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'O PSDB chegou a seu limite em São Paulo', diz Edinho Silva
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
31/08/2009 | 07:05
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O PSDB está no comando do Estado de São Paulo há 15 anos ininterruptos. Foram duas gestões de Mário Covas (1995 a 2001), duas de Geraldo Alckmin (2001 a 2006) e uma com José Serra (2007 a 2010). Mas para o presidente estadual do PT, Edinho Silva, essa supremacia tucana está desgastada e chegando "no seu limite". "Eles não tem conseguido oferecer respostas", argumenta. Para o dirigente petista, a liderança dos nomes do PSDB nas pesquisas à Presidência - com Serra à frente da ministra-chefe da Casa Civil Dilma Roussef - e ao Palácio dos Bandeirantes - com Alckmin na ponta em diversos cenários - é justificada pelos nomes conhecidos apresentados ao eleitorado até o momento. Segundo Edinho, o PT jamais governou São Paulo porque nunca repetiu candidatos nos pleitos, fato que considerou "o grande erro". Ele ressalta ainda que o fato de o STF (Supremo Tribunal Federal) não aceitar denúncia contra o deputado federal Antônio Palocci (PT-SP) restabelece a trajetória política do parlamentar. Mas ainda não o define com candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes. Além de analisar a conjuntura política no Estado, Edinho também avaliou o panorama nacional. Em entrevista exclusiva ao Diário, o dirigente afirma que a possível chapa na corrida presidencial do PV com Marina Silva "é uma operação do Serra", a candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ao Planalto "não interessa ao governo Lula" e "é natural" o PMDB indicar o vice para Dilma. Edinho comenta também que o PT chega "unido" ao PED (Processo de Eleição Direta), que será realizado em novembro.

DIÁRIO - Como está o ambiente no PT nesse momento pré-PED?
EDINHO SILVA - Nunca vi nosso partido tão unido como hoje. Nossa tradição é sempre estar envolvido em disputa interna, mas hoje não. Todas as resoluções em São Paulo foram aprovadas por unanimidade.

DIÁRIO - Como o sr. avalia a possível candidatura da ex-petista Marina Silva à Presidência pelo PV? Ela pode atrapalhar os planos do PT?
EDINHO - Não acredito e falo isso com muita segurança. Vai ser um projeto apresentado pelo governo Lula e o da oposição (formada por PSDB e DEM). Qualquer outra situação ficará em uma faixa de eleitorado muito restrita. A previsão da economia é crescer de 4 a 5 % no ano que vem. Isso coloca o governo na ofensiva. Minha avaliação é que a candidatura da Marina é, infelizmente, uma operação do Serra. O raciocínio é que vai entrar outra mulher, pois hoje há um movimento do eleitorado feminino que procura candidatas para votar. Mas a história da Marina é construída no PT. O PT não pode ser transformado em vítima dessa história. A vítima nesse processo é o PT, que construiu essa liderança, fez dela ministra. A Marina não é construção dela própria. É de um processo histórico em que o PT é o sujeito. Se ela achou que tinha problema com a legenda, que viesse para dentro fazer o debate.

DIÁRIO - Nesse linha, a candidatura do Ciro Gomes (PSB-CE), então, não seria um projeto do PT para distribuir votos e garantir segundo turno da eleição presidencial?
EDINHO - A candidatura de Ciro ao Planalto não interessa ao governo Lula. Ele é aliado de primeira hora, foi ministro leal, é um liderança do Nordeste, uma das principais bases do PT. Essa candidatura dividiria campo. Ele está dentro do projeto. A questão é qual papel irá exercer. Jamais vai romper com qualquer projeto de Lula. Ele tem críticas com alianças para garantir a governabilidade do governo (com o PMDB). O restante do projeto ele tem plena convicção que estamos no caminho correto.

DIÁRIO - O governo Lula não fica muito refém do PMDB nas discussões políticas?
EDINHO - Um governo liderado pelo presidente Lula não fica refém de ninguém. Ele tem hoje uma aprovação que lhe dá muita autonomia política.

DIÁRIO - O deputado Michel Temer é um nome natural para vice da Dilma?
EDINHO - É uma grande liderança, mas vai depender do PMDB, que é muito grande. Mas é claro que hoje a coisa mais natural é o PMDB pleitear a posição de vice. E é natural também que o Michel se coloque para compor a chapa. Mas até definir é um longo caminho.

DIÁRIO - Como fazer com que o grande nome do palanque seja Dilma e não Lula? Até que ponto se transfere voto?
EDINHO - A transferência não é 100%. Chega a uns 30%, daí para frente depende do candidato. Se o Lula transferir esse percentual, ela tem de buscar 21% para acabar no primeiro turno. Não podemos usar o parâmetro de comparação com o Lula porque é injusto. A Dilma está extremamente preparada. Vamos ter no cenário 16 anos de governo: oito de FHC e oito do Lula, apesar dos momentos distintos. O PSDB quer o debate sobre quem é o melhor gerente pós-Lula. Queremos debater projeto.

DIÁRIO - O pré-sal deve ser tema central da campanha presidencial?
EDINHO - Espero que seja, pois assim pelo menos vamos debater projeto.

