Política Titulo Editorial
As lágrimas do seu Jorge
Do Diário do Grande ABC
31/01/2016 | 09:32
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Aline Pietri/DGABC


O catador de material reciclável Jorge José da Silva nasceu há 56 anos no Brasil, cuja Constituição assegura, em seu artigo 6º, o direito que todo cidadão tem a moradia. Na quinta-feira, ele atendia à equipe deste Diário quando chuva forte atingiu o barraco onde vive, no Jardim Pajussara, em Mauá. Em poucos minutos, por causa de buraco na cobertura do imóvel, a cozinha começou a alagar. Impotente diante das intempéries e do descaso de quem deveria lhe garantir teto digno, seu José cobriu os olhos cansados para evitar que o fotógrafo Celso Luiz o visse chorando.

Drama idêntico ao do catador de reciclável mauaense vivem 100.062 famílias do Grande ABC, que não têm endereço apropriado para morar. Os programas habitacionais não conseguem atender à demanda e os cidadãos são empurrados para áreas precárias e, em muitos casos, residências sem infraestrutura sanitária alguma. Nesses locais, água tratada é luxo e o esgoto corre a céu aberto.

Enquanto escândalos que envolvem desvio de dinheiro público se sucedem nas três esferas de governo – federal, estadual e municipal –, argumenta-se que não há verba suficiente para tornar realidade o maior sonho dos brasileiros, o da casa própria. Em Santo André, por exemplo, o deficit habitacional é estimado em 32 mil moradias, mas projetos que estão em execução são suficientes para atender a 2.732.

A escassez e a precariedade de moradia no Grande ABC refletem a atenção que os gestores da região dispensam à Habitação. O tema só é alçado à prioridade absoluta dos políticos das sete cidades na época das campanhas eleitorais. Quando estão em busca de votos, todos se comprometem a executar programas revolucionários no setor. Passadas as eleições, todavia, o assunto é rapidamente esquecido. E, com isso, a realização do sonho de pessoas como o seu Jorge José da Silva, de ter casa decente, é protelado de novo. E virão mais chuvas. Mais desespero. E mais lágrimas. Que, na maioria das vezes, sequer precisarão ser escondidas. Porque não haverá ninguém por perto para notá-las.
 




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