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PSDB quer a presidência da Câmara
José Afonso Primo
Colunista do Diário
19/02/2000 | 17:57
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A transformaçao do PSDB na maior bancada da Câmara dos Deputados foi vista pelos tucanos como uma revoluçao, uma virada que deixou tontos os pefelistas e satisfeitos os pemedebistas. Mais do que o direito de influir decisivamente nas comissoes permanentes, o que interessa é a sucessao do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), no ano que vem. Como terceira força, o PFL nao poderá pleitear a presidência e é isso que mais irrita as lideranças do partido, acostumado a mandar e desmandar no governo e no Congresso Nacional.

Isso que alguns tucanos estao chamando de "golpe de mestre" do PSDB, no entanto, já provocou fissuras na aliança governista, que se padecia de fragilidade, e tende agora a entrar numa fase de perigosa turbulência para o governo. O líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira, julgando-se traído, disse ao líder do governo, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), que vai atrapalhar a tramitaçao da emenda que cria a contribuiçao previdenciária dos servidores inativos, julgada vital para o governo manter o acordo com o Fundo Monetário Internacional, além da emenda da Desvinculaçao de Receitas da Uniao, que permite ao governo remanejar 20% das receitas, que tramita no Senado.

Mas nao é só isso. O que a princípio pode parecer apenas um jogo de poder no âmbito do Congresso, é na verdade o primeiro passo para uma mudança de rumo do PSDB, que se sente muito mal na companhia do PFL e busca uma parceria preferencial com o PMDB. Tenta, com isso, retomar as origens, no final dos anos 80, quando o partido se formou com lideranças que abandonaram a sigla pemedebista, principalmente por discordar dos métodos quercistas da época.

Algumas lideranças tucanas, tendo à frente o ministro da Saúde, José Serra, estariam articulando o isolamento do PFL para desvincular a imagem do governo do neoliberalismo pefelista. A estratégia seria atribuir o lado ruim da administraçao FHC à influência do partido de Antônio Carlos Magalhaes e Marco Maciel. Com isso, estaria pavimentado o caminho para uma aliança com o PMDB, visando a eleiçao presidencial de 2002. As divergências públicas de Serra com ACM já demonstravam há algum tempo essa intençao de rompimento, tanto que o ministro foi eleito o inimigo público número um do partido.

A manobra tucana para colocar o PFL como terceira bancada na Câmara dos Deputados revela claramente essa intençao de enfraquecer o partido. O PSDB formou um bloco de 127 deputados com o PTB, e o PMDB, com o PST e o PTN, passou a ter 102, enquanto a sigla pefelista ficou com 101.

Esse processo de reaproximaçao do PSDB com o PMDB mostra a disposiçao dos tucanos de buscar uma alternativa própria para as eleiçoes de 2002, até porque o PFL tem reafirmado sua intençao de lançar candidato próprio à sucessao do presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora que FHC dá alguns sinais de recuperaçao nas pesquisas, os tucanos acreditam que daqui a três anos a situaçao estará melhor ainda, com o reaquecimento da economia. E, neste caso, nao precisará mais dos currais pefelistas no Norte e Nordeste do país. Afinal, o PMDB também é um partido forte nessas regioes.

As voltas com a pecha de neoliberais, numa época em que o neoliberalismo já se encontra em baixa, sendo criticado até pelos organismos internacionais que ditam as regras da economia mundial, os tucanos tentam se livrar dos pefelistas a qualquer custo. Mesmo com o risco calculado de provocar sérios prejuízos ao presidente Fernando Henrique Cardoso nas votaçoes importantes do Congresso Nacional. O PSDB está decidido a assumir o perfil social-democrata que tem apenas no nome, mas na prática é negado pelas políticas de privatizaçao, que tanto desagradam à esquerda e à centro-esquerda do país.

A confusao armada com o troca-troca partidário na Câmara dos Deputados pode, portanto, ser o início dessa nova definiçao ideológica do PSDB. O partido se incomoda com as jogadas de efeito do PFL, especialmente do senador Antônio Carlos Magalhaes, que andou propondo o imposto contra a pobreza, e recentemente Inocêncio Oliveira, líder do partido na Câmara, que defendeu o salário mínimo de US$ 100.




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