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PSDB busca novo fôlego em Sao Paulo
José Afonso Primo
Colunista do Diário 
29/05/1999 | 19:33
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Se a convençao nacional do PSDB, realizada há pouco mais de duas semanas em Brasília, serviu para apagar a "vil tristeza do partido" (citando a linguagem quase poética do deputado federal Aloysio Nunes Ferreira Filho), nao se pode dizer que o encontro provocou grande entusiasmo entre os tucanos de Sao Paulo.  

Eles estao animados com a presença cada vez mais forte do governador Mário Covas nos destinos nacionais da legenda, mas nao têm certeza de que isso será o bastante para diminuir os reflexos negativos do desgaste do presidente Fernando Henrique Cardoso entre os simpatizantes do partido. Com quem Covas poderá contar para levantar o astral partidário, visando especialmente as eleiçoes municipais do ano que vem e até a sucessao de FHC, em 2002? Este é o dilema tucano.  

Além do governador Mário Covas, o PSDB tem entre seus quadros paulistas o vice Geraldo Alckmin, os ministros José Serra (Saúde) e Paulo Renato Souza (Educaçao) e o deputados federais José Aníbal (secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Tecnológico) e Arnaldo Madeira (líder do governo FHC na Câmara).  

Aníbal é um nome que, junto com Serra, Paulo Renato e Alckmin, tem sido freqüentemente apontado para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Madeira conta com o apoio de assessores diretos de Covas para disputar a Prefeitura de Sao Paulo no ano que vem. Há ainda o deputado estadual Walter Feldman (líder do governo na Assembléia Legislativa), que nao esconde o desejo de se lançar à sucessao do prefeito Celso Pitta.  

No Grande ABC destacam-se o prefeito de Sao Bernardo, Maurício Soares, e o atual diretor superintendente estadual do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Fernando Leça, que foi chefe da Casa Civil no Palácio dos Bandeirantes.  

O PSDB paulista imaginou ter reinventado a roda com a indicaçao do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros - que caiu após a divulgaçao do grampo no BNDES (Banco de Desenvolvimento Social e Econômico) para uma vice-presidência nacional do partido, preparando-se assim para contra-atacar com a tese desenvolvimentista os chamados monetaristas do governo FHC.  

Imediatamente veio o troco dos desafetos de Mendonçao - chamado assim numa referência nostálgica a Serjao, o ex-ministro das Comunicaçoes Sérgio Motta, morto em abril de 1998, que usava e abusava do estilo trator para falar de política. Mendonça de Barros foi recolocado na cena e, pior, desta vez o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso acabou envolvido no episódio do grampo, aparecendo como defensor do consórcio liderado pelo Banco Opportunity no leilao do sistema Telebrás.  

Obrigados a recolher a arma secreta, que poderia ser usada na busca de novas soluçoes para o impasse no qual o governo se meteu com a crise econômica e o aumento do desemprego, os tucanos de Sao Paulo recuaram. Ao comentar os ataques do presidente do Congresso Nacional, senador Antonio Carlos Magalhaes, e de dirigentes de partidos aliados a Mendonça de Barros, o deputado Alberto Goldman (SP) disse: "Se for pelo bem da governabilidade, vamos engolir tantos sapos quantos forem necessários". Vao esperar melhor oportunidade para relançar o partido no debate, visando nao apenas a sustentaçao da linha que defende o crescimento econômico, mas uma maior visibilidade para as próximas eleiçoes.  

A situaçao em que se encontra a economia do país, com o desemprego em disparada, é o principal problema a ser enfrentado. Mas além disso, o PSDB é atingido em cheio pelos estilhaços da crise de credibilidade do governo federal, por causa do escândalo provocado pelo socorro do Banco Central aos bancos Marka e FonteCindam, escancarado na CPI (Comissao Parlamentar de Inquérito) do sistema financeiro. Também preocupam as mordomias de ministros nas asas dos avioes da FAB (Força Aérea Brasileira). E agora, mais do que nunca, a divulgaçao do diálogo do presidente Fernando Henrique Cardoso com o ex-presidente do BNDES André Lara Resende, no qual FHC autoriza o uso de seu nome para favorecer um grupo no leilao da Telebrás.




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