Economia Titulo
BCP quer crescimento na regiao
Antonio Rogério Cazzali
Da Redaçao
12/08/2000 | 20:38
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  O andreense Carlos Roberto Boschetti assumiu, em março deste ano, o cargo de vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da BCP Telecomunicaçoes, depois de fazer uma carreira de cerca de 20 anos na unidade de Sao Bernardo da Volkswagen, os últimos dez à frente da diretoria de Tecnologia de Informaçao.

Em entrevista concedida ao Diário, Boschetti antecipa planos da companhia de telecomunicaçoes para a regiao - vista com grande potencial de crescimento em funçao do alto poder aquisitivo da populaçao - e conta sobre sua experiência adquirida na montadora, em um período que ele destaca como fantástico, em virtude de ter vivenciado várias situaçoes desafiadoras, como a saída da fábrica do mercado fechado, no início da década de 80, para a competiçao acirrada com os veículos importados nos anos 90.

Boschetti orgulha-se ainda de ter participado da montagem da fábrica de caminhoes e ônibus, em Resende, no Rio de Janeiro, e também da planta de motores em Sao Carlos, interior paulista, ambas inauguradas em 1996. Boschetti explica ainda como a experiência no setor automotivo o está auxiliando em suas atribuiçoes atuais em um segmento totalmente novo para ele. Ele detalhou também como o fator humano e o conceito de globalizaçao conquistados na Volkswagen tornaram-se hoje ferramentas essenciais nesse seu novo desafio que é continuar o processo de expansao da BCP no Brasil, iniciado em 1998.

DIARIO - O que o sr. destacaria de importante nesses 20 anos de Volkswagen?
CARLOS ROBERTO BOSCHETTI - Eu sinto-me privilegiado de ter participado do desenvolvimento de vários produtos da Volkswagen e de também de ter feito meu aperfeiçoamento profissional nos Estados Unidos e Europa. A migraçao do período fechado da economia brasileira para a abertura às exportaçoes também foi muito importante para mim. Além disso, a própria fusao da Volkswagen com a Ford, em 1987, com a criaçao da Autolatina, me fez crescer em meio a um conflito cultural muito grande, pois eu vinha de uma empresa com cultura germânica e passava a experimentar a cultura norte-americana da Ford. Além disso, a disputa interna dentro de uma mesma empresa, no caso a Autolatina, era algo novo e que exigiu muita flexibilidade. Também destaco como significativo todas essas dificuldades do período da Autolatina, principalmente o esforço feito para tentar fazer frente aos carros importados. Eu vinha do período romântico da Volkswagen, quando tínhamos uma posiçao tranqüila, com cerca de 42% do mercado. De repente, nesse casamento com a Ford, e o agravamento causado pela abertura da economia, nos divorciávamos, sete anos depois, com cerca de 33% de participaçao do mercado. Nesse casamento complicado de sete anos, a Fiat foi favorecida, pois aumentou sua participaçao no cenário nacional de aproximadamente 8% para cerca de 26%. Entao, nesses meus 20 anos de Volkswagen, posso dizer que vivi a realidade de quatro empresas distintas. A Volkswagen romântica, sem desafios à vista; a Volkswagen casada com a Ford; a Ford associada à Volks; e, finalmente, no período que considero como o mais glorioso da carreira, quando a Volkswagen teve de se modificar para fazer frente aos veículos importados.

DIARIO - Fale um pouco mais sobre essa fase mais competitiva dentro da Volkswagen e sobre seu papel dentro da montadora.
BOSCHETTI - Foi quando eu passei a fazer parte da estratégia corporativa da companhia, e passei a influenciar no desenvolvimento de novos modelos de veículos. A partir daí, eu passei a ter acesso a novas tecnologias, participando inclusive daquela briga saudável travada entre a General Motors e a Volkswagen, na constituiçao da fábrica modular. Eu passei a integrar o grupo que desenvolveu a fábrica de caminhoes de Resende (RJ), já dentro deste conceito modular. O crescimento pessoal foi muito grande, pois tivemos de pensar em um esquema muito diferente para a época. Eram módulos que formavam kits e esses kits, no fim de cinco outros módulos, formavam o caminhao. Um conceito revolucionário. Isso me ajudou a pensar nas coisas de uma forma diferente. De tentar achar uma soluçao fora do convencional. Outro fato importante em minha carreira foi a construçao da fábrica da Volkswagen na cidade argentina de Pacheco, em 1996, quando entao passamos a produzir o Gol em três plantas distintas. Em Sao Bernardo, Taubaté e Pacheco.

