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Clones dão lugar a imigrantes italianos na Globo
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
16/06/2002 | 18:28
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Terminou a “globolização” das arábias e começa nesta segunda-feira, a partir das 21h27, a “globolização” dos imigrantes italianos. Esperança, a nova novela das oito da Rede Globo, repete a aclimatação da italianada à pasteurização da emissora. O sacrifício da história em favor da emotividade farsesca vai na mesma balança de Terra Nostra, também escrita por Benedito Ruy Barbosa e também sobre a trajetória transatlântica dos patrícios de Dante rumo ao Brasil. A promessa é de muito ecco para lá, maledeto para cá – enfim, a rotina da teledramaturgia que adora a Itália exportadora de temas e os falsos baianos de Renascer e Porto dos Milagres. Um protocolo parcialmente desfeito com a primeira “globolização” do islamismo, nos 221 capítulos de O Clone, a obra de Glória Perez concluída na última sexta-feira.

O último capítulo garantiu recorde de audiência ao alcançar 62 pontos de média e picos de 68. Recordista e frustrante. O arremate de O Clone foi mimeografado de tantas outras novelas globais, embora sem a mesma insistência nas visitas a altares e maternidades, comum nos capítulos derradeiros do teledramalhão. Apesar das aparências dramatúrgicas, nem todos tiveram seu final feliz na novela de Glória.

A começar pelo Islã, tratado aos confetes. Se não estava a arrancar os cabelos por causa das aventuras à Cleópatra de Jade (Giovanna Antonelli), o núcleo árabe de O Clone passava os dias a festejar, com uma odalisca-dançarina por metro quadrado. O casamento de Ali (Stênio Garcia) e Zoraide (Jandira Martini) não foi diferente, com uma cosmética pretensamente árabe sobre o concubinato patrão-governanta. A Noviça Rebelde chegou ao Marrocos.

O feminismo sofreu nas mãos de Glória Perez. A independência do mulherio foi sintoma de mau-caratismo no personagem de Alicinha (Cristiana de Oliveira), esteve nas raias da fantasia com a fuga à Sherazade de Nazira (Eliane Giardini) e, no caso de Jade, foi trocada pela volta do carcereiro Lucas (Murilo Benício). O próprio monoteísmo passou maus bocados, no desrespeito às leis do Corão para deixar correr o barco do amor e na caricaturização do Evangelho com os golpes de esquina pregados por Ligeirinho (Eri Johnson) e Raposão (Guilherme Karan).

Pobre destino o dos atores de cinema que se renderam à TV, como Antônio Pitanga (o Tião) e Reginaldo Farias (Leônidas), esfolados na trama como escada para os protagonistas. E o Bar da Jura (Solange Couto), com suas populações de convidados, encerrou os dias de versão térrea dos camarotes de cervejaria, com a presença dos cantores Falcão e Elymar Santos e da socialite Narcisa Tamborindeguy. Jargões como “Não é brinquedo, não” e “Bom te ver” nunca mais! Foram tarde também os roucos trinados de Marcus Vianna e seu exaustivo “somente por amor...”. Que Esperança economize nos melôs emotivos. Inshallah!




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