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Casa do Hip-Hop abre espaço para a cultura de rua
Do Diário do Grande ABC
13/03/2000 | 16:00
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Se, nos anos 70 e 80, o ponto de encontro da cultura de rua hip-hop era a Rua Sao Bento e a 24 de Maio, atualmente, essa cultura de rua tem, desde julho, um espaço garantido para todas as suas manifestaçoes artísticas, em Diadema: a Casa do Hip-Hop, que funciona no Centro Cultural Canhema (Rua 24 de Maio, 38). Esse local nao é o único que está aberto para o hip-hop. Felizmente, essa cultura nascida na periferia tem-se fortalecido como alternativa para inúmeros jovens pobres, que quase nao têm opçoes culturais e profissionais, em todo o Brasil. No entanto, o novo ambiente de Diadema, além de concentrar todas as artes, está promovendo, de forma organizada, o casamento (ideal) entre cultura e cidadania.

Lá, o adolescente encontra uma possibilidade de criar, trocar e dar informaçoes e conviver com decência - item que a rua, de onde se originou o hip-hop, nao oferece. "O hip-hop faz sentido somente se ele consegue agregar outras coisas importantes, como a noçao de respeito, cidadania, reflexao e educaçao", afirma o pioneiro dançarino de break dance (b.boy) e professor da Casa, Marcelinho Back Spin. "Por estar perto, vemos o progresso, que está na expressao dos olhos, que no início nem olham pra nós e depois sao entusiasmados", continua. "Além do trabalho com o lado artístico, estamos preocupados com a informaçao, seja ela sobre a cultura hip-hop ou questoes como a prevençao sexual e o preconceito".

O último sábado de fevereiro comprovou esse compromisso em tratar, também, de temas difíceis por meio do hip-hop, no evento "Hip-Hop em Açao", que ocorre no último sábado de cada mês. O significado do papel social e cultural da mulher esteve em questao no debate promovido pela ONG Instituto da Mulher Negra (Geledés). A tarde, foram abertas atividades para as grafiteiras, DJs, rappers e b.girls. "A mulher ainda encontra resistência dentro do hip-hop e isso ajuda a quebrar a barreira", diz a coordenadora Rosana Ribeiro.

História - A história do hip-hop em Diadema vem do início dos anos 90. Uma série de oficinas sobre a cultura foram realizadas em 1993 por um grupo de pioneiros da cultura que, como atualmente, contavam com o apoio da prefeitura. Estavam nele os b.boys Nelson Triunfo e Marcelinho, que sao oficineiros fixos da Casa. Esse fato promoveu a sua contínua expansao. Segundo Rosana, que também participou da fase anterior, a Casa do Hip-Hop traz um novo sentido para a cultura. "A nossa preocupaçao é com a formaçao do jovem que freqüenta aqui", afirma. "Quando criamos a Casa, dentro do Centro Cultural Canhema, envolvemos os pioneiros na cultura e outras atividades para somar, como as oficinas de percussao". Locais como a Casa sao poucos no Brasil. Segundo Rosana, é a única que possui a estrutura completa para abrigar os quatro elementos. Em geral, o hip-hop se organiza em posses (modelo simplificado de açao coletiva), que sao semelhantes às ONGs. Elas nascem e sobrevivem dentro das próprias comunidades periféricas. E por serem muito pobres, atuam com poucos recursos, chegando muitos vezes a nao ter nem sede. Sao de extrema importância, pois ali surgem as reflexoes sobre a cultura de rua. A Casa tem ainda o apoio da empresa Colorgin, que fornece o spray aos grafiteiros.

O hip-hop - que ainda é mais conhecido pelo rap - tem como objetivo ser a voz de uma juventude quase sem perspectivas. A cultura é composta por quatro alicerces: o DJ (pessoa que traz a música para dançar), o MC (a voz que dialoga com os que dançam), o B Boy (dançarino) e o grafiteiro (expressa a ideologia por meio das artes plásticas). Na Casa, todos os elementos estao representados. Marcelinho Back Spin, o veterano Nelson Triunfo e o b.boy Banks Back dao aulas de break dance. Tota e Chorao dao aulas de grafite. DJ Dri ensina discotecagem e neste mês, aulas de técnica vocal, que se destinam ao aprimoramento do rapper, serao dadas por Alexandre Pereira.

Pixú, integrante da banda Mafuá, passa seu conhecimento sobre percussao. Além disso, há a importante colaboraçao de Nino Brown, considerado o arqueólogo da cultura. As atividades de hip-hop ocorrem sempre às terças, quintas e sábados, a partir das 9 horas. As oficinas têm duraçao de duas horas e o curso de seis meses. A Casa tem cerca de 850 alunos inscritos. E, no sábado, com o "Hip-Hop em Açao", 300 pessoas passam por ela nesse dia. Hip-hop é uma cultura engajada, na qual as pessoas se divertem, se distraem, se conscientizam e se politizam.




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