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Brasil-China: dificuldades
Milton Lourenço
14/06/2011 | 07:10
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A visita da presidente Dilma Rousseff à China em abril teve por objetivo tentar colocar nos eixos algumas diferenças que persistiam no relacionamento comercial entre os dois países. É indiscutível que o Brasil tem crescido, apesar de muitos obstáculos internos, mas principalmente por causa da estabilidade macroeconômica alcançada e por ter sido beneficiado por forte crescimento global, promovido, sobretudo, pela China.

Isso não significa, porém, que o País tenha de se abrir completamente aos anseios chineses, sem receber nada em troca. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio, pois o relacionamento só será justo e produtivo se ambas as partes saírem ganhando. Do lado brasileiro, é justa a preocupação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos com o avanço muito rápido de máquinas e equipamentos chineses no mercado brasileiro, que começa a destruir a estrutura industrial do País. Basta ver que o deficit comercial do setor, de US$ 15,7 bilhões em 2010, deve dobrar e atingir US$ 30 bilhões até o fim do ano. E, se em 2004 as indústrias nacionais do setor dominavam 60% do faturamento do mercado, hoje já são minoritárias e detêm 40%.

A China é hoje o principal destino das exportações brasileiras de minério de ferro, soja e petróleo. Ou seja, commodities/CF. Por isso, é fundamental que a China venha também a comprar produtos industrializados, aumentando o valor agregado de sua pauta. No entanto, o país asiático enfrenta obstáculos que são levantados pela própria estrutura do Brasil hoje: diferenças cambiais, alta carga tributária e infraestrutura precária que encarecem sobremaneira produtos brasileiros.

Portanto, se o atual governo, em seu início de trabalho, não aproveitar este momento para fazer a tão reivindicada reforma tributária, com o apoio do Congresso Nacional, o Brasil continuará a crescer, é verdade, podendo chegar neste ano a um PIB de US$ 2,4 trilhões, mas estará condenado a se tornar exportador de produtos de baixa competitividade.

Ora, esse é justamente o caminho inverso percorrido pela China desde a década de 1980. E que a está levando a assumir-se como uma das maiores economias do planeta. Se o Brasil segue na direção contrária, é claro que o futuro se afigura preocupante. De qualquer forma, se a China tem os seus objetivos, o Brasil tem interesses a preservar. E não pode ficar refém de outro país.

 

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional, diretor do Sindicomis e da ACTC.

 




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