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Editoras têm bons livros sobre música
Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
17/06/2000 | 16:22
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Parece que as editoras brasileiras começam a perceber que a música, além de CDs, DVDs e outros artefatos audiovisuais, também pode render ótimos livros. Otimo para o leitor interessado no assunto, que pode afinal encontrar bons títulos em português. Acabam de chegar às livrarias dois bons exemplos.

Glenn Gould - Uma Vida e Variaçoes, de Otto Friedrich (Record, R$ 45) é uma das mais abrangentes e menos preconceituosas biografias já escritas sobre o genial pianista canadense que muitos consideram o maior deste século.

A figura do excêntrico pianista aparece inteira. Ele mandou, por exemplo, serrar os pés da cadeira para ficar com os olhos na altura do teclado, uma posiçao absurda, mas que para ele funcionava. Gould também mergulhava as maos em água praticamente fervente antes de cada recital ou concerto e andava superagasalhado, mesmo quando fazia muito calor.

Mas, além das curiosidades, o livro traz a faceta artística do pianista genial que revolucionou o modo de interpretar Bach. Tanto que sua gravaçao das Variaçoes Goldberg, de 1955, constituem uma espécie de marco zero da interpretaçao moderna de Bach. De 1964 em diante, Gould renunciou totalmente às apresentaçoes públicas. Até sua morte, em 1982, gravou discos, documentários para a rádio e TV canadense, escreveu artigos. Esteve, enfim, sempre presente, mas através de suas performances gravadas, jamais ao vivo. Tudo isso está na excelente biografia de Otto Friedrich.

O Músico Em Mim, de Alejo Carpentier (Record, R$ 38) reúne artigos jornalísticos sobre música e músicos, a maior parte escrita para o jornal El Nacional, de Caracas, onde o escritor cubano foi embaixador nos anos 40.

Esses deliciosos artigos provam nao só sua competência no trato com a palavra, mas principalmente um profundo conhecimento musical. Ele estudou no Conservatório de Paris, e chegou a compor peças corais e trilhas sonoras. Utilizando critérios baseados no conhecimento técnico e no bom senso, o autor de O Século das Luzes e Concerto Barroco pende para a defesa do nacionalismo musical.

Carpentier nao hesita em criticar o alemao Ernsr Krenek, que nos anos 20 compôs a ópera Johnny Spit Alf, na qual utiliza bastante a música popular norte-americana e o jazz do período, afirmando que nele o jazz e o blues eram postiços. E contrapunha o exemplo de Gershwin que, apesar de branco e descendente de judeus russos, nasceu no Brooklyn, em Nova York, e compôs a primeira e mais bem-sucedida ópera negra do século 20, Porgy and Bess.

E Carpentier conclui: "Enquanto ninguém se lembra da ópera de Krenek, Porgy and Bess continua a ser sucesso no mundo inteiro. É que, como dizia Jean Cocteau, "o artista precisa estar sempre ao pé de sua árvore genealógica".




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