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Outplacement é palavra de ordem em tempos difíceis
Wagner Belmonte
Especial para o Diário
04/11/2000 | 20:23
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Imagine que chegou o seu dia. Por uma dessas coisas que acontecem na economia globalizada de um país em processo de desenvolvimento, você acaba de perder o emprego. O responsável pela demissao, alegando reduçao de pessoal ou qualquer outra variaçao que atenue o constrangimento, informa-lhe que, além da assistência médica e do seguro de vida prorrogados por mais seis meses, a empresa estará lhe oferecendo também, no pacote de benefícios em plena rescisao do contrato de trabalho, o outplacement. Mesmo que você nao saiba o que é, aceite imediatamente enquanto se informa.

O outplacement é um processo que garante àquele que vai ser demitido a recolocaçao no mercado de trabalho, ou seja, a empresa contrata uma consultoria especializada em recursos humanos para, ao demitir, assegurar-lhe, imediatamente, o apoio para a busca de um novo emprego.

Esse serviço surgiu em 1806, na Inglaterra. A pioneira é uma empresa que hoje, quase 200 anos depois, tem nesta atividade o carro-chefe de seus serviços, a Couts, uma consultoria internacional especializada em recursos humanos à qual a Manager, a líder de mercado no Brasil, é associada. "Muitos ingleses seguiam para a India e outras colônias, onde trabalhavam na construçao de estradas de ferro e atividades ligadas diretamente ao desenvolvimento local", conta Ricardo de Almeida Prado Xavier, presidente da Manager. Segundo ele, ao voltar para a Inglaterra, de oito a dez anos em média depois, eles já estavam desambientados com a transformaçao no mercado de trabalho.

Na década de 50 foi registrado o primeiro case de outplacement na América. O cancelamento do Projeto Apolo, causado pelo corte de verba por parte do governo norte-americano, criou a necessidade se redirecionar os profissionais altamente capacitados que estavam em Houston. "Surgiram iniciativas e alternativas para oferecer profissionais para os fornecedores, mesmo num mercado restrito", relatou Hélio Terra, diretor superintendente de Outplacement da Manager.

Expansao - As multinacionais implementaram nas filiais o outplacement, criando a cultura empresarial do benefício. No fim da década de 70, as empresas brasileiras reconheceram a eficácia do serviço, mas hesitaram em adotá-lo. "Era muito difícil explicar e difundir o conceito no mercado nacional", afirmou o presidente da Manager. Segundo Xavier, havia resistência e a aceitaçao foi crescendo de forma lenta.

Hoje, a realidade é bem diferente e promissora para os consultores especializados em recursos humanos. "Os sindicatos sempre pleiteiam a recolocaçao profissional quando sao informados de programas de demissao e cortes", diz Xavier. O outplacement nao é oferecido apenas a executivos e funcionários de alta gerência.

Uma outra modalidade de serviço que tem atenuado as conseqüências do desemprego é o Programa de Transiçao Profissional. Por meio dele, um grupo determinado de funcionários consegue sua recolocaçao no mercado de trabalho ou até mesmo descobre uma nova vocaçao profissional. "É fundamental estar atento às transformaçoes do mercado de trabalho e requalificar o funcionário, mesmo aqueles que desenvolvem as tarefas mais elementares", declarou Xavier. Para ele, uma grande indústria alimentícia pode requalificar empregados para colocá-los no setor de serviços, trabalhando, por exemplo, em um hotel. "É muito importante que o perfil do profissional seja analisado nesta etapa", finalizou. Aqueles que nao tiverem identidade com o setor de serviços seguem para outras áreas de indústrias ou até para fornecedores.

As cidades do Grande ABC estao aprimorando a nova vocaçao econômica da regiao, que prevê menos indústrias e mais serviços, seguindo os passos de toda a regiao metropolitana. Identificar a linha de atividade é importante para que a mao-de-obra esteja ajustada às transformaçoes sociais. A regiao de Campinas e o Vale do Paraíba sao exemplos desse ajuste. "Lá, podemos dizer que está surgindo o Vale do Silício brasileiro", disse Terra. Empresas de alta tecnologia encontraram na regiao tudo o que precisavam para o ambiente de seus negócios.

No Grande ABC, segundo a Manager, a procura por outplacement é bastante grande e vem crescendo ano a ano. Mesmo com o êxodo de algumas indústrias, a economia estará baseada em, lentamente, mesclar os fornecedores de autopeças e produtos químicos, ou seja, os braços da indústria pesada, com o crescimento do setor de serviços. "É preciso dar aos metalúrgicos de uma linha de montagem a oportunidade de migrar para um outro setor", complementou.




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