No campus da universidade havia milhares de estudantes reunidos pelo quinto dia consecutivo para exigir democracia.

Protestos -As autoridades islâmicas de Teera tentaram desativar a revolta estudantil que durou vários dias e ameaçou se estender para outros setores da sociedade.

Ao quebrar, esta segunda-feira, o silêncio, ao qualificar de ``inaceitável' a atuaçao da polícia iraniana, o guia supremo aiatolá Ali Khamenei, ``tenta dominar a revolta estudantil', segundo afirmaçoes de Naser Etemadi, porta-voz do Comitê iraniano contra a tortura, uma associaçao cuja sede fica em Paris.

Centenas de pessoas se uniram aos estudantes que enfrentavam, nesta segunda-feira, as forças de ordem nas imediaçoes da Universidade de Teera.

As forças antidistúrbios, auxiliadas por efetivos dos ``bassidji', as milícias voluntárias islâmicas, lançaram granadas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

O governo iraniano confirmou nesta segunda a morte do estudante de teologia, Mohammad Javad Farhangui Bostan-Abadi, que foi atingido por tiros durante um choque com a polícia neste domingo, na cidade de Tabriz (noroeste do país). Nesta segunda, grupos de estudantes lançaram pedras contra as forças antidistúrbios que se dirigiam para o campus da Universidade de Teera disparando granadas de gases lacrimogêneos. Os incidentes ocorreram na ampla avenida de Enghelab (Revoluçao), que fica junto ao campo e que está fechada à circulaçao.

O aiatolá Kamenei tentou apaziguar os ânimos dos manifestantes com um discurso difundido pelos alto-falantes no campus, em que qualificou de ``inaceitável' a intervençao das forças policiais e de elite. ``É preciso castigar os que violam as regras, mesmo que usem uniformes', declarou.

As manifestaçoes estudantis começaram esta quinta-feira contra o fechamento do jornal de esquerda Salam e se acentuaram depois contra a repressao policial. Estas sao as manifestaçoes mais importantes depois da criaçao da república islâmica e tomou maior proporçao ao se estender para as províncias.

Segundo a agência Irna, o aiatolá Mohamad Koeinia, diretor do jornal, será julgado em breve por um tribunal reservado ao clero.

Segundo Etemadi, a intervençao de Khamenei é ``insuficiente' e nao responde à exigência dos manifestantes, que pedem que o chefe da polícia iraniana, o general Hedayat Lotfian, seja demitido.

Para ele, os ultraconservadores estao hoje em posiçao difícil e o presidente moderado, Mahoma Khatami, tampouco está em posiçao favorável porque deve controlar o movimento de protesto e, ao mesmo tempo, responder às suas reivindicaçoes. "O que acontece atualmente mostra o caráter irreformável da república islâmica", disse Etemadi.

Segundo o especialista em Ira e diretor de pesquisas do Centro francês de Pesquisa Científica (CFPC), há no país um forte consenso dentro do clero, aonde todos estao no mesmo barco. "Quando as coisas vao muito mal, os papéis de Khatami e Khamenei consistem em tentar manter a república islâmica evitando os excessos", continuou. "Quanto ao resto", afirmou, "os estudantes nao sao contra o governo, mas favoráveis a este, pois ambos se opoem a um poder judicial que funciona contra a corrente". O especialista disse ainda que os estudantes sao contra os ``apparatchiks' no poder há muito tempo e que haviam sido nomeados antes da chegada de Khatami ao poder.

Hourcade lembrou que as eleiçoes legislativas serao realizadas em fevereiro do ano 2000 e afirmou que os filhos de Khomeini e da revoluçao islâmica manifestam contra os ultraconservadores que tentam bloquear o sistema.