Este anúncio surpreendente, que pode marcar uma reviravolta na busca de uma soluçao política para o conflito, ocorre no nono dia de bombardeios da Otan contra a Iugoslávia, em um momento em que uma catástrofe humanitária abate o Kosovo.

Em Genebra, o Alto Comissariado das Naçoes Unidas para os Refugiados (ACNUR) informou nesta quinta que 150 mil kosovares deixaram a província desde 24 de março passado, dia do início dos bombardeios da Otan à Iugoslávia.

A TV iugoslava exibiu um comunicado com as assinaturas dos dois líderes, datado de 1º de abril de 1999. No comunicado, Milosevic e Rugova "constatam que estao inteiramente de acordo no que diz respeito à opiniao comum a favor do processo político", estimando que os "problemas só podem ser resolvidos por meios políticos", continuou a fonte. Nas imagens transmitidas pela TV, os dois homens apareceram cumprimentando-se e conversando. Aparentando tensao em um primeiro momento, Rugova sorriu depois em várias ocasioes.

Em Bonn, o ministro alemao da Defesa, Rudolf Scharping, manifestou suas reservas a respeito da autencidade do comunicado exibido pela televisao sérvia.

Em Bruxelas, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Javier Solana, pôs em dúvida a liberdade de manobras de Rugova, acrescentando que prefere falar diretamente com ele. "Nao acho que Rugova haja livremente", disse Solana, depois do duplo pedido feito ontem pelo próprio Rugova à Otan para que suspenda os ataques contra a Iugoslávia e a Belgrado para que coopere.

Vigiado pela polícia e mostrando profunda preocupaçao com a gravidade da situaçao, Rugova falou a jornalistas de sua casa em Pristina sobre a necessidade de suspensao dos bombardeio. "É preciso parar com tudo (referindo-se aos ataques). É preciso trabalhar para isto. É preciso que Belgrado também coopere", disse. O encontro entre a imprensa e Rugova, que falou pela primeira vez desde o início dos ataques da Otan, foi organizado pelo Centro de Informaçao Sérvia (MC) em Pristina.

Rugova voltou a Pristina, capital do Kosovo, no dia 20 de março, depois do fracasso das negociaçoes em Paris sobre a questao da província separatista. Desde entao, ele nao apareceu em público, criando vários boatos sobre seu paradeiro.

A reuniao entre Milosevic e Rugova ocorreu paralelamente à tentativa de mediaçao, em Belgrado, do ministro das Relaçoes Exteriores do Vaticano, Jean-Louis Tauran, que viajou para a capital iugoslava com uma mensagem pessoal do Papa Joao Paulo II para o presidente Slobodan Milosevic, pedindo "trégua de Páscoa" nos combates. A mesma mensagem foi enviada também ao presidente americano, Bill Clinton, e ao secretário-geral da Otan, Javier Solana.