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Empresários extraem lucro de relíquias automobilísticas
Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
31/07/2005 | 08:28
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Carros que marcaram época no país durante décadas movimentam hoje um mercado lucrativo no Grande ABC. Casas especializadas em manutenção, reforma e compra e venda de relíquias crescem a reboque da paixão de colecionadores por raridades, que podem consumir até R$ 120 mil em restauração. Além disso, carros antigos em perfeito estado são sinônimo de faturamento certo para empresas que realizam eventos especiais - casamentos, aniversários, ensaios fotográficos e propagandas. Nesse caso, o preço de aluguel por uma única noite varia de R$ 250 a R$ 2 mil.

Na região, ganhar dinheiro com carros antigos ainda é uma forma de negócio relativamente novo, em comparação com grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. No entanto, na avaliação de especialistas, esse fator coloca o Grande ABC entre as regiões de maior potencial para o setor no país.

O empresário de São Caetano Osvaldo Tosini, por exemplo, proprietário da Polidora Pérola, fabricante de ceras de polimento de pintura, deu para o neto Luís Felipe Tosini, de 20 anos, sete obras-primas da indústria automotiva - três Fords (modelos B 1932, A 1929 e Landau), um Impala 1960, um Cadillac 1993, um Chevrolet 1951 e uma Mercedes-Benz seminova.

"Passei a 'ferrugem' do meu sangue para minhas próximas gerações. Quando comecei a colecionar carros antigos, minha mulher quase largou de mim. Me chamou de louco. Sei que hoje a história é outra, e que parte das minhas relíquias vão ajudar meu neto a fazer a vida dele", diz Tosini.

Com as raridades, Luís Felipe, estudante de administração de empresas, montou recentemente uma empresa especializada em locação de veículos para eventos, em São Caetano, a Luxo Antigo, a mais nova do Grande ABC. "Temos vários casamentos agendados até outubro, prova de que a região comporta novas empresas do ramo. Apesar da concorrência, nosso diferencial está nos modelos exclusivos. Quem é que tem um Ford Luxo 1932?", diz. Os preços de locação variam entre R$ 350 e R$ 700.

Além dos que apostam em locação, há quem vive da arte de transformar carro velho em objeto de desejo. É o caso do ex-comerciante Roberto Paladino, de São Bernardo. Ele passou para o filho a gerência da loja de autopeças para se dedicar exclusivamente à restauração de carros, em especial o Ford Modelo A, anos 1928 a 1932.

Demanda - A ABC Multimarcas, de São Caetano, é outro exemplo de empresa que combinou o hobby de colecionar carros a um negócio lucrativo. A recuperadora de veículos tem 16 anos de estrada, mas despertou para a restauração de carros antigos há três anos. "Sempre fui louco por carros mais velhos. Recentemente, comecei a fazer alguns pequenos serviços para conhecidos, e em carros que eu mesmo comprava. Foi nessa época que notei que havia uma forte demanda pelo serviço. Hoje, recebemos carros de várias partes, embora a maioria dos clientes ainda seja da região", diz Clóvis Luciano Cavalli.

Segundo ele, a oficina chegou a restaurar mais de cinco carros simultaneamente. "Como a minha estrutura é limitada, e não faço serviços exclusivos, tenho que colocar os interessados em uma lista de espera. O agendamento é fundamental para o cumprimento do prazo de entrega", completa Cavalli. Ele afirma que o valor inicial para a recuperação estética e estrutural de um carro antigo em condições deterioradas vai de R$ 6 mil a R$ 7 mil. "Mas o custo é relativo. Pode ficar dez vezes mais caro que isso."

Cavalli afirma que entre os modelos mais procurados para restauração destacam-se Ford Mustang, Maverick, Jeep Willys, Dodge, Kharmann Ghia e Fusca. Geralmente, com mais de 30 anos de uso. "As picapes e os jipes 4x4 também são muito cobiçados na região", completa. "Quem tem esses carros e gosta, de verdade, não mede esforços para deixar o veículo em perfeito estado. Eu, por exemplo, tenho uma Ford F-75 (modelo picape da Ford Rural), ano 1970. Paguei R$ 1,5 mil, mas hoje não vendo por menos de R$ 18 mil. Comprei recentemente um Ford Landau, 1970, e vou fazer o mesmo: reformar e deixar como era há 30 anos."

O sócio de Cavalli, Marcelo Magiani, afirma que a clientela perfeccionista exige o maior nível de originalidade possível. "A maioria quer placa preta, com mais de 80% de peças e características originais. Para isso, tudo tem que estar em condições perfeitas."




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