Economia Titulo Crise
Mercedes coloca mais 500 funcionários em licença remunerada

Ação é adotada para ajustar produção à queda
na demanda por caminhões e ônibus novos

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
31/05/2016 | 07:25
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Anderson Silva/DGABC


A Mercedes-Benz colocou ontem mais 500 funcionários da fábrica de São Bernardo em licença remunerada. Com isso, chega a quase 1.800 o total de operários afastados – outro grupo, de cerca de 1.300, já estava em casa desde fevereiro. O objetivo da medida é ajustar a produção à queda na demanda por ônibus e caminhões zero-quilômetro no País: as vendas desse tipo de veículo caíram 35,29% no primeiro quadrimestre de 2016 na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).

Segundo a multinacional alemã, o volume de produção de veículos comerciais da marca no Brasil recuou ao patamar de 1984, enquanto o nível de vendas voltou ao ano de 1999. A informação vai ao encontro dos dados divulgados na semana passada pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista, segundo os quais, a indústria do Grande ABC opera com somente 56% de sua capacidade instalada. Ou seja, 44% de ociosidade. Na Mercedes, esse percentual chega perto de 50%.

O início do afastamento de mais uma turma coincide com o fim do período de vigência do PPE (Programa de Proteção ao Emprego), que acaba hoje. O plano emergencial foi lançado pelo governo federal no ano passado e permite que as empresas comprovadamente afetadas pela crise econômica reduzam temporariamente a carga horária e os salários pagos aos trabalhadores. Mesmo após o término, o acordo prevê mais dois meses de estabilidade aos operários da fábrica.

Desde o início do mês passado, a empresa, que foi a primeira montadora a aderir ao PPE no País, já sinalizava que não tinha intenção de prorrogar a vigência do programa. No dia 4 de maio, o presidente da Mercedes para a América Latina, Philipp Schiemer, afirmou, durante evento de aniversário da montadora, que o plano perdera a utilidade e que não resolveu os problemas de excesso de pessoal na fábrica, cujo excedente estimado é de aproximadamente 2.000 funcionários. A planta hoje possui cerca de 9.800 empregados.

O anúncio gerou protesto por parte dos trabalhadores, que chegaram a paralisar a produção por um dia para forçar a empresa a negociar com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Apesar da pressão, a montadora não recuou na sua decisão de não prorrogar o PPE. A empresa diz, entretanto, que adotou outras medidas para preservar a mão de obra, como a própria ampliação da licença remunerada. Ao longo do ano passado, a multinacional lançou mão de outros mecanismos de ajuste, como o lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), modelo em que o governo federal, por meio do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), paga parte dos salários dos participantes – o contrato de trabalho pode ser suspenso por período de dois a cinco meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador; se for mantido o afastamento do mesmo pessoal, a empresa passa a arcar com valor integral do salário. Ao adotar a licença remunerada, a Mercedes baixa a produção, para adequá-la ao ritmo do mercado e economiza em vale-transporte, vale-refeição e também na compra de insumos para a fábrica e na conta de luz.

Metalúrgicos farão assembleia amanhã de manhã para deliberar qual será a postura dos operários diante da negativa da empresa em prorrogar o PPE. A previsão é a de que haja um ato em frente à fábrica para forçar a direção da multinacional a reabrir o canal de negociação, de modo que se evite possíveis demissões após o período de estabilidade.

PDV - Outra ferramenta lançada pela empresa para tentar reduzir o nível de mão de obra é a abertura, também a partir de hoje, de PDV (Programa de Demissão Voluntária), cujo prazo para adesões vai até o dia 8 de julho. Está sendo ofertado o equivalente a meio salário adicional por ano mais um incentivo que vai variar conforme o tempo de casa de cada um. O limite a ser pago por colaborador é de R$ 115 mil – em programa semelhante no ano passado, o teto era de R$ 65 mil. 




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