Cultura & Lazer Titulo
Funarte nao anuncia vencedores do Mambembe
Do Diário do Grande ABC
25/05/1999 | 15:30
Compartilhar notícia


A Funarte indicou, mas está sem dinheiro para premiar. E o Troféu Mambembe, tradicional premiaçao criada há 22 anos pelo Ministério da Cultura, está em um compasso de espera constrangedor desde o início do ano. Na metade de 1999, ninguém sabe quais foram os melhores de 1998. Segundo um assessor da Funarte, que preferiu nao ser identificado, os nomes dos vencedores nao sao divulgados porque, se isso ocorrer, a fundaçao terá de pagar.

A Funarte nao só deixou de outorgar e pagar os prêmios referentes aos indicados em dez categorias de teatro infantil e dez categorias de teatro adulto em Sao Paulo e Rio como também nao pagou os jurados que fizeram a seleçao em reunioes periódicas durante todo o decorrer de 1998. Sao dez profissionais, que receberiam R$ 5 mil cada um.

"É um fato revelador de como se está tratando a cultura neste país", diz o autor e diretor de teatro Oswaldo Mendes, que concorre com quatro indicaçoes para o prêmio - no segundo semestre, sua peça Voltaire, "Deus me Livre e Guarde" recebeu nominaçoes de melhor autor, melhor ator coadjuvante (Jorge Passos), melhor iluminador (Edgar Duprat) e cenógrafo (Márcio Tadeu).

A Assessoria de Imprensa da Funarte, no Rio, informou que o anúncio dos vencedores do Troféu Mambembe será feito assim que houver um repasse de verba por parte do Ministério da Cultura - que, por sua vez, aguarda repasse de verba da parte do Ministério da Fazenda.

O valor da premiaçao nao é tao alto: contando o pagamento do júri e dos 80 premiados, fica em cerca de R$ 300 mil. Mas a Funarte só conseguiu saldar algumas das dívidas essenciais para seu funcionamento na semana passada, quando o governo liberou parte da verba do orçamento do Ministério da Cultura para 1999.

O júri que decidiu pelas 40 indicaçoes do Mambembe, em duas seleçoes (uma em setembro e outra em dezembro), era constituído da seguinte forma: no teatro adulto, os selecionadores eram Silvana Garcia, Sebastiao Milaré, Jefferson Del Rios, Afonso Gentil, Aguinaldo Ribeiro da Cunha e Fernando Peixoto; no teatro infantil, foram jurados Lizette Negreiros, Juiara Miranda, Monica Pinto Rodrigues da Costa, Marco Antonio Pinto de Oliveira Rodrigues e Dib Carneiro Neto, jornalista do "Estado de S. Paulo".

Ivanov, do Grupo Tapa, foi o trabalho que teve mais indicaçoes no primeiro semestre do ano passado: cinco nominaçoes ao todo. O diretor da companhia, Eduardo Tolentino, cobra do governo - mais do que o pagamento do prêmio - uma política cultural mais séria do Ministério da Cultura. "Eles agem como se aqui houvesse um mercado e como se esse prêmio fosse mudar nossas vidas profissionais", diz Tolentino.

Segundo o diretor, o teatro vive uma crise sem precedentes no país, com cancelamento de temporadas. "Quando você vê um ator do porte do Marco Nanini tirando peça de cartaz, é porque algo vai mal", afirma. Tolentino diz que nao é contra o prêmio, mas acha que, se tem de ser dado, "que seja feito com competência". Para ele, o Mambembe nao tem tido repercussao e as pessoas sequer sabem quem sao os indicados.

No teatro adulto, entre os autores, concorrem Oswaldo Mendes, José Celso Martinez Corrêa ("Cacilda!"), Aimar Labaki ("Vermouth") e Emílio Boechat ("Eu Era Tudo Pra Ela... E Ela me Deixou"). Os atores que concorrem sao Luiz Damasceno ("O Sr. Paul"), Carlos Palma ("Einstein"), Matheus Nachtergaele ("Da Gaivota") e Ney Piacentini ("O Nome do Sujeito"). As atrizes sao Renata Zanetta ("'Folias Fellinianas"), Regina Braga ("A Margem da Vida"), Clara Carvalho ("Ivanov") e Mirian Mehler ("Vidros Partidos").

Os diretores que concorrem entre os de teatro adulto sao Eduardo Tolentino ("Ivanov"), William Pereira ("Sinfonia de uma Noite Inquieta"), Renata Melo ("Domésticas") e Hugo Possolo ("Eu nao Escrevi Isso"). Jorge Passos ("Voltaire"), Edgar Bustamante ("Folias Fellinianas"), Genésio Barros ("Ivanov") e Marco Antonio Pamio ("O Sr. Paul") concorrem como atores coadjuvantes.

Tuna Dwek ("Vidros Partidos"), Beatriz Tragtenberg ("O Sr. Paul"), Luah Guimaraes ("A Margem da Vida") e Lígia Cortez ("Cacilda!") sao as concorrentes como atrizes coadjuvantes. Há concorrentes ainda nas categorias figurino, iluminaçao, cenografia e a categoria especial, que premia obras ensaísticas e contribuiçoes ao teatro.

Para grande parte dos indicados, o descaso do governo com o Troféu Mambembe vem reafirmar os termos utilizados por artistas de teatro no manifesto Arte contra a Barbárie, divulgado no mês passado. De acordo com os signatários do documento, esses fatos sao reveladores da maneira pela qual o estado passou a comportar-se em relaçao à cultura. "Entregaram a cultura brasileira à sanha do livre mercado e tiraram o corpo fora", diz Oswaldo Mendes.

O Troféu Mambembe foi criado em maio de 1977 com o objetivo de distinguir a produçao teatral centralizada no eixo Rio-Sao Paulo. A designaçao mambembe, dada pelo MinC, representa uma homenagem aos grupos teatrais que mantêm viva a tradiçao de apresentar-se por todo o país, em condiçoes nem sempre adequadas esforçando-se para fazer o melhor.

No ano seguinte à sua instituiçao, em 1978, o prêmio destacou Gianfrancesco Guarnieri como melhor autor, por "Ponto de Partida", além de Paulo Autran como melhor ator e Nathália Timberg como melhor atriz.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;