DIÁRIO - A oposição não tem projeto?
EDINHO - Se tivessem já estariam debatendo. Primeiro, o governo do Estado foi para cima da política social do governo Lula. Agora lançam bolsa-desemprego, bolsa-disso, bolsa-daquilo. Não dá para criticar o maior programa de inclusão social do mundo, que não é socorro momentâneo. As crianças estão incluídas, há medição de resultado escolar, a família recebe assistência. Tem grande cruzamento de frentes.

DIÁRIO - O debate sobre reforma política não está atrasado demais?
EDINHO - Temos defendido isso: levantar a bandeira da reforma política urgentemente. A crise do Senado não é crise do PT, por mais que se tentou colocar esse carimbo nosso. Qual senador nosso está envolvido?

DIÁRIO - Não é do PT, mas foi o próprio PT mergulhou na crise, com a interferência do presidente Lula, o episódio do vai-não-vai do Mercadante...
EDINHO - O presidente Lula só disse que não era para haver uma execração pública sem que os fatos fossem apurados. Nós vimos o (deputado federal Antônio) Palocci (PT-SP) sendo execrado sem ser culpado. Foram 21 denúncias, e todas arquivadas. O que o presidente Lula chamou a atenção foi para isso. Queremos a apuração. E com esse cenário, com trincheira da oposição, não tem como apurar. Porque o Ministério Público, que é chamado o tempo todo para tantas coisas, não apura? Mas não apure somente um senador, apure todos. Qual é o jogo da oposição? No meio da crise do Senado forçar ruptura entre PT e PMDB para inviabilizar o governo um ano e meio antes de acabar. Se o Brasil ficar parado um ano e meio, a candidatura da Dilma (Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil) fica inviabilizada. Esse é o jogo eleitoral.

DIÁRIO - O arquivamento das denúncias contra o Palocci pode dar um andamento mais factível à candidatura petista de São Paulo?
EDINHO - O fato de o Supremo (Tribunal Federal) não aceitar (a denúncia) restabelece a trajetória política do Palocci. Ele é uma das maiores lideranças que construímos no último período. A Suprema Corte brasileira, longe do calor da política, isenta, avaliou o processo e optou por não acatar a denúncia. Qualquer outra questão fica menor. Se querem debater (a atuação dele) como ministro da Fazenda, prefeito de Ribeirão Preto é outra coisa. Podemos lançar qualquer figura pública que a oposição vai bater. Temos de enfrentar o debate. O Palocci está restabelecido. Agora, qual papel que ele vai cumprir em 2010 é outra questão.

DIÁRIO - Como o PT imagina que irá tirar o PSDB do governo diante da atual força do partido no Estado?
EDINHO - Penso que o PSDB fez um giro para o centro-direita, incorporou os setores mais conservadores da sociedade paulista e com isso fez maioria. Na história recente do Estado, vemos a falência do malufismo e logo desaparece o quercismo, que elegeu o (Luiz Antônio) Fleury (Filho). E vemos esse campo político chegado no seu limite. O PSDB apareceu como uma ruptura àquele cenário e é claro hoje que eles chegam no seu limite, pois não tem conseguido oferecer respostas para a população.

DIÁRIO - Como explicar as pesquisas, que colocam os tucanos na ponta?
EDINHO - Isso é recall (reconhecimento popular). O (Geraldo) Alckmin, por exemplo, foi governador, candidato à presidência, à Prefeitura de São Paulo... Não significa que o eleitorado avaliado por pesquisas agora vai ficar com ele. Vimos o (Gilberto) Kassab aparecer com 7% nas pesquisas iniciais e no fim ganhar a eleição da Capital. O grande erro do PT nesses anos todos foi nunca ter repetido uma candidatura. Eles (tucanos) estão no limite. Não pode o Estado de São Paulo ter um dos piores indicadores educacionais do País. O povo está sentindo isso. Não pode os grandes projetos de Saúde não ter resposta. Foram criadas marcas para a disputa eleitoral, não são programas. É inadmissível vermos policiais militares trocarem tiros com policiais civis em plena praça pública. Esse é a maior exemplo da falência da Segurança Pública. Hoje, são as guardas municipais que são cobradas. É a municipalização da Segurança, um grande erro. Temos de apresentar projeto alternativo que consiga enfrentar essas questões.

DIÁRIO - É tarde para o PT construir uma liderança em São Paulo?
EDINHO - Temos lideranças, falta escolher o nome. Qual o nome do PSDB para o Estado? Ainda há dúvidas. Se nem eles definiram, porque temos de definir?

DIÁRIO - Mas o PT já definiu a Dilma.
EDINHO - Mas é mais tranquilo, pois convergiu para a Dilma. Em São Paulo, não tem isso até o momento. Precisamos garantir um espaço de diálogo para que possa convergir. Não estamos parados. Eleição é ato de juntar não e espalhar. Temos juntado forças. O Emídio (de Souza, prefeito de Osasco) hoje é candidato. A Marta (Suplicy) não retirou seu nome. Há uma ala que apoia o Fernando Haddad (ministro da Educação). Arlindo Chinaglia (deputado federal) mantém seu nome no PT. Temos de ter cautela nesse momento.




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