"Eu morreria feliz se eu visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas. Marcha dos que não têm escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem", disse o educador Paulo Freire (1921-1997) durante o seu último depoimento à imprensa. Inspirada no universo do filósofo, a Companhia Sansacroma estreia em São Paulo o espetáculo de dança contemporânea "Marchas", que propõe reflexão sobre a autonomia.

Escolher as leis que regiam a própria vida sempre foi uma regra para o pensador, nunca uma exceção. Exemplo é ter iniciado a alfabetização sozinho, debaixo de uma árvore, utilizando os gravetos para escrever na terra. "Para ter autonomia no mundo atual é preciso ser muito idealista, ter uma educação bastante fundamentada e mostrar um olhar crítico para o mundo", acredita a diretora artística Gal Martins.

Na montagem, sete bailarinos, todos eles pertencentes ao elenco fixo da companhia, refletem sobre os pensamentos de Paulo Freire a partir das memórias corporais e ao som de elementos que representam o cotidiano, a natureza e a cultura popular.

O cenário é composto de terra em referência à alfabetização de Paulo Freire, além de sacos de areia, que ficam pendurados. Já os figurinos - assinados pela artista plástica Mariana Farcetta em parceria com Gal e o diretor coreográfico Ivan Bernardelli - têm aparência de peças que foram gastas pelo tempo passado e pelas lutas vivenciadas.

O espetáculo encerra a trilogia "Militantes do Ideal", dedicada a personalidades que lutaram em prol da igualdade e conseguiram transformar o olhar da sociedade. Durante essa investigação, o coletivo paulistano também criou as coreografias "Solano em Rascunhos" (2008), em referência ao poeta Solano Trindade, e "Angu de Pagú" (2010), sobre a jornalista Patrícia Galvão.

Marchas Dança. Estreia na quinta-feira, às 20h. Na Galeria Olido - Avenida São João, 473, São Paulo. Tel.: 3331-8399. Temporada: de quinta a sábado, às 20h; e no domingo, às 19h. Grátis. Até o dia 5.