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Para entender o Brasil quando Império
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
14/09/2002 | 19:18
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  Não é fácil editar uma obra que seja ao mesmo tempo fonte indispensável de consulta para pesquisadores e professores de história e áreas afins e também obra atraente para o leitor curioso, interessado em conhecer mais de perto instituições, episódios, personagens e processos do século em que o Brasil se tornou independente, instituiu um regime monárquico e viu definhar a escravidão, herança dos tempos coloniais, até sua total extinção em 1888.

Assim é o Dicionário do Brasil Imperial – 1822-1889 (Objetiva, 750 págs., R$ 68). De um lado ele discute em profundidade conceitos como Liberalismo e, de outro, permite conhecer melhor Louis Couty, figura que ficou reduzida, pela história oficial, à famosa frase “O Brasil não tem povo” (veja trecho do verbete). Ou é corretamente apresentado a Antonio Bento, também chamado de Preto Cosme do Maranhão, um dos raros escravos alfabetizados, que reuniu em áreas rurais daquele Estado um contingente de 3 mil em 1839, estabeleceu-se na Fazenda Brejo Amarelo e chegou a instalar uma escola de primeiras letras.

Preto Cosme chegou a autoproclamar-se “Tutor e Imperador da Liberdade” e tentou fazer aliança com revoltosos da Balaiada, a, digamos, insurreição oficial que ocorreu na região Maranhão/Piauí entre 1838 e 1841. Ele e seu exército de quilombolas foram vencidos – muitos massacrados – pelo Duque de Caxias em 1841. Preso, não se beneficiou da anistia concedida apenas aos que participaram “comprovadamente” da Balaiada, tendo sido enforcado em seguida.

A história de Preto Cosme é apenas uma entre muitas que contribuem para um conhecimento mais preciso do país. E esse é o maior dos méritos do Dicionário realizado por uma equipe de historiadores especializados dirigida por Ronaldo Vainfas, professor da Universidade Federal Fluminense.

Vainfas, considerado um de nossos mais notáveis historiadores, teve êxito justamente onde 99% dos livros que pretendem esgotar seus temas naufragam: manter o interesse para o leitor médio, para o leigo que não é historiador, mas gostaria de saber mais sobre um período chave – um deles – da história do Brasil e que é determinante para um entendimento mais eficaz de alguns dos nossos grandes problemas atuais.

Ao todo, são 406 verbetes concisos que cobrem do grito da independência à abolição da escravatura. A linguagem é clara e rigorosa. Vainfas a chama de “linguagem a meio caminho entre o texto historiográfico e o texto de divulgação, buscando dosar a clareza expositiva com a precisão factual ou conceitual”.

Não se trata de simplesmente empilhar nomes, datas ou perfis biográficos oficialescos, mas de problematizar sempre os dados, com vistas a mostrar outros ângulos do assunto ou personagem, levando em conta as mais recentes pesquisas. Os verbetes, afirma Vainfas em seu texto introdutório, estão ordenados em quatro categorias. Em primeiro lugar, os conceitos ou estruturas históricas, como Império. Depois, as instituições ligadas ao governo, à religião, à educação, às artes e à cultura oficial. Em terceiro, os eventos, começando com a vinda da Família Real em 1808, marco do processo de emancipação política. Por fim, o que ele chama de “personália variadíssima”, incluindo imperadores e membros destacados da família imperial até personagens só recentemente retirados do anonimato pela pesquisa historiográfica.




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