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PIB chileno pode ter o pior resultado da década
Do Diário do Grande ABC
02/11/1999 | 20:36
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A economia chilena deve encolher em 99, depois de exibir altas taxas de crescimento ao longo da década. As estimativas dos analistas de instituiçoes privadas e das universidades oscilam entre uma queda de 0,7% a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB). As estimativas do Banco Central chileno sao de estabilidade no PIB deste ano - mesmo assim o pior resultado da década para o Chile, que cresceu entre 1991 e 1998 a uma taxa média de 7% ao ano.

A instabilidade no Chile provocada pela crise asiática e desvalorizaçao brasileira quebraram a tradiçao no país de maior resistência aos choques externos. O Chile foi um dos primeiros países na América Latina a adotar as reformas liberais.

Mas a receita de reformas, estabilidade, forte abertura econômica e restriçao a entradas de capitais de curto prazo, que deu certo durante a crise mexicana, nao funcionou desta vez. A crise asiática e a desvalorizaçao no Brasil golpearam duramente a economia e seu impacto foi agravado, segundo diversos analistas, por erros de política econômica e atrasos na reaçao à crise por parte das autoridades.

De qualquer forma, analistas afirmam que a recuperaçao da economia será mais rápida no Chile do que em outros países da América Latina, como Argentina e Brasil, e já no ano que vem, o país pode ter taxa de crescimento de cerca de 5%.

Para o ex-ministro e atual consultor Enrique Correa, a idéia era de que o Chile era invulnerável aos choques externos, "mas a crise demonstrou que ninguém é invulnerável".

O primeiro impacto sobre o Chile ocorreu com a queda das exportaçoes para a Asia, ainda entre o fim de 97 e o início de 98. O Chile concentrava 30% de suas exportaçoes para a regiao, principalmente suas vendas de cobre (principal produto de exportaçao até hoje, representando cerca de 40% do valor total das vendas ao exterior).

A situaçao foi agravada pela retraçao econômica brasileira e pela desvalorizaçao do real, que diminuiu também as exportaçoes para o país (o Brasil é o quarto maior importador de produtos chilenos), e somou-se à queda dos preços internacionais de commodities. Há dois meses, em setembro, o Chile extinguiu a banda de flutuaçao cambial, depois de tê-la elevado e alargado diversas vezes. Deixou o mercado de câmbio livre, e recentemente o dólar atingiu cotaçoes históricas de alta, em torno de 550 pesos.

Analistas afirmam que o governo custou para reagir, demorando muito para deixar a moeda flutuar e aumentando muito as taxas de juros.

Ao longo do ano passado, por falta de liquidez no mercado financeiro, as taxas de juros chegaram a ultrapassar 100% por alguns períodos, com interrupçao temporária das linhas de crédito, que costumam ser fartas no Chile. Hoje as taxas já estao normalizadas para os patamares chilenos - o juro máximo para operaçoes de crédito em moeda estável está em torno de 11% ao ano. Mas os períodos de instabilidade causaram insegurança entre os empresários, forte reduçao do investimento, alta na taxa de desemprego e forte queda na produçao industrial.

Os primeiros sinais de recuperaçao vieram em setembro, com elevaçao do índice de produçao industrial e uma queda muito pequena no desemprego. Mas a melhora da economia no último trimestre nao deve ser suficiente para compensar as fortes perdas do início do ano.

Para o economista Guillermo Patillo, da Universidade de Santiago, a economia chilena deve fechar o ano com queda de 0,4% do PIB. Franco Parisi, da Universidade do Chile, prevê retraçao de 0,5% ou, na melhor das hipóteses, crescimento zero. As estimativas mais pessimistas, de setores do mercado financeiro, sao de queda de até 0,7% do PIB.

Entre os analistas chilenos, há consenso de que a principal causa do choque foi externa, mas que a açao do Banco Central contribuiu para acentuar a crise, aliada a uma descoordenaçao entre o BC e o ministério da Fazenda. No Chile, o BC é independente do governo. "Se o governo tivesse cortado os gastos a tempo, e tivesse havido mais transparência nas relaçoes entre Fazenda e Banco Central, talvez nao fosse necessário passar por uma recessao", diz o consultor Enrique Correa. Para o diretor do Centro de Estudos de Políticas Públicas da Universidade do Chile, Osvaldo Sunkel, "erros de política econômica" acentuaram a retraçao.




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