De meados da década de 20 até 1983, Santo André e outras cidades da região viram circular por suas ruas um ator italiano conhecido Totó. Ele esteve presente, por exemplo, na inauguração do Teatro Conchita de Moraes, em 1959. Estava no palco, atuando. Mas Totó também circulou muito. Comandou um programa na TV Excelsior, atuou em filmes de Mazzaropi e dividiu mesa de bar com gente como Costinha e Adoniran Barbosa, seus amigos. Totó, ou Nicolau Guzzardi (1911-1983), pode ter sua memória resgatada por um projeto encabeçado pela pesquisadora andreense Denise Alves e recém-aprovado pela lei de incentivo à cultura de Santo André (nº 8.555/03).
O Projeto Memória Totó prevê a impressão de mil exemplares de um livro com 250 páginas. A publicação terá a reprodução de cerca de 50 imagens, entre fotos, ilustrações, cartazes de espetáculos e reportagens de jornais. A biografia do artista será reconstituída por meio de depoimentos da viúva do artista, a atriz Amor Faya, e de outros parentes e amigos. Amor se mudou recentemente de Praia Grande para Santo André exclusivamente para colaborar com o projeto.
E os trabalhos já começaram, mas o atual estágio é o de captação de recursos. A equipe - além de Denise, trabalham o produtor cultural André Luiz Alves e a jornalista e dramaturga Cynthia Zucchi Matozinho, todos de Santo André - tem um ano para obter R$ 77.401,32 junto a patrocinadores andreenses. Conforme permite a lei, o "contribuinte incentivador", que pode ser pessoa física ou jurídica, deduz o patrocínio do ISS (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza) ou do IPTU (Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana).
Segundo a pesquisadora, o objetivo do projeto é meramente cultural. Os livros não serão comercializados. "É um trabalho de resgate da memória de Santo André. Totó tem uma história um pouco diferente daquela comum do migrante que chega para trabalhar na linha de produção. Ele se recusou para se dedicar só à arte", conta Denise.
O garoto Nicola chegou à cidade da região em meados da década de 1920. O pai lhe arrumou empregos como vendedor de peixes e barbeiro. Até o dia em que o rapaz partiu, sem avisar ninguém, acompanhando a trupe de um circo. Adotou o nome artístico de Totó, para homenagear o comediante italiano Antonio de Curtis, que usa o mesmo apelido. Quando naturalizou-se brasileiro aproveitou para mudar o primeiro nome, de Nicola para Nicolau.
"Totó não foi um simples ator. Ele tinha o ideal de levar o teatro a várias cidades. Com isso, é reconhecido em muitos lugares, ganhou até um busto em frente a uma biblioteca de Araraquara (interior de São Paulo)", diz a pesquisadora.
Reconstituir - A história de Totó terá de ser recuperada por meio da lembrança de seus contemporâneos. A mulher Amor Faya já foi entrevistada e, entre os parentes, ainda faltam os quatro filhos vivos (um morreu), a irmã e o genro. Outras pessoas que podem contribuir são Maria Clélia Daniel - viúva de Bruno José Daniel, um grande amigo do ator - e o bailarino Ruslan Gawriljuk, de Santo André, que fazia as coreografias de balé para Totó.
Entre as histórias já recuperadas está o dia em que Getúlio Vargas entrou no camarim após uma apresentação do ator dizendo-se emocionado. Tempos difíceis para Totó ocorreram durante a ditadura dos anos 1960, quando estava complicado viver de "pecinhas melodramáticas". Ele, então, teve de abrir uma loja de roupas chamada O Primo Pobre, na rua Cel. Oliveira Lima, na área central de Santo André. Nicolau Guzzardi morreu em 1983, no palco, durante a encenação de uma peça no Teatro Paulo Eiró, em São Paulo.
O trabalho mais árduo para a equipe será identificar as datas. A viúva Amor Faya conta com um extenso material fotográfico, cartazes e recortes de jornal, mas quase nada é datado. Além disso, o estado de conservação não é dos melhores. "Depois de publicarmos o livro, pretendemos conseguir verba para restaurar todo esse material", afirma Cynthia.
Uma revista de 1962 mostra o ator em atuação no programa Bate-Solas, da TV Excelsior. Uma dica para quem quer ver Totó em ação é a locação do filme O Corintiano (1966), de Amácio Mazzaropi, no qual ele faz o antagonista, o palmeirense Leontino.
Depois de captar os recursos, a equipe terá um ano para finalizar o projeto. Pessoas que queiram colaborar com informações sobre o ator ou com patrocínio podem entrar em contato por meio do telefone 4972-1015 e pelo e-mail nitroala@uol.com.br.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.