulheres enfrentam em todos os espaços. No Grande ABC só tivemos três mulheres prefeitas. A mulher sofre mesmo estando numa região privilegiada. Da mesma forma que uma mulher ainda ganha salários menores que os homens nas mesmas funções, a desigualdade se expressa também no partido”, aponta Rosana Figueiredo.

Vice-diretora do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília) e autora do livro Feminismo e Política, a historiadora Flávia Biroli indica haver “filtros” pelos quais as candidatas têm de superar nos partidos. “Chama a atenção o fato de mulheres encontrarem barreiras para transformar essa atuação política em carreiras políticas. Essas barreiras estão presentes no cotidiano da sociedade. Elas são julgadas quando dedicam tempo a outras atividades de forma que interfere nos papeis convencionais.”

A dureza da realidade não parece impedir as candidatas de tentarem. “As mulheres nasceram para administrar, são administradoras natas. É muito importante a participação feminina na política”, destacou Rosi de Marco. Leo da Apraespi concordou: “Quanto mais mulheres melhor”.




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