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Mulheres reclamam lugar na reconstruçao da paz
Do Diário do Grande ABC
09/06/2000 | 11:35
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As mulheres, que asseguram a vida cotidiana à populaçao civil durante os conflitos armados, precisam estar nas mesas de negociaçoes se há verdadeiramente o desejo de construir a paz, estimaram numerosas participantes na sessao da ONU destinada a revisar as metas fixadas na Conferência da Mulher de Pequim, em 1995.

Amira e Rebecca sao sudanesas. Amira vive no Sudao, em cujo Leste se multiplicam há semanas os refugiados eritreus. Rebecca vive no Quênia, onde milhares de sudaneses se encontram exilados, fugindo de uma guerra civil que já se prolonga por mais de 25 anos no Sul desse país.

Ambas estao em Nova York participando na conferência internacional que realiza o seguimento da conferência de Pequim, junto com outras seis representantes das mulheres sudanesas, de etnias, religioes e partidos políticos diferentes. Todas militam desde 1998, local, nacional e internacionalmente, para que as mulheres participem nas negociaçoes de paz no chamado Chifre da Africa.

``Nós carregamos tudo nas costas quando os homens estao em guerra, nós devemos alimentar as crianças, nossos parentes idosos e tratar dos feridos nos combates. Nossos filhos deixam a escola, a universidade, para lutar. Se os homens que levam os fuzis compartilhassem conosco esses sofrimentos, suspenderiam a guerra', afirmou Rebecca.

``Nao queremos combater os homens, o que queremos é que eles entendam que devem sentar-se em torno de uma mesa e discutir. O Sudao é rico em petróleo, em urânio, suas terras sao férteis, nao precisaríamos recorrer à ajuda externa se conseguíssemos a paz', assinalou Amira.

Várias reunioes foram realizadas entre quarta-feira e quinta-feira na ONU, paralelamente às sessoes plenárias, agrupando especialistas de alto nível e de ONGs ativas nos países em guerra ou onde já houve, como em Serra Leoa, Bósnia, Indonésia, Uganda ou Camboja.

Nos Bálcas, as mulheres esconderam seus maridos e filhos para evitar que fossem recrutados por qualquer uma das partes em guerra. Na Colômbia, elas organizaram a marcha das mulheres pela paz nas regioes mais violentas do país. Nas Filipinas, criaram zonas de paz no campo para colocar seus filhos fora do alcance da guerrilha.

Depois da guerra, as mulheres sérvias e muçulmanas se reencontraram pela primeira vez e isto tem sido ``como olhar-se em um espelho', disse uma delas ao comparar suas experiências.

Na última quarta-feira, a delegada da Croácia defendeu ante a assembléia geral que ``as mulheres desempenhem um papel intrínseco nos processos de reconciliaçao' através de ``programas de açao nas zonas devastadas pela guerra', inspirados em iniciativas de mulheres croatas.

``A ausência de mulheres nas negociaçoes de paz é a origem dos dramáticos atrasos na reconstruçao econômica' dos países implicados em uma guerra, afirmou Noeleen Heyzer, diretora da Unifem (fundo de desenvolvimento da ONU para as mulheres).

Pela primeira vez, uma delegaçao de mulheres da Unifem participará como conselheira nas conversaçoes de paz para Burundi, que se realizarao em julho em Arusha (Tanzânia).




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