DIARIO - O que o sr. tem a falar sobre esta produçao de um mesmo modelo, em três locais diferentes.
BOSCHETTI - Todo esse processo de relacionamento foi muito interessante. Se nao bastasse conviver com pessoas das fábricas de Sao Bernardo e de Taubaté, além da planta argentina, havia ainda o controle da matriz, que fica na Alemanha. Acabei caindo na aldeia global. E o mais interessante era ter de travar negociaçoes entre diferentes culturas, pois operávamos em diversos países. Você começa a criar padroes para o mundo. Sua cabeça se abre. Foi uma experiência pessoal única. Essa combinaçao entre as várias fábricas, os fornecedores, ora locais, ora daqui do Brasil. Eu diria que essas operaçoes requerem uma engenharia de informaçoes em tempo real. Nesse processo todo, você começa a conviver com as diferenças. O trabalhador argentino, por exemplo, tem uma noçao maior do valor de seu emprego, diferente do trabalhador brasileiro. Em contrapartida, o trabalhador brasileiro assimila mais rápido as mudanças. Toda cultura tem um lado bom e você sempre pode levar o que há de positivo, de uma para a outra, quando está na posiçao que eu ocupava. Com toda essa vivência, acabei me transformando em uma pessoa global, ou seja, uma pessoa que consegue estar em paz em qualquer lugar do planeta. E isso impregnou em mim. Eu hoje tenho de saber o que acontece nos principais focos econômicos do mundo, leio sobre outras culturas, procuro saber sobre pontos turísticos, quero comer a comida dos países que visito, sua história, conversar com as pessoas. Eu sempre digo que para conseguir essas adaptabilidade eu tive de vencer minhas próprias resistências.

DIARIO - E como foi essa sua transferência da Volkswagen para a BCP?
BOSCHETTI - Foi uma coincidência. Eu sempre fui uma pessoa que gostou do novo e sempre lidei com o mundo da tecnologia. Entao, chegou um momento da minha vida que eu comecei a sentir necessidade de mudar. Assim, anunciei na imprensa que estava deixando a Volkswagen e, em seguida, surgiu a proposta da BCP. Como, depois do carro, o mundo virtual foi algo que mais me atraiu, e, somando-se a isso que a BCP é hoje uma das empresas mais bem-sucedidas do mundo, resolvi aceitar. Outro fator que me chamou a atençao foi que a BCP emprega alta tecnologia para suprir duas coisas que o ser humano mais gosta de fazer, que é movimentar-se e se comunicar. Eu até brinco com o pessoal que essa minha troca foi muito simples. Eu tirei as quatro rodas e o auto do automóvel. Restou o móvel. Serviço de telefonia móvel celular. Vir para a BCP foi um desafio. Além disso, achei importante a confiança que a companhia depositou em mim, pois eu vinha de uma empresa automobilística e, mesmo assim, me possibilitou uma posiçao-chave em um segmento até entao desconhecido para mim.

DIARIO - E como têm sido esses meses de adaptaçao?
BOSCHETTI - Estou aqui desde março e, de lá para cá, tenho feito adaptaçoes internas. Eu diria que eu tive de aprender a aprender. Eu só sabia usar o aparelho celular. Veja bem, quando você dá partida em um carro, você vê ele funcionando. Com o celular é bem diferente. Quando faz uma ligaçao você entra em um mundo nao palpável. É mágico. Somando-se a isso há a rapidez das novidades, das novas tecnologias, dos novos aparelhos, das novas bandas, dos novos serviços e tudo praticamente neste universo nao palpável. Entao, o que motivou minha opçao pela BCP foi saber que dentro deste universo tao dinâmico vou poder influenciar a sua utilizaçao no mercado brasileiro. Vou trazer tecnologias e produtos que ficarao aqui. Hoje utilizamos a voz, fundamentalmente a voz. Nao demorará muito para termos no mesmo aparelho o celular, o palmtop e o cartao de crédito. O fato de o celular estar sujeito a essas inovaçoes futuristas me estimula muito.




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