Depois de trazer à regiao pianistas de peso como Arnaldo Cohen, Jean-Louis Steuerman e Nelson Freire, a série Concertos Grande ABC leva neste domingo, ao Teatro Municipal de Santo André, mais um grande pianista brasileiro radicado no exterior, José Feghali. Ele será o solista de um concerto da Orquestra Sinfônica de Santo André, regida por Flavio Florence. A apresentaçao começa às 20h e tem entrada franca.

  O programa de hoje será essencialmente romântico. Na primeira parte, Feghali interpretará, sozinho, Andante Spianato e Grande Polonaise op. 22, de Chopin. Na seqüência, acompanhará a sinfônica no Concerto para Piano e Orquestra, de Schumann. Na segunda parte, apenas a orquestra executará Sinfonia nº 9, a Grande, de Schubert.

  Em entrevista ao Diário, Feghali disse que escolheu a polonaise por considerá-la "uma peça de muito brilho" e também porque acredita que fará uma boa combinaçao com a composiçao de Schumann. Esta última, aliás, nunca foi executada pelo pianista no Brasil.

Pedal falso - O carioca Feghali é um dos instrumentistas que o Brasil perdeu cedo por nao oferecer melhores condiçoes de estudo e aprofundamento na música erudita. Dono de um talento nato, executou suas primeiras notas ao piano aos 3 anos, no instrumento de seu irmao mais velho, Fernando.

  "Minha mae ficava trabalhando no quarto enquanto meu irmao fingia estar estudando piano na sala. Mas, na verdade, era eu quem estava tocando", conta. "Ele era esperto, mas um dia foi descoberto (risos)".

  Desvendada a brincadeira, o pequeno José passou a se dedicar com seriedade ao instrumento. Seu pai construiu um pedal falso, de metal, para que o menino pudesse alcançá-lo e, aos 4 anos, começou a ter aulas.

  Seu primeiro recital foi aos 5 anos, no antigo auditório da Mesbla, no Rio de Janeiro. Na ocasiao, apresentou três composiçoes próprias mais quatro outras peças. Já adolescente, a sala de sua casa foi emprestada para um recital, no qual compareceram Antonio Meneses (violoncelo) e Nelson Freire.

  "Toquei no ensaio com eles, e o Freire sugeriu que eu fosse a Londres estudar com a pianista italiana Maria Cucio", conta. Entao, aos 15 anos, embarcou para a Inglaterra. "Foi um choque cultural", lembra.

  No entanto, conseguiu uma boa base para seu trabalho naquele país e, em 1985, sagrou-se vencedor do conceituadíssimo prêmio Van Cliburn, em Nova York. "O prêmio foi um divisor de águas em minha carreira", admite, lembrando que, só naquele ano, realizou 92 concertos.

  Hoje, aos 39 anos, Feghali figura entre os grandes pianistas da música erudita internacional. Reside em Fort Worth, no Texas, e vem todo ano ao Brasil para umas poucas apresentaçoes. O concerto deste domingo é uma dessas raras oportunidades para conferi-lo de perto.