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FHC oferece abrigo no Brasil a refugiados afegãos
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
10/11/2001 | 21:23
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O 'esforço de guerra' brasileiro na campanha militar contra o terror, anunciado neste sábado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, favorece muito mais o Afeganistão do que os Estados Unidos. Abrindo a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, FHC afirmou que o Brasil está disposto a receber refugiados afegãos que queiram abrigo para escapar dos conflitos.

"O Brasil espera que, apesar de todas as circunstâncias, não se vejam frustradas as ações de ajuda humanitária ao povo do Afeganistão. Mais ainda: dentro de nossas possibilidades, estamos dispostos a abrigar refugiados que queiram integrar-se ao nosso país", discursou.

A 'agenda humanitária' foi característica marcante do discurso de FHC na ONU. "É natural que, após 11 de setembro, os temas da segurança internacional assumam grande destaque. Mas o terrorismo não pode silenciar a agenda da cooperação e das outras questões de interesse global", pontuou.

Ele disse reconhecer o "direito de defesa" dos americanos, em conseqüência dos atentados terroristas de setembro, mas afirmou que os esforços contra o terror não podem ficar limitados à mera ação militar. "A Carta das Nações Unidas reconhece aos Estados membros o direito de agir em auto-defesa. Isto não está em discussão. Mas é importante termos consciência de que o êxito na luta contra o terrorismo não pode depender apenas da eficácia das ações de autodefesa ou do uso da força militar de cada país", apontou. "Há coisas que são óbvias, mas que merecem ser repetidas: a luta contra o terrorismo não é, nem pode ser, um embate entre civilizações, menos ainda entre religiões", concluiu adiante.

Destacando o prêmio Nobel da Paz ganho este ano pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, Fernando Henrique elogiou o trabalho da Organização. "O terrorismo é o oposto de tudo o que a ONU representa. Destrói os princípios de convivência civilizada. Impõe o medo e compromete a tranqüilidade e segurança de todos os países".

No combate ao terrorismo, Fernando Henrique pregou ações diplomáticas: uma campanha de conscientização dos viciados em drogas, mostrando que eles beneficiam, ainda que indiretamente, atividades criminosas, e a extinção dos paraísos fiscais. "Coloquemos um fim a esses abrigos da corrupção e do terror, até hoje admitidos complacentemente por alguns governos", afirmou.

Globalização solidária - A 'agenda humanitária' não faltou quando FHC deixou de lado o assunto terrorismo. Foi com esse mote que falou, entre outros assuntos, sobre globalização e quebra de patentes – dois temas em que Fernando Henrique tem 'batido o pé' numa sintonia nem sempre consoante aos interesses de Washington.

"O caminho do futuro impõe utilizar as forças da globalização para promover uma paz duradoura, baseada, não no medo, mas na aceitação consciente por todos os países de uma ordem internacional justa", afirmou. "Pensemos na causa do desenvolvimento, um imperativo maior", pediu.

"A globalização só será sustentável se incorporar a dimensão da justiça. Nosso lema há de ser o da 'globalização solidária', em contraposição à atual globalização assimétrica", discursou.

"O Brasil, que vem liderando negociações para garantir maior acesso aos mercados e melhores condições humanitárias para o combate às doenças, buscará encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessária preservação dos direitos de patente e o imperativo de atender aos mais pobres", disse. "Somos pelas leis de mercado e pela proteção à propriedade intelectual, mas não ao custo de vidas humanas". "A vida há de prevalecer sobre os interesses materiais", destacou.

Fernando Henrique aproveitou o discurso para passar seu recado, já antigo, sobre o fim das barreiras impostas pelos países ricos aos produtos de vindos das economias emergentes. "No comércio, já é hora de que as negociações multilaterais resultem em maior acesso dos produtos dos países em desenvolvimento aos mercados mais prósperos".

Sintonia - Na defesa de uma maior participação brasileira nas questões internacionais, Fernando Henrique defendeu a criação de um Estado palestino "democrático, coeso e economicamente viável" – opinião compartilhada com Washington.

"O direito à autodeterminação do povo palestino e o respeito à existência de Israel como Estado soberano, livre e seguro são essenciais para que o Oriente Médio possa reconstruir seu futuro em paz", discursou. "Esta é uma dívida moral das Nações Unidas", concluiu.

Outra reivindicação antiga foi feita por Fernando Henrique, inclusa na defesa de uma "ONU forte e ágil": o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança.

"Como todos aqueles que pregam a democratização das relações internacionais, o Brasil reclama a ampliação do Conselho de Segurança e considera ato de bom senso a inclusão, na categoria de membros permanentes, daqueles países em desenvolvimento com credenciais para exercer as responsabilidades que a eles impõe o mundo de hoje", reivindicou.




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