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Gal Costa nos velhos tempos
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
03/03/2010 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Três verdadeiros tesouros de Gal Costa, os álbuns "Profana" (1984), "Bem Bom" (1985) e "Lua de Mel Como o Diabo Gosta" (1987), da extinta gravadora RCA Victor, ganham reedições remasterizadas (Sony Music, R$ 23 cada, em média). Os CDs trazem à tona os melosos anos 1980, expressos no uso exagerado dos sintetizadores, nas composições açucaradas e no auge dos agudos da cantora.

No ápice da beleza e da qualidade vocal, nesses três discos, Gal mostra sua faceta mais comercial. Foi uma época em que arrebatou fãs a partir da exploração de sua imagem sensual, construída após o lançamento de "Gal Tropica"l (1979) e reforçada por canções popularescas de gosto duvidoso. Os maiores exemplos são "Balancê" e "Festa do Interior", sensações dos carnavais da década retrasada e que aproximou plateias distintas para o rebanho de admiradores da intérprete.

Os três discos relançados trazem características bem distintas, mas mantêm a linha melódica do período dos sintetizadores. As harmonias quase barrocas são alternadas por elementos futurísticos, com batidas descompassadas em técnica que, para o período, era extraordinária, mas que hoje seria capaz de cobrir de vergonha até um novato DJ.

De hits, as bolachinhas trazem nada menos que músicas como "Chuva de Prata", "Um Dia de Domingo" e "Sorte". E há raridades - inéditas na época - dos mais tarimbados compositores da MPB, como Gonzaguinha, Djavan, Milton Nascimento, Lulu Santos e Caetano Veloso. A maioria dessas passou batida pelo grande público.

PARA OUVIR - Os álbuns "Profana" e "Bem Bom" se aproximam pelo conteúdo. Trazem os sucessos citados misturados a músicas mais experimentais, como "O Revólver do Meu Sonho", "Acende o Crepúsculo" e "De Volta ao Futuro", além da consagrada "Vaca Profana".

Já o disco "Lua de Mel Como o Diabo Gosta" é um registro à parte e marca fase única na carreira de Gal, que optou por ser desbragadamente amorosa. O mel do título não é por acaso e os teclados dão o tom ao disco todo.

A cantora foi achincalhada pela crítica por incluir três composições de Lulu Santos no repertório e ter executado a auto-homenagem "Sou Mais Eu", dos reis dos teclados Michael Sullivan e Paulo Massadas. Para quem não lembra dos versos: "Sou mais eu/ quando as palmas me convidam para entrar/ sou mais eu/ quando o som me faz a pele arrepiar".

Mas o álbum traz, também, composições belíssimas, como as apaixonadas "Me Faz Bem", de Milton Nascimento e Fernando Brant, e "Morro de Saudade", de Gonzaguinha. Outro trunfo é Todos os Instrumentos, de Joyce, que fecha o disco. A canção é permeada por um inspirado sax e faz tributo ao ofício do músico.

Gal, após a avalanche de reclamações ao seu trabalho, emudeceu e internou-se por mais de dois anos junto ao produtor Wally Salomão, para ressurgir das cinzas com um dos seus trabalhos mais arrojados, "Plural" (1990). Este marca a inclusão da percussão na música popular brasileira, abrindo caminho para o axé e servindo de inspiração para Daniela Mercury estrear a carreira no ano seguinte.

De lá para cá, nada de muito arrojo na carreira da artista, que, entre os mais considerados feitos, fez "Aquele Frevo Axé" (1997), destacado pela inclusão de elementos eletrônicos na alta MPB. O passado, por mais brega que tenha sido, é histórico, e revelador de uma das mais competentes artistas de vanguarda do cenário musical brasileiro.




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