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Diferente dos outros
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
22/08/2010 | 07:44
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A atriz norte-americana Julianne Moore nasceu com cabelo cor de fogo e a pele cheia de pintinhas. Por isso, na infância, ganhou o apelido de morango sardento. Na época, não gostou. Tinha vergonha da aparência. Mas, agora que é adulta, resolveu transformar a história em livro infantil.

Em Morango Sardento (Cosac Naify, 40 págs., R$ 45), ela conta que fazia de tudo para se livrar das sardas - manchinhas que normalmente aparecem no rosto. Tentou retirá-las com esfregão durante o banho, passou suco de limão (muito perigoso, pois mancha a pele em contato com o sol) e até se rabiscou toda com canetinha. Quando cresceu, percebeu que era bobagem, descobriu sua beleza e passou a não se importar mais.

Yasmin Martins Tangerino, 9 anos, de Santo André, nunca pensou como Julianne. Na família dela, há mais dois ruivos, o irmão e o avô. "Algumas pessoas perguntam que tinta uso no cabelo. Acho que a cor dele está em extinção", brinca.

Amiga de Yasmin no colégio Pueri Domus, Gabriela Pasku de Souza, 9, também não liga para as sardas. Só gostaria mesmo de ser menos branquinha para poder tomar mais sol. "Tenho de passar sempre muito protetor. Não gosto muito."

São poucos - Os ruivos são minoria. Correspondem a 1% da população do planeta, cerca de 60 milhões. A Escócia e a Irlanda são os países com o maior número, onde cerca de 10% dos habitantes têm cabelo vermelho. Tanto que no folclore irlandês, o personagem leprechaun é representado como anãozinho ruivo.

A bisavó de Nicolle Carbonari, 13, de Santo André, era ruiva, mas os pais e a irmã não. Ela conta que nunca teve apelido por causa da cor dos cabelos. E apesar de muita gente elogiar seu visual, confessa que às vezes enjoa por não poder mudá-lo. "Mas é legal porque é diferente. Chama a atenção."

Felipe Barbosa do Nascimento, 6, de São Bernardo, reforça a fama de que ruivos são sapecas. "Gosto das sardas, minha mãe também tem. Todos falam que meu cabelo é bonito."

Marina curte a cor do cabelo
A atriz Marina Ruy Barbosa, 15 anos, nunca ligou para o fato de ter cabelo vermelho nem para as brincadeiras de mau gosto e apelidos, como o de arroto de Fanta Laranja. "Desde pequena, gosto de ser ruiva. Na escola, todos implicavam comigo. Sofri muita pressão dos colegas. Diziam que era feia, que meu cabelo era horrível, que eu era muito branca, mas não me importava", conta a garota que interpreta Vanessa, na novela Escrito nas Estrelas.

Marina diz que não conhece nenhum ruivo na família, apenas a avó era muito branquinha. Com a pele, aliás, ela toma muito cuidado. "Até na sala de aula, uso protetor para não me queimar, como a dermatologista recomenda", diz.

No início da carreira, imaginava que seria difícil conseguir trabalho na telinha, principalmente por não ter muitos atores ruivos que pudessem fazer papéis de pais dela. Mas, que nada. Na novela Sete Pecados, Giovanna Antonelli até pintou o cabelo de cor parecida para interpretar a mãe da personagem de Marina.

Para quem é ruivo e não curte, a atriz manda um recado: "É lindo ser ruivo. É diferente e especial! Tem de se valorizar, afinal, se você não se acha bonito, quem vai achar?".

Por que o ruivo é ruivo?
A cor do cabelo, dos olhos e até a estatura são heranças genéticas. Isso significa que determinadas características aparecem no filho se os pais as transmitiram pelos genes (códigos que compõem o DNA, espécie de receita de cada ser vivo, com todas as informações de como cada um será) no momento em que o bebê se forma. É isso também o que acontece com os ruivos.

Mas por que muitos deles não têm pai e mãe com cabelo vermelho também? Porque a pessoa precisa ter grande quantidade de genes com essa característica, para que ela se manifeste no filho. Como é transmitida de uma geração para outra, a cada uma que passa, os genes ruivos vão se acumulando até atingir a quantidade suficiente para aparecer em algum deles. E isso pode demorar bastante tempo para acontecer.

Em geral, todo ruivo tem um parente com cabelos vermelhos, mesmo que bem distante e nem o conheça. Aliás, a característica é mais comum em europeus. Por isso, os descendentes desse povo têm mais chances de apresentá-la.

Pré-histórico - Um grupo de cientistas estudou fósseis dos Neandertais (parentes do homem moderno, que viveram na Europa e parte da Ásia entre 230 mil e 30 mil anos atrás) e descobriu que pelo menos parte deles possivelmente teve pele clara e cabelos avermelhados.

Antes da conclusão, os especialistas já suspeitavam que a espécie tivesse ruivos. Acredita-se que pele clara foi uma adaptação do organismo para que o corpo continuasse a produzir vitamina D em regiões frias. A substância depende do contato do sol para ser fabricada. Assim, quem é branquinho absorve mais radiação solar.

Pele não fica bronzeada
Os ruivos têm pele bem branquinha, pois produzem um tipo de melanina (substância que dá cor à pele e aos pelos) diferente do das outras pessoas. Essa substância é mais clara e não protege o corpo da radiação solar tão bem quanto a que está presente no organismo da maioria da população.

Por isso, ruivos não se bronzeiam, ficam apenas vermelhos, e têm facilidade para se queimarem ao sol. Foi o que aconteceu uma vez com Felipe Barbosa do Nascimento, 6, do Colégio Integrado Americano, de São Bernardo. "Doeu muito", afirma. Agora, ele não esquece de passar protetor no corpo, principalmente quando está na piscina ou na praia.

Mesmo lambuzado de protetor, não é bom abusar. Deve-se tomar sol apenas das 8h às 10h e após as 16h. As sardas são pintinhas benignas, mas indicam que a pele é bastante sensível. Quanto maior a exposição à luz solar, mais escuras podem ficar.

Reino animal também tem seus vermelhinhos
Desde o nascimento, o orangotango apresenta pelagem ruiva. O tom pode variar, mas geralmente assemelha-se à tonalidade do cabelo humano. É característica da espécie e não há explicação científica para isso. Esse bicho vive em florestas da Indonésia e Malásia e está ameaçado de extinção devido à destruição do habitat.

O panda-vermelho também integra a lista dos animais com pelos avermelhados. Raro, é encontrado na China e próximo às montanhas do Himalaia. Apesar do nome e da semelhança, não é parente do urso, mas único representante da família Ailuridae.

Entre os ruivinhos da fauna brasileira está o lobo-guará, que no Brasil pode ser visto na região Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste. O bicho nasce com pelagem preta para não chamar atenção e enganar os predadores. Em poucos meses, o filhote começa a ficar avermelhado.

O mico-leão-dourado não tem a mesma coloração do orangotango; os pelos variam do dourado (como o próprio nome diz) ao avermelhado. Esse macaquinho vive apenas na Mata Atlântica do Rio de Janeiro.

Consultoria de Daniela Taniguchi, professora de dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC, do geneticista Marco Antônio Ramos, da Unifesp, e do biólogo Guilherme Domenichelli




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