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Covas tomam posse domingo
Do Diário do Grande ABC
09/01/1999 | 18:42
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O governador reeleito de Sao Paulo, Mário Covas (PSDB), toma posse domingo, às 11h30, depois de enfrentar o ``terceiro turno' das eleiçoes: uma briga complicada contra o câncer encontrado na bexiga dele, no começo de dezembro. Passado o susto, nove horas de cirurgia no dia 14 e uma recuperaçao surpreendente, há boas chances de ele estar curado - segundo a equipe médica.

Covas reassume o comando de Sao Paulo ainda sob cuidados. Carrega uma sonda (que chamou de ``cachorrinho') na nova bexiga, um pedaço do intestino reconstruído na forma de bolsa coletora para substituir o órgao original. A bexiga, a próstata, a vesícula seminal e os gânglios linfáticos de drenagem da regiao foram extraídos. O governador chegou a usar cinco sondas e a última poderá ser retirada em pouco menos de um mês.

Se acatar as recomendaçoes dos médicos, ele vai restringir as atividades da agenda de trabalho, adaptando a jornada longa e tumultuada a que está acostumado. Nao há previsoes sobre o prazo necessário para a recuperaçao completa, mas tudo indica que o governador poderá levar uma vida normal. ``A gente é muito menos do que aquilo que pensa.' Nas palavras de Covas, a doença deixou-lhe essa ``liçao de humildade'.

O homem que ficou 25 dias internado no Instituto do Coraçao (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de Sao Paulo (USP) nao era o mesmo depois dos dois turnos da eleiçao. A passagem para o segundo turno foi garantida só no fim da apuraçao. ``Ao longo desses quatro anos, Covas esteve mais envolvido na tarefa de administrador do que na de político, e vem daí a crítica de que faltou comunicaçao em seu governo', declarou o jornalista Oswaldo Martins, um dos coordenadores da campanha e amigo do governador.

'`Depois da eleiçao, ele mesmo chegou a essa conclusao, o que nos faz supor que será diferente; agora, apanhado pela doença e mesmo curado, é normal que ele reflita sobre a vida e até mude alguns hábitos.'

Para o médico particular de Covas, o infectologista David Uip, o desafio deixou o governador mais ``sensível': ``As pessoas dizem que ele é turrao, mas a doença mostrou para todo mundo como ele é, na realidade; pode ser um homem exigente, mas é emocional e afetuoso.' Sobre o futuro político, ele ouviu de Uip que todo o trabalho da equipe de especialistas foi feito de forma a lhe dar liberdade. ``O governador nao me perguntou, mas eu disse a ele que, daqui a quatro, dez anos, vai poder decidir seu destino sem ter de se basear em seu currículo médico; esse foi o nosso objetivo', contou.

A cerimônia de posse teve de ser adaptada às condiçoes de saúde do governador. Será rápida (deve durar cerca de 30 minutos) e só ele discursará. A crise entre a Uniao e os novos colegas de Covas - apontado como possível interlocutor entre os governadores da oposiçao e o presidente Fernando Henrique Cardoso - insatisfeitos com a renegociaçao das dívidas estaduais fez crescer a expectativa sobre esse discurso.

Covas deverá ler um texto preparado nos últimos dias. ``Acho que ele volta à cena com grande vigor; quem espera um Covas mais morno por causa da doença vai se surpreender', disse outro amigo. ``Vai ser assim já no discurso, mesmo porque há uma crise e, nessas horas, ele nao costuma se omitir.' Na platéia, pelo menos oito ministros e três governadores tucanos: do Pará, Almir Gabriel, de Mato Grosso, Dante de Oliveira, e de Goiás, Marconi Perillo.

Nenhum político ou jornalista, entretanto, poderá ter contato direto com Covas. Até a noite de sexta-feira, pouco mais de cem pessoas haviam confirmado presença, mas esse número deve ser maior. O plenário e a galeria do Palácio 9 de Julho comportam cerca de 600 pessoas. Do lado de fora da Assembléia Legislativa, a cerimônia será transmitida num telao para quem nao puder entrar na Casa. Um palanque também foi montado para os políticos que queiram discursar antes ou depois da posse.

``Queremos fazer a festa popular que o presidente Fernando Henrique nao teve', afirmou um assessor da bancada do PSDB na Assembléia. ``Será uma cerimônia rápida, mas grandiosa porque os militantes estao muito animados', explicou o líder do governo na Casa, Vanderlei Macris (PSDB).




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