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Falha em mutirão não vai ficar impune, diz delegado

Famílias de vítimas que perderam visão após cirurgia de catarata em S.Bernardo registram boletim na Delegacia do Idoso

Por Natália Fernandjes
Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
11/02/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


“Isso é inadmissível, intolerável. Essas pessoas estão clamando por justiça e nós vamos às últimas consequências. Elas podem ter certeza que isso não vai ficar impune.” As palavras do delegado titular da Delegacia de Proteção ao Idoso de São Bernardo, Gilberto Peranovich, evidenciam o sentimento de revolta a respeito do resultado do mutirão de cirurgias de catarata realizado pela Prefeitura do município no dia 30 de janeiro. Das 27 pessoas submetidas ao procedimento, 21 adquiriram infecção ocular pela bactéria Pseudomonas aeruginosa, sendo que pelo menos 17 perderam a visão e dez precisaram remover o olho prejudicado.

O delegado recepcionou, na tarde de ontem, familiares de seis pacientes prejudicados para o registro de boletim de ocorrência. Peranovich questiona o formato de mutirão para realizar o procedimento cirúrgico. “Se para marcar exame demora um ano, por que operar todo mundo em um dia? Mutirão eu entendo que é tirar um objeto velho da rua. Tratar o ser humano em mutirão?”, questiona, inconformado. “As pessoas chegaram lá com a fala de que a cirurgia era a salvação e o que tiveram foi uma meia morte.”

O boletim de ocorrência foi registrado como crime de lesão corporal culposa contra o Hospital de Clínicas de São Bernardo, onde foram realizadas as cirurgias. O delegado pediu aos familiares que requisitem e lhe tragam a ficha clínica de cada paciente, além de exame de corpo de delito, constatando a lesão sofrida para que, já na próxima semana, possa intimar o médico Paulo Burição e a equipe responsável pelos procedimentos, bem como a secretária municipal de Saúde, Odete Gialdi.

Francisco Gomes Rocha, 70, esperou três anos pela cirurgia. Ele perdeu o globo ocular esquerdo após o procedimento e segue internado no Hospital de Clínicas, assim como outros nove pacientes que participaram do mutirão. “Estamos vivendo momentos desesperadores, mas também de esperança, para que isso seja logo esclarecido”, disse a filha Vilma Vieira, 38 anos.

Na tentativa de buscar reparação, familiares de 11 pacientes prejudicados pelo mutirão entrarão com ação coletiva na Justiça nos próximos dias. “Estamos reunindo todas as evidências, porque são muitas pessoas e especificidades. Queremos justiça”, destaca a advogada Letícia Koga, filha da dona de casa Genesil da Silva Koga, 65, que aguarda transplante de córnea.

Conforme a Prefeitura, o resultado de sindicância aberta para apurar as causas da contaminação deve ser conhecido até o início de março. A Secretaria de Saúde garantiu, em nota, que todos os pacientes serão atendidos em suas necessidades, com o fornecimento de insumos, próteses, óculos e demais equipamentos de apoio.

 

Sede de empresa estava fechada ontem

 

A Prefeitura de São Bernardo suspendeu todos os novos procedimentos oftalmológicos desenvolvidos pelo Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, terceirizada que mantém convênio com a administração desde 2013, até a conclusão dos processos em investigação. A equipe do Diário esteve ontem na sede da empresa, em Santos, na tentativa de ouvir os responsáveis sobre as graves consequências do mutirão de cirurgias de catarata realizado no Hospital de Clínicas. no entanto, o local estava fechado.

A sede do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista funciona no mesmo prédio em que o sócio majoritário da empresa, o oftalmologista Elcio Roque Kleinpaul, mantém clínica particular, chamada Instituto Kleinpaul de Oftalmologia, no bairro Campo Grande, desde fevereiro de 2014. Embora fosse por volta das 15h30, corrente com cadeado impedia o estacionamento de veículos nas vagas destinadas aos pacientes e funcionários em frente ao espaço. A equipe do Diário tocou a campainha, sem sucesso.

Desde que firmou contrato com a Secretaria de Saúde de São Bernardo, a empresa já recebeu R$ 2,4 milhões, sendo R$ 177,7 mil apenas neste ano. Conforme o registro do Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação Junta Comercial do Estado, a empresa oferece atividade médico-ambulatorial com recursos para realização de procedimentos cirúrgicos e exames complementares, entre outros serviços, desde 23 de setembro de 2003.




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