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Clube da GM fecha no domingo

Cerca de 100 pessoas perderão os empregos;
sede campestre, no Riacho Grande, será mantida

Fábio Munhoz
Vagner Aquino
29/01/2016 | 07:24
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Claudinei Plaza/DGABC


Fundada há 80 anos, a ADCGM (Associação Desportiva Classista da General Motors) de São Caetano irá fechar as portas em definitivo no domingo. O tradicional clube está localizado em terreno avaliado em mais de R$ 120 milhões, e que será devolvido à montadora. Oficialmente, o destino da área ainda é mantido sob sigilo.

Para cortar gastos, a empresa irá oferecer como espaço de lazer aos funcionários da planta apenas a sede campestre da agremiação, que fica a aproximadamente 30 quilômetros de distância da fábrica, no bairro Riacho Grande, em São Bernardo. Mesmo assim, empregados ouvidos pelo Diário criticam a mudança. Argumentam que a unidade rural, além de longe, não oferece a mesma infraestrutura.

A sede da Avenida Goiás possui 33,2 mil metros quadrados e conta com campo de futebol society, quadras multiúso – inclusive de tênis –, piscinas, academia, sala de jogos, cancha de bocha e até pistas de boliche. Para recreação, os usuários dispõem – por mais três dias – de churrasqueiras, lanchonete, restaurante e playground. Na área campestre, não há piscinas e o campo de futebol é de terra.

Ao longo das oito décadas de funcionamento, o clube teve momentos marcantes. No Carnaval, a ADCGM fazia bailes inesquecíveis, como a famosa ‘Noite da Ressaca’. Para os integrantes do Clube dos 30 – grupo de funcionários com mais de 30 anos de trabalho na General Motors –, eram feitos jantares dançantes e viagens.

Nos esportes, o clube conquistou títulos importantes em diversas modalidades. O principal deles foi o da categoria principal do campeonato brasileiro de futsal, em 1998.

Associado da ADCGM desde a década de 1960, o aposentado Demétrio Kisselaro, 78 anos, lamenta o fechamento da sede principal. Ele ia ao local pelo menos duas vezes por semana para jogar futebol e, ocasionalmente, frequentava a piscina e fazia churrasco com os amigos. “Os funcionários batalharam tanto para ter um clube desse e agora perdemos de mão beijada”, lamenta.

A equipe do Diário esteve no local na noite de ontem e constatou que, apesar do alto número de frequentadores, o clima era de tristeza. Na lanchonete, grupo de amigos pediu cervejas e, ironicamente, fez um brinde ao fechamento do clube. Uma funcionária terceirizada do bar foi questionada sobre seu futuro e, resignada, respondeu: “Estamos na rua.”

Parte dos empregados, inclusive, já foi desligada. Segundo frequentadores, na semana passada um professor de tênis foi demitido. Ontem, dois funcionários do boliche receberam a dispensa. Alguns colaboradores teriam recebido proposta de transferência para a sede campestre.

Oficialmente, a GM não informa quantos eram os funcionários do clube, que, apesar de ser voltado para trabalhadores da montadora, é uma entidade à parte, sem vínculos com a empresa. O Diário apurou, entretanto, que eram cerca de 100 pessoas, sendo que a maioria, inclusive professores e instrutores esportivos, era terceirizada.

Apenas o restaurante será mantido em funcionamento, mas também não se sabe por quanto tempo. Também permanecerá no local equipe de vigilantes para coibir invasões.

Na tarde de ontem, a assessoria de imprensa da montadora dizia não ter informações sobre a data exata do fechamento. Na página do clube no Facebook, entretanto, já havia a confirmação de que o dia 31 seria o último. A informação também foi reiterada pelos empregados da agremiação por telefone.

No início do mês, a GM afirmou que um dos motivos para o fechamento era o fato de a direção da empresa ter constatado que somente 20% dos funcionários da fábrica residem em São Caetano.

Cada associado na ativa pagava mensalidade básica de R$ 55. Para o pessoal em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), o valor caía pela metade. Aposentados eram isentos. “Se o problema era crise financeira, por que não cobrar dos aposentados? Eu aceitaria pagar”, garante Kisselaro.


Empresa faz mistério sobre destino do terreno em São Caetano

A General Motors ainda não informou o que fará com o terreno de 33,2 mil metros quadrados que, até domingo, abriga a sede da ADC (Associação Desportiva Classista).

Em 2014, quando a empresa confirmou que desativaria a área, iniciaram-se negociações para que o espaço fosse utilizado pelo Sesi (Serviço Social da Indústria), mas as tramitações não evoluíram devido a problemas burocráticos. A informação extraoficial é de que o terreno – que vale mais de R$ 120 milhões – será vendido para a construção de condomínios residenciais e corporativos.

Mesmo com a confirmação do fechamento, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, diz não ter sido comunicado oficialmente a respeito e que, por esse motivo, a entidade não se manifestou até o momento.

Integrante de grupo oposicionista à direção do sindicato, Leandro Toledo critica a postura tanto da empresa quanto da associação que representa os trabalhadores. “Houve um descaso muito grande de ambas as partes. O próprio sindicato, que deveria fazer linha de frente e lutar para que essa decisão fosse revogada, não fez esforço nenhum”, avalia. 




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