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Banco estrangeiro puxa expansão em venda de NPL no País
25/10/2015 | 10:00
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A ausência de estrutura dedicada para recuperar crédito, a elevada exposição ao País e o crescimento da inadimplência estão fazendo com que os bancos estrangeiros liderem o movimento de venda de carteiras de crédito por essas instituições neste ano, afirmou o diretor do Deutsche Bank, Luiz Fabiano Saragiotto. Segundo ele, esse movimento envolvendo os créditos não performados, também conhecidos como Non Performing Loans (NPL, na sigla em inglês), é percebido na mesa de negociação de carteiras do bancos e não se refere à condição do próprio banco.

"Os bancos internacionais que têm exposição no Brasil não têm estrutura local para recuperação de crédito durante períodos de reestruturação de empresas. Isso acaba tirando o foco das equipes locais e tem sido o incentivo dos bancos internacionais para se desfazerem desses créditos", afirmou o diretor do Deutsche, durante o VII Congresso TMA Brasil de Reestruturação e Recuperação de Empresas. Saragiotto destacou que os estrangeiros, além do reconhecimento em seu balanço da exposição ao crédito em si, têm de provisionar a exposição ao crédito soberano, diferentemente dos bancos locais, o que também incentiva a venda de carteiras.

Mas o movimento não é exclusivo das instituições de fora do País, estendendo-se também aos grandes bancos locais que já estudam colocar lotes maiores de carteira de crédito à venda. De acordo com levantamento apresentado pela PwC no evento, o volume de transações com carteiras de crédito não performadas deve quase dobrar este ano em relação a 2014, para R$ 28,125 bilhões, considerando o valor de face dos créditos. Até agora, foi realizada a venda de R$ 12,295 bilhões em carteiras pelo valor de face, por meio de 14 transações.

Historicamente, os bancos brasileiros têm poucos incentivos para a venda de carteiras, dado que são bem capitalizados e têm retornos elevados. Mas profissionais desse mercado observam que a crise tende a mudar as práticas das instituições locais.

"No Brasil, o mercado tem quase certeza de que a recessão vai continuar em 2016 e, nesse caso, além da deterioração no valor dos créditos não performados com o passar do tempo, há a deterioração dos atuais créditos e a entrada de novos devedores nas carteiras dos bancos.

Portanto, a tendência é de aumentar os créditos não performados, o que deveria ser um motivador aos bancos em antecipação de suas vendas", comentou Carlos Abadi, presidente e CEO da Abadi &Co Go Global Markets. Saragiotto, do Deutsche, observou a ausência de carteiras com valores de desconto entre 20% a 60% do valor de face, notando que as instituições ou vendem carteiras com desconto abaixo de 20% ou acima de 80%. Segundo ele, os estrangeiros, por conta das dificuldades citadas, já começam a vender carteiras com desconto menor, na faixa entre 20% a 60%.

Para o diretor-gerente do Bank of America Merrill Lynch, André Suguita, outro motivo para a falta de apetite à venda de carteiras dos grandes bancos está na possibilidade de escalonamento das provisões dos bancos, conforme previsto na regra de provisionamento do Banco Central. "As diferenças na classificação de provisionamento variam em até 40%, enquanto sabemos que os bancos têm praticamente os mesmos créditos", disse.

"Ainda, a incompatibilidade da classificação de créditos em relação a marcação à mercado dos preços da dívida desses credores no mercado secundário, como de bônus de dívida, também provoca um desincentivo à venda das carteiras", acrescentou.

Sobre esse último ponto, Abadi ponderou que essa diferença entre a classificação dos créditos não performados no provisionamento dos bancos e de preço de mercado está no fato de que são dívidas distintas. "O crédito bancário normalmente está atrelado a garantias", lembrou.




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