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Brasileiro gasta mais com Web e TV do que com arroz e feijão
Do Diário OnLine
Com Agências
08/01/2004 | 19:19
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A Pesquisa de Orçamento Familiar 2002/2003, divulgada nesta quinta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que o brasileiro está gastando mais com TV por assinatura e Internet do que com arroz e feijão. O grupo Serviços Diversos, que reúne gastos em Internet e TV, ampliou sua participação no orçamento doméstico de 0,60% para 1,69% nos últimos dois anos, índice superior ao de arroz e feijão. A base de comparação é da pesquisa de 1999/2000.

”Na realidade, houve uma reestruturação no orçamento doméstico. Todos os grupos de despesas ficaram com as mesmas distribuições, sem sobrepor os demais. Habitação continuou a pesar mais no orçamento, seguido por Alimentação e assim por diante, mas com a perda do poder aquisitivo das famílias, verificou-se uma reestruturação do orçamento. O que se gastava, por exemplo, em automóvel novo, automóvel usado e combustível, passou-se a gastar mais em tarifas públicas, como telefone, luz e gás”, explicou o economista André Braz, coordenador dos índices de preços ao consumidor da FGV.

O grupo Despesas Diversas teve o maior crescimento relativo quando comparado aos demais. Seu peso no orçamento passou de 3,46%, em 1999/2000, para 4,44% em 2002/2003, um aumento de 28,32%. Dos sete itens deste grupo, quatro apresentaram crescimento: além dos serviços diversos, cresceram os gastos com bebidas alcoólicas e fumo.

O grupo Educação, Leitura e Recreação sofreu pequena redução. Sua ponderação passou de 9,23%, em 1999/2000, para 8,74%, em 2002/2003, uma redução de 5,31%. Educação foi o único subitem que avançou, absorvendo maior parcela do orçamento doméstico. Leitura e Recreação registraram queda em suas ponderações.

O grupo Alimentação teve sua participação nas despesas familiares aumentada de 25,12% para 27,49%, um acréscimo de 2,37 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior.

Segundo Braz, isso ocorreu em função do aumento dos gastos de produtos essenciais na cesta de consumo, como óleo de soja e farinha de trigo, que são matérias básicas para a fabricação de outros produtos. “Isso fez com que as pessoas passassem a gastar um pouco mais com alimentos, em função da desvalorização cambial registrada em 2002”, explicou.

Braz destacou, contudo, que esse é um efeito conjuntural e não estrutural. Daí a expectativa ser de mudança a partir de 2004. “À medida que os preços desses produtos forem se alinhando novamente, essas ponderações também serão corrigidas. A tendência é de que elas diminuam ao longo do tempo”.

Por sua vez, a participação do grupo Habitação praticamente não se alterou na estrutura do orçamento doméstico. Seu peso passou de 31,15%, em 1999/2000, para 31,84%, em 2002/2003, revelando uma alta de 2,22%.

Embora o grupo tenha conservado sua participação na despesa total, sua composição se alterou significativamente, destacando-se o aumento nas tarifas públicas. Este aumento está ligado a fortes reajustes de preços no período de comparação: 136,01% para eletricidade, 220,62% para gás de cozinha e 75,35% para telefone residencial.

O grupo Vestuário também não apresentou grandes alterações: seu peso passou de 5,08% para 5,40%, uma alta de 6,30%. Apesar da relativa manutenção do peso entre as duas pesquisas, na atual o grupo Vestuário passou a conter o item roupas infantis.

O grupo Saúde e Cuidados Pessoais sofreu uma redução de 13,8% em seu peso, que passou de 12,02% em 1999/2000, para 10,36%, em 2002/2003. Apesar dos gastos com saúde serem relativamente estáticos, esta redução pode ser em parte explicada pela perda de poder aquisitivo da população, principalmente entre 2002 e 2003.

Há outro fator que pode ter contribuído para uma diminuição de despesa sem redução de consumo. Entre 1999 e 2003, o preço médio dos medicamentos subiu 41,75%, enquanto a inflação medida pelo IPC foi de 52,27%.

O grupo Transportes foi o que revelou a maior redução de peso nos gastos domésticos. Seu peso no orçamento das famílias passou de 13,95% para 11,72%, revelando uma diminuição de aproximadamente 16%. Dos sete itens componentes do grupo, apenas Transporte Público Urbano apresentou forte evolução em seu peso, fato que pode ser explicado não apenas pela crescente cobertura do serviço como também pela alta de seu preço, de 102,88% entre as duas pesquisas.

A pesquisa foi realizada com 5 mil famílias com renda de até 33 salários mínimos mensais, em 11 e no Distrito Federal, entre setembro de 2002 e junho de 2003. O levantamento serve de base para o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A próxima pesquisa está prevista para 2008/2009, a menos que seja diagnosticada uma forte mudança nos hábitos de consumo da sociedade que justifique a antecipação.




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