Contratada por R$ 1,2 milhão pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC para mapear os locais sujeitos a enchentes na região – trabalho que o Diário desenvolveu em uma semana e apresentou em reportagem especial publicada no domingo –, a KF2 Engenharia e Consultoria, localizada na Capital, resolveu fazer mistério sobre o projeto, como se não estivesse recebendo dinheiro do contribuinte para realizar a tarefa.

Procurada ontem pela equipe de reportagem do jornal, a empresa paulistana mencionou certa cláusula de confidencialidade que vai contra o princípio da transparência exigido no trato da coisa pública. Talvez a KF2, cujo know-how na área ainda está por se provar, acredite que tenha assinado contrato com ente privado e precise manter o acordo em segredo. Está equivocada.

Custeado o serviço pelo contribuinte, a empresa tem por obrigação demonstrar com clareza onde cada centavo está sendo gasto. Quantos profissionais e de quais áreas irão atuar no mapeamento, que tipo de pesquisas e trabalho de campo precisará executar, o número de dias necessários para realizar as atividades? São perguntas que o responsável pela companhia tem de responder sem mais delongas.

Os moradores do Grande ABC, que pagam pesados impostos para manter o Consórcio Intermunicipal em funcionamento, não podem ficar à mercê da boa vontade e da disponibilidade de agenda do gerente de infraestrutura da companhia, Fausto Batista, que ontem não estava no escritório e, segundo um funcionário, seria o único capaz de falar com o jornal.

A KF2 tem de compreender que não é aos repórteres do Diário que a firma deve explicações, mas aos 2,7 milhões de habitantes do Grande ABC. São eles que sofrem a cada temporada de chuvas mais fortes – na última década, oito deles perderam a vida por causa das enchentes. A publicidade é a regra quando o assunto envolve dinheiro e interesse públicos. Este jornal, como legítimo representante da população das sete cidades, exige respeito. E vai seguir cobrando transparência.