Ainda há tempo para embarcar na minissérie Capitu que vai ao ar até sábado na Globo, por volta das 23h. Pelo que se viu no capítulo de estréia, a viagem parece valer a pena.
O diretor-geral Luiz Fernando Carvalho volta com outra explosão criativa na segunda adaptação, ou melhor seria, apresentação de uma obra literária para a televisão. Como o nome indica, o projeto Quadrante prevê mais duas.
Sai o texto elíptico, por vezes ininteligível, do pernambucano Ariano Suassuna, entra a escrita visionária, que anuncia o modernismo de Machado de Assis.
Se A Pedra do Reino espantou a audiência há grande chance disso não se repetir. Luiz Fernando Carvalho, que coordena uma afinada equipe de artistas e assina o texto final, permanece iconoclasta, mas foi conduzido por Dom Casmurro à urbanidade.
O cinismo de Machado o levou ao humor e lhe impôs a contemporaneidade. Os atores surgem vestidos para o final do século 19 conversando no metrô. Panorâmicas de um Rio Pinheiros e suas marginais imundas ganham trilha sonora que vai do rock ao clássico.
Um narrador acorda o telespectador a todo momento e anuncia um novo assunto. A estética teve de lidar com as conhecidas digressões machadianas.
Luiz Fernando Carvalho pretende "revelar facetas" do País com suas belas apresentações de obras fundamentais de nossa literatura. Ao se apropriar da prosa ele devolve poesia visual, sempre com sua peculiar teatralidade.
A cena que resume o descobrimento do amor adulto entre Bentinho e Capitu é exemplo. Em um cenário desenhado sobre uma enorme lousa os atores conversam como se estivessem descompromissadamente encostados no muro de casa. Claramente (o truque aqui é não recorrer a truques), a câmera mostra os futuros marido e mulher deitados lado a lado.
Nos próximos capítulos, ao custo de R$ 1 milhão cada, Capitu terá de apresentar momentos bem definidos do romance Dom Casmurro, como a passagem de Bentinho pelo seminário, o casamento, o filho e, claro, a tão falada suspeita de traição.
No projeto Quadrante estão previstas as produções de microsséries baseadas em Dois Irmãos, do amazonense Miltom Hatoum, e de Dançar Tango em Porto Alegre, do gaúcho Sérgio Faraco.
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