Uma das faces mais interessantes da cultura brasileira, o sincretismo, vista pelo Giramundo Teatro de Bonecos. Concebida e dirigida por Álvaro Apocalypse, a peça Os Orixás estréia quinta-feira no Estado de São Paulo – o Giramundo, o grupo de teatro de bonecos brasileiro mais respeitado, é mineiro – no Sesc Santo André. O espetáculo é indicado para maiores de 12 anos.

Os Orixás reúne 40 bonecos de aproximadamente 80cm de altura manipulados por seis marionetistas (Antônio Rodrigues, Beatriz Apocalypse, Diana Leite, Júnia Melillo, Rooney Tuareg e Ulisses Tavares). A peça reflete a influência da cultura africana na formação da brasileira.

O espetáculo estreou no ano passado, em Belo Horizonte. “Já tínhamos feito a Trilogia Brasil, com Cobra Norato (sobre a cultura indígena), O Guarani (sobre a portuguesa) e Tiradentes (sobre a Inconfidência Mineira). Faltava, então, uma peça dedicada à cultura negra”, diz Apocalypse. Foi preciso um ano de pesquisa e mais seis meses para a criação dos bonecos na oficina do Giramundo, na qual trabalharam, “intensivamente”, cerca de dez pessoas.

A montagem aborda a criação do mundo e do homem segundo os orixás, deuses africanos que representam forças da natureza. Iemanjá, por exemplo, é a divindade das águas; Xangô, dos raios e trovões; Ogum, das armas e do ferro. “Também coloquei um casal de humanos e uma mãe-de-santo”, afirma Apocalypse.

Sete histórias compõem o espetáculo. Dentro de cada uma há diversos orixás. “Entre eles, relações de amor e ódio, e nisso se parecem com os deuses gregos”, diz Apocalypse, que procura retirar do candomblé o preconceito que o envolve. “Os orixás são demonizados, mas é preciso conhecer o candomblé, que não faz proselitismo como algumas seitas, para se ter uma idéia melhor do que ele é.”

Durante o processo de pesquisa, o católico Apocalypse freqüentou reuniões do grupo de candomblé Estrela do Oriente, em Belo Horizonte. “Interessei-me pelos mitos e comecei a pesquisar livros. Alguns deles achei em sebos de São Paulo. Peguei também toda a obra do (pesquisador e fotógrafo) Pierre Verger. A peça é inspirada no ritual do grupo, que é fiel às tradições. Só de observá-lo aprendi muita coisa”.

Os Orixás integra o evento Mundo Giramundo – A Cidade dos Bonecos, composto por uma exposição, sete peças – quatro delas para crianças – e oficinas. Fundado em 1970 por Apocalypse, Terezinha Veloso e Maria do Carmo Vivacqua Martins, o Giramundo tem um repertório de 20 espetáculos, já se apresentou em dez países e possui vários prêmios.

Os Orixás – Teatro de bonecos. Texto e direção de Álvaro Apocalypse. Com o Giramundo Teatro de Bonecos. De quinta a domingo, às 20h. No Sesc Santo André – r. Tamarutaca, 302, Santo André. Tel.: 4469-1200. Ingr.: de R$ 4 a R$ 10. Recomendado para maiores de 12 anos, acompanhados por responsáveis.