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Marinho: 'não aceitamos redução de salário'
Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
10/11/2001 | 20:30
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O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, disse que enfrenta com a Volkswagen a pior negociação desde o início de sua primeira gestão, em 1997. Pintor de automóveis na montadora com que negocia o destino de 7 mil trabalhadores, o agora estudante de Direito Marinho entrou no sindicato em 1984, foi duas vezes tesoureiro e depois secretário-geral. Em 2002, disputará o terceiro mandato, mas afirma que a oposição em sua base não atrapalha a negociação.

DIÁRIO – O sr. considera que esta é a negociação mais difícil desde o início de sua gestão à frente do sindicato?
LUIZ MARINHO – Tão difícil quanto foi com a Ford e talvez um pouco mais do que foi com a própria Volkswagen em 1997 e 1998, mas com plena condição de chegar a um acordo.

DIÁRIO – O sr. é candidato a presidente do sindicato na próxima gestão?
MARINHO – Nós fizemos esta discussão com a militância do sindicato. Estou no segundo mandato. A posição da militância e da diretoria é que eu devo ser reconduzido a uma terceira gestão e construir uma transição para meu substituto. É evidente que isto dependerá da decisão dos trabalhadores, especialmente da Volkswagen, porque no nosso regulamento, para ser candidato a presidente do sindicato, tem de passar pela aprovação dos trabalhadores da empresa onde o candidato trabalha, no meu caso, a Volkswagen.

DIÁRIO – Como está a unidade política dentro da Volkswagen?
MARINHO – Temos oposição não a mim, mas ao sindicato, e isso sempre existiu. Tivemos pessoas ligadas ao PSTU na Volkswagen em oposição à nossa gestão, mas acredito que o sindicato está totalmente respaldado pelos trabalhadores. Isso tem sido demonstrado nas várias demandas que temos enfrentado. É um direito legítimo de as pessoas disputarem e estou muito tranqüilo em relação a isso. Neste momento não estou preocupado com quem quer que seja da oposição. Minha preocupação é integralmente com a situação dos trabalhadores, não apenas da Volkswagen mas também das outras montadoras.

DIÁRIO – Fica difícil enfrentar toda esta situação dentro do início do processo eleitoral no sindicato?
MARINHO – Não vejo isso como um problema, porque não estou vendo nas pessoas da oposição um posicionamento contrário à condução que o sindicato vem dando à luta neste momento. Até porque seria uma irresponsabilidade. Não creio que estas pessoas farão isso. Espero que todos remem para um único lado. Quem remar contra, certamente perderá. Se a oposição eventualmente quer ganhar ponto com os trabalhadores, não é remando contra o que o sindicato está encaminhando. Vamos resolver o problema da Volkswagen, mais dia ou menos dia, e o momento da eleição será outro, no ano que vem.

DIÁRIO – Como devem se comportar as outras montadoras diante deste excedente de 3 mil trabalhadores apresentados pela Volkswagen apenas como fruto da retração nas vendas?
MARINHO – Dependerá muito de como fecharmos este acordo com a Volkswagen. Se aceitarmos a lógica da Volkswagen de reduzir salários, estaremos criando uma grande demanda com as demais montadoras. Mas não aceitamos isso. Portanto, não vejo chance de isso acontecer. A Mercedes (DaimlerChrysler) vem adequando de forma razoável o seu problema. Com a Ford temos um acordo de garantia no emprego até 2006. Na Scania discutimos alternativas de flexibilização, mas tudo isso depende muito do resultado com a Volkswagen nesta segunda-feira.

DIÁRIO – Todas estas fábricas, com exceção da Volkswagen e da Ford, já passaram por investimentos em reestruturação. Nestas plantas ainda existe excedente de pessoal que guarde risco de demissão em grandes proporções como poderá acontecer na Volkswagen?
MARINHO – O capitalista tem uma forma de enxergar isso, que é como enxugar gelo, sempre tem algo a enxugar. Tentamos nos contrapor a isso, mas é evidente que cada produto vem com inovação tecnológica e redução de mão-de-obra. Neste exato momento não há grande reestruturação a ser feita. O problema da Volkswagen é infinitamente maior porque a Volkswagen trabalhou com a lógica de fechar a unidade Anchieta e portanto não investiu durante um bom tempo em tecnologia de produção e em novos produtos. Ela ficou defasada em relação às outras. Só investiu depois que conquistamos em acordo o investimento no Polo, inclusive fazendo investimento no prédio. Mas temos veículos antigos como a Kombi e o Santana que não sei quanto tempo devem continuar. Precisamos segurar novos produtos e investimentos. Também precisamos compensar isso com crescimento do mercado. Infelizmente veio o apagão e uma seqüência de notícias negativas que derrubaram o mercado. Reconheço que as indústrias fazem um esforço tremendo para vender carros com juro zero de forma que vai atingir 1,8 milhão de unidades, mas precisamos olhar para a economia e pensar em um modelo econômico que permita este crescimento.

DIÁRIO – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestou R$ 900 milhões dos R$ 2 bilhões aplicados pela Volkswagen na Anchieta. O sr. acha que o Estado deveria ter exigido contrapartida em empregos?
MARINHO – Este governo foi incompetente para produzir uma política industrial e se ateve em uma visão monetarista. O BNDES empresta para quem não precisa sem antes ajudar as empresas de menor porte.




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