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Chargistas israelenses e palestinos estão de acordo sobre Maomé
Da AFP
07/02/2006 | 14:38
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Baha, Omayya e Amos, chargistas da imprensa nos territórios palestinos e em Israel, dizem que podem debochar de tudo, mas, por diferentes razões, deixam Maomé de fora de suas sátiras.

Baha Bujari, de 62 anos, chargista do jornal palestino Al-Ayyam, afirma que "nunca se referiu à religião". "A nenhuma religião. Há extremistas entre os muçulmanos, os cristãos e os judeus e não podemos provocá-los".

Em seu estúdio em Rammallah, Bujari cria as tirinhas de seu famoso personagem, Abu Al Abed, que simboliza o povo palestino.

"É preciso destacar que, de um ponto de vista estritamente artístico, os desenhos dinamarqueses são muito ruins. Não merecem toda essa repercussão", acrescentou.

"Em relação ao Islã já vi coisas piores. Há interesses políticos por trás disso tudo. As manifestações são organizadas. Muito pouca gente no Oriente Médio viu realmente os desenhos. Os que estão saindo à ruas em Damasco, Teerã ou Beirute são gente simples. Eles ouvem as pregações e saem às ruas para protestar. Isso é muito ruim", afirma.

Em Gaza, Omayya Joha, 33, tem uma visão muito mais militante de sua arte. Esta desenhista do jornal Al Hayat Al Jadida é a viúva de um membro do braço armado do movimento islamita Hamas, morto pelo exército israelense.

Na edição de segunda-feira, a Dinamarca aparece representada pela cabeça de um diabo branco e vermelho, com uma serpente no lugar da língua. Alguns dias antes, foi representada pela cabeça do primeiro-ministro dinamarquês amassada por um pé verde gigantesco com a inscrição "Mundo Islâmico".

Omayya Joha é famosa por suas representações dos israelenses, no limite do anti-semitismo.

"Não aceito os ataques contra as embaixadas. Nosso profeta proíbe isso. Mas espero que a Dinamarca se desculpe ante os muçulmanos do mundo inteiro e que tudo isso acabe logo", afirmou.

"Estamos muito enfurecidos com a Dinamarca: já fiz seis charges para mostrar isso. Combato à minha maneira pelo meu profeta e minha religião. Não ataco os judeus porque são judeus, seu profeta é o irmão de nosso profeta Maomé, e sim porque matam nosso povo e porque roubam nossa terra".

O israelense Amos Biderman, do jornal Haaretz, também evita desenhar Maomé, não porque considera um tabu, mas porque tem medo.

"Tenho filhos, devo proteger minha vida e a de minha família", explica. "Como podem constatar, essa gente tem muito pouco senso de humor. Lembra do Salman Rushdie? Do Theo van Gogh? Os muçulmanos são capazes de queimar a metade do planeta por causa de um desenho idiota", acrescenta.

"As charges eram medíocres, mas não é esse o problema. Jamais ousaria desenhar Maomé. Simplesmente porque tenho medo. Já desenhei Jesus falando na cruz, quando lançaram o filme do Mel Gibson, e não houve problema algum", acrescenta.

Em sua opinião, a imprensa árabe fica indignada quando lhe convém e publica regularmente desenhos anti-semitas sem que ninguém reaja fora de Israel. Para ilustrar seu ponto de vista, na edição de segunda-feira publicou o desenho de um redator-chefe de um jornal imaginário chamado "Al Jumuriya".

O personagem tem na mão o desenho de um rabino com o nariz adunco, sentado num monte de dólares, com a bandeira israelense na mão e com o chapéu com a cruz suástica. Dirigindo-se ao autor, lhe diz: "Excelente teu desenho, Ahmed".




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