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Redução do álcool na gasolina traz riscos à saúde
Maria Teresa Orlandi
Do Diário OnLine
06/02/2003 | 15:35
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A redução do teor de álcool anidro de 25% para 20% na gasolina, anunciada pelo governo no mês passado, aumentará significativamente a poluição do ar na região metropolitana de São Paulo, principalmente durante o inverno, segundo pesquisa realizada pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). A medida também pode provocar reflexos negativos sobre a saúde da população, que ficará mais suscetível a problemas respiratórios e cardíacos.

A estimativa da Cetesb é de que, com a alteração do combustível, a emissão de monóxido de carbono (CO) aumente 6,5%. “Quer dizer que os tubos de escapamento dos veículos a gasolina deverão emitir quase 831 mil toneladas de monóxido de carbono ao longo de um ano”, calcula o presidente da instituição, Rubens Lara. Hoje, os carros são responsáveis por mais de 70% da emissão de CO na região metropolitana – outras fontes principais são indústrias e queima não regulamentada.

A nova mistura também elevará as emissões de dióxido de carbono (CO2), um dos grandes responsáveis pelo efeito estufa, que contribui para o aumento da temperatura global, e de hidrocarboneto (HC). A emissão de óxido de nitrogênio (NOx), um dos responsáveis pela formação de ozônio na baixa atmosfera, deve diminuir em 2%, mas a previsão é de que a qualidade do ar não melhore, em virtude do aumento nos níveis de HC.

Segundo o professor e pesquisador do Laboratório de Poluentes Atmosféricos da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva, a piora da qualidade do ar provocará um aumento do número de doenças respiratórias e cardíacas e, conseqüentemente, da mortalidade. “A emissão dos poluentes causa irritação das vias respiratórias superiores, aumento do risco de infecção respiratória e agravamento da asma”, afirma. Ele explica que o álcool combustível é menos poluente por produzir uma quantidade menor de CO2 que a gasolina.

O gerente da Divisão de Qualidade Ambiental da Cetesb, Jesuíno Romano, alerta que a situação deve se agravar durante o inverno, período em que as condições atmosféricas para a dispersão dos poluentes é desfavorável em razão dos fracos ventos e inversões térmicas.

Crítica - Saldiva criticou o governo por não realizar estudos sobre os impactos da redução do álcool na gasolina sobre o ambiente e a saúde antes de implementar a medida. “Muito pouco se discute sobre a questão da saúde. Os motivos (para mudança no combustível) sempre são econômicos e de mercado."

Para o especialista, uma alternativa seria melhorar o transporte público, com a implantação de uma política que diminua o tráfego. "A frota de ônibus deve ser trocada por outra com tecnologias modernas. As fabricantes têm condições de produzir ônibus que poluam menos, mas tem que haver um incentivo do governo.”

Já o presidente da Cetesb defende regras mais claras no abastecimento de álcool combustível e afirma que o país não pode sofrer com as oscilações do mercado mundial de açúcar. “Num momento em que a indústria automobilística procura resgatar a credibilidade dos veículos a álcool, menos agressivos ao meio ambiente, que colocaram o país na vanguarda do uso de combustíveis renováveis, um episódio dessa natureza compromete a confiança que o consumidor brasileiro tinha nessa tecnologia, além das consequências para a qualidade do ar nos grandes centros urbanos que, sem dúvida, acaba se deteriorando”, diz Lara.

Catalisador - O aumento da emissão de poluentes acontecerá principalmente com os veículos carburados, que não dispõem da tecnologia de injeção eletrônica, mecanismo que evita a emissão excessiva de poluentes. De acordo com Lara, 64% da frota de 6 milhões de veículos da região metropolitana não possui o recurso de catalisadores, introduzido no país em meados da década de 90. No resto do Estado 66% da frota tem motores carburados.




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