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Acessibilidade nos organogramas

Degraus foram substituídos por rampas, nem de longe...

Carlos Ferrari
23/02/2016 | 07:00
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Degraus foram substituídos por rampas, nem de longe na quantidade que deveriam ser. Portas e pisos foram sinalizados, infinitamente aquém do que esperamos e temos assegurado por direito. Profissionais intérpretes de Libras e audiodescritores foram contratados em número bem abaixo do que necessitaríamos para ter acesso pleno à informação, mas, enfim, podemos dizer que soluções para suplantar barreiras e alcançarmos melhores níveis de acessibilidade têm sido implementadas e difundidas, ainda que com grande lentidão.

Existe um lugar, no entanto, onde as pessoas com deficiência ainda se veem travadas, limitadas por uma enorme carga de preconceito e um tsunami silencioso, porém perverso de discriminação.

Falo dos organogramas de pequenas, médias e grandes empresas, inclusivas ou não, pois neste caso mesmo as reconhecidas como modelo de inclusão ainda, excluem sem constrangimentos os seus ‘adoráveis’ PCDs (Pessoas com Deficiência). Neste cenário para lá de esquisito, cumprir a cota deixou de ser uma obrigação para muitos, que aprenderam a surfar nas ondas do social responsavelmente correto. Nessa vibe, tem empresa sendo premiada por contratar pessoas com deficiência. Já pensou que coisa maluca seu chefe ganhar um trofeuzão por decidir te chamar para trabalhar lá. Como diz a garotada: “Sinistro.”

Pior que essa farra do bom mocismo é o estado da arte quando o assunto é empregabilidade de pessoas com deficiência. O discurso mais frequente é “queremos contratar, mas não existe mão de obra capacitada para tanto.” Pura falácia, visto que um dos segmentos com deficiência com maior dificuldade de se colocar são as pessoas cegas e com baixa visão, justamente aquelas com nível de formação acadêmica mais alto.

Os anos que tenho de caminhada nessa jornada me permitem afirmar que:

1. Sim! Temos pessoas com deficiência em bons postos dentro dos organogramas de algumas empresas. Contudo, isso é uma enorme exceção;

2. As empresas não estão abertas, em sua grande maioria, para contratar pessoas com deficiência. Buscam personagens, algumas querem apenas com uma pequena limitação, outras querem ultra comprometidos para fazer um case bacana, poucas de fato querem bons profissionais para que experimentem em sua estrutura uma projeção, de acordo com um plano de carreira previamente proposto.

Afirmo sem medo de errar que organogramas ainda são, no Brasil, o maior exemplo, verdadeiros símbolos de falta de acessibilidade para uma pessoa, independentemente de sua deficiência. Se a Lei de Cotas fosse pensada considerando um percentual da folha de pagamento, correlacionado com uma proposta com objetivos e metas para empoderamento profissional de PCDs, muita gente que hoje é apontada como exemplo de inclusão estaria suando a camisa para começar uma política efetiva de empregabilidade para nosso segmento.

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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