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Roth brilha no polêmico 'Chronic', de Michel Franco
28/10/2015 | 09:00
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Chronic, de Michel Franco, joga com título ambivalente. Pode referir-se à crônica como forma de relato ou a doenças crônicas, de longa duração. É destas que se ocupa o cuidador David, interpretado por Tim Roth. Ele age de maneira meticulosa e dedicada, de modo a aliviar ao máximo seus pacientes, seja um arquiteto atingido por um grave AVC, seja uma idosa que se descobre portadora de câncer incurável. O próprio personagem tem em seu passado um drama semelhante, quando seu filho foi precocemente vítima de uma doença terminal. Algo ocorreu em sua vida, que o fez separar-se da mulher e deixar de ver a outra filha por muitos anos.

Tal é o quadro geral, por assim dizer, desse filme que concorreu em Cannes e sofreu forte oposição da influente revista Cahiers du Cinéma. De acordo com os Cahiers, Franco e outros diretores seriam discípulos de Michael Haneke (dupla Palma de Ouro com A Fita Branca e Amor) e seu pseudo-humanismo. A pretexto de propor enredos humanitários, que livrariam as pessoas de sofrimentos, tais diretores, sempre segundo os Cahiers, expressariam, pelo contrário, um inconfundível horror ao ser humano.

São discussões ideológicas, nas quais fica difícil decidir quem tem razão, pois dificilmente temos acesso às intenções mais íntimas de um artista. Inútil perguntar-lhes. Podemos apenas deduzi-las da estrutura da obra. E, a meu ver, nada em Chronic indica algum impulso sádico ou antissocial de Franco. Pelo contrário. O ambíguo personagem de Roth parece, de fato, movido pela intenção de minorar sofrimentos de gente sem qualquer esperança de cura. Comporta-se, às vezes, como um amigo tão íntimo e dedicado que sua ação pode ser interpretada de maneira maliciosa, como ocorre com um dos seus casos.

O ponto alto, sem dúvida, é a atuação límpida de Roth, revelando-se ator de muitos recursos